quarta-feira, 23 de março de 2016

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho - Lc 4,16-21 - 24.03.2016 - O Espírito do Senhor está sobre mim.

Quinta-feira da Semana Santa - Missa do Crisma
Páscoa
Cor: Roxo

Evangelho - Lc 4,16-21

O Espírito do Senhor está sobre mim.

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 4,16-21

Naquele tempo:
16Jesus veio à cidade de Nazaré, onde se tinha criado.
Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado,
e levantou-se para fazer a leitura.
17Deram-lhe o livro do profeta Isaías.
Abrindo o livro,
Jesus achou a passagem em que está escrito:
18'O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque ele me consagrou com a unção
para anunciar a Boa Nova aos pobres;
enviou-me para proclamar a libertação aos cativos
e aos cegos a recuperação da vista;
para libertar os oprimidos
19e para proclamar um ano da graça do Senhor.'
20Depois fechou o livro,
entregou-o ao ajudante, e sentou-se.
Todos os que estavam na sinagoga
tinham os olhos fixos nele.
21Então começou a dizer-lhes:
'Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura
que acabastes de ouvir.'
Palavra da Salvação.
Fonte CNBB


Reflexão - Lc 4,16-21
«Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros»

Hoje lembramos aquela primeira Quinta-feira Santa da história, na qual Jesus Cristo se reúne com os seus discípulos para celebrar a Páscoa. Então inaugurou a nova Páscoa da nova Aliança, na que se oferece em sacrifício pela salvação de todos.

Na Santa Ceia, ao mesmo tempo que a Eucaristia, Cristo institui o sacerdócio ministerial. Mediante este, poderá se perpetuar o sacramento da Eucaristia. O prefácio da Missa Crismal revela-nos o sentido: «Ele escolhe alguns para fazê-los participes de seu ministério santo; para que renovem o sacrifício da redenção, alimentem a teu povo com a tua Palavra e o reconfortem com os teus sacramentos».

E aquela mesma Quinta-feira, Jesus nos dá o mandamento do amor: «Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei» (Jo 13,34). Antes, o amor fundamentava-se na recompensa esperada em troca, ou no cumprimento de uma norma imposta. Agora, o amor cristão fundamenta-se em Cristo. Ele nos ama até dar a vida: essa tem que ser a medida do amor do discípulo, e esse tem que ser o sinal, a característica do reconhecimento cristão.

Mas, o homem não tem a capacidade para amar assim. Não é simplesmente o fruto de um esforço, senão dom de Deus. Afortunadamente, Ele é amor e —ao mesmo tempo— fonte de amor que se nos dá no Pão Eucarístico.

Finalmente, hoje contemplamos o lavatório dos pés. Na atitude de servo, Jesus lava os pés dos Apóstolos, e lhes recomenda que o façam uns aos outros (cf. Jo 13,14).

Há algo mais que uma lição de humildade neste gesto do Mestre. É como uma antecipação, como um símbolo da Paixão, da humilhação total que sofrerá para salvar todos os homens.

O teólogo Romano Guardini diz que «a atitude do pequeno que se inclina ante o grande, ainda não é humildade. É, simplesmente, verdade. O grande que se humilha ante o pequeno, é o verdadeiro humilde». Por isto Jesus Cristo é autenticamente humilde. Ante este Cristo humilde, nossos moldes se quebram. Jesus Cristo inverte os valores humanos e convida-nos a seguí-lo para construir um mundo novo e diferente desde o serviço.
Mons. Josep Àngel SAIZ i Meneses Bispo de Terrassa. 
(Barcelona, Espanha)
© evangeli.net M&M Euroeditors 



“Vós sois os sacerdotes do Senhor, chamados ministros do nosso Deus” (Is 61,6ª).
HOMILIA

Caríssimos irmãos e irmãs:

No dia em que o mestre Jesus reúne os seus apóstolos no cenáculo, em Jerusalém, para realizar a última ceia pascal, celebramos a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. Renovando, nessa ocasião, o compromisso sacerdotal, repercute em nossos corações a responsabilidade daquilo que escutamos do profeta Isaías na primeira leitura: “Vós sois os sacerdotes do Senhor, chamados ministros do nosso Deus”. Ser padre ou diácono permanente é uma graça muito especial em nossa vida. Ninguém é merecedor de tamanha graça, porém, a misericórdia de Deus se manifestou plenamente em nossa indignidade transformando-nos em portadores dos dons de Deus e anunciadores da boa nova da salvação.
Gostaria de recordar, com vocês, algumas ideias, a partir do Presbyterorum Ordinis, especialmente d os dois primeiros capítulos deste importante decreto conciliar: O presbítero na missão da Igreja e o ministério dos presbíteros.
No capítulo primeiro podemos ler: “O fim que visam os presbíteros, por seu ministério e vida, é ocupar-se da glória de Deus Pai em Cristo. Consiste esta glória em aceitarem os homens a obra de Deus, levada à perfeição por Cristo, de maneira consciente, livre e grata, levando-a a irradiar-se em toda a sua vida. Assim os presbíteros ao se dedicarem à oração e à adoração, ao pregarem a palavra, ao oferecerem o Sacrifício Eucarístico e administrarem os demais sacramentos, ao exercerem os diversos ministérios em favor dos homens, contribuem de um lado para aumentar a glória de Deus e por outro para levar os homens a se adiantarem na vida divina” (nº 1146).
Vários pensamentos nos sugerem esse texto, mas, fixemos o nosso olhar apenas nos dois pontos finais: “aumentar a glória de Deus e levar os homens a se adiantarem na vida divina”. Vinculados ao sacerdócio de Jesus Cristo, sumo e eterno sacerdote, somos chamados a proclamar a glória de Deus como Ele o fez em vários momentos de sua vida pública. Por ocasião da ressurreição de seu amigo Lázaro, Jesus afirma à sua irmã Marta: “Se creres, verás a glória de Deus” (Jo 11,40). Portanto, para ver a glória de Deus e, sobretudo, proclamá-la é necessário crer. Crendo é preciso testemunhar não só por palavras mas também por atos. Precisamos ter a humildade de reconhecer que, nem sempre convencemos pela maneira como exercemos o nosso ministério. Em muitas ocasiões falta vida, convicção e entusiasmo. No início do relato da ressurreição de Lázaro, quando Jesus toma conhecimento da sua enfermidade, assegura: “Esta enfermidade tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus” (Jo 11,4). Perguntamos: Será que, de fato, estamos glorificando o Filho de Deus pela maneira como exercemos o nosso ministério? É questionamento que deveríamos fazer sempre, para provocar as mudanças necessárias à nossa vida de consagrados e vocacionados para a santidade.
Por outro lado, “levar os homens a se adiantarem na vida divina” é motivá-los a permanecer em Deus. “Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muitos frutos; porque sem mim nada podeis fazer” (jo 15,5). Seguir Jesus é permanecer n’Ele e com Ele. Aos poucos vamos percebendo a ação da Graça em nós. “Deus se tornou homem para que pudéssemos nos tornar deuses” afirma Santo Atanásio. A encarnação de Deus é o fundamento da fé cristã. Cristo é o “Logos de Deus” que se faz homem. O seguimento de Jesus exige, de nossa parte, um contínuo arrependimento e reconciliação, consigo mesmo, com o outro e simultaneamente com o próprio Deus misericordioso.
No que diz respeito ao cap. II: “O ministério dos presbíteros”, entendo como diretrizes de ação pastoral e projeto pessoal de vida, o que está indicado no nº 1157: “Embora sejam devedores de todos, os presbíteros todavia aceitam como confiados a si de modo particular os pobres e mais humildes, aos quais o próprio Senhor se associou e cuja evangelização é dada como sinal da obra messiânica. Com desvelo igualmente peculiar hão de ocupar-se dos mais jovens e além disso dos esposos e pais”.
A Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano de Medellin, primeira após o encerramento do Vaticano II, proclamou, com clareza, a “opção preferencial pelos pobres” (nº 14). É certo que a ideia da “Igreja dos pobres” já tinha ressoado, de modo pertinente, na voz do papa que convocou o concílio. O famoso cardeal conciliar Lercaro gostaria de por todo o concílio sob esse pensamento profético do papa João XXIII, mas não foi ouvido, pelo menos de imediato. É o que fez o padre Gustavo Gutiérrez dizer: “Os pobres bateram à porta do Concílio, mas não foram atendidos”. Da ideia de uma Igreja de todos, mas especialmente dos pobres o que se destacou nos documentos conciliares é o que está escrito na Constituição Dogmática “Lumen Gentium” sobre a Igreja. “Assim como Cristo consumou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir o mesmo caminho, a fim de comunicar aos homens os frutos da salvação. Cristo Jesus “como subsistisse na condição de Deus, despojou-se a si mesmo, tomando a condição de servo” (Fil 2,6) e por nossa causa “fez-se pobre embora fosse rico” (2Cor 8,9): da mesma maneira a Igreja, embora necessite dos bens humanos para executar sua missão, não foi instituída para buscar a glória terrestre, mas para proclamar, também pelo seu próprio exemplo, a humildade e a abnegação. Cristo foi enviado pelo Pai para “evangelizar os pobres, sanar os contritos de coração” (Lc 4,18), “procurar e salvar o que estava perdido”. Semelhantemente, a Igreja cerca de amor todos os afligidos pela fraqueza humana, reconhece mesmo nos pobres e sofredores a imagem de seu Fundador pobre e sofredor. Faz o possível para mitigar-lhes a pobreza e neles procura servir o Cristo” (LG 8b). Estas sábias palavras foram suficientes para motivar a Igreja a assumir corajosamente o exemplo de Jesus, sobretudo, nas regiões mais empobrecidas do planeta, onde estes filhos e filhas, amados de Deus, são descriminados e injustiçados.
Nesta linha do compromisso com os pobres, no Presbiterorum Ordinis, encontramos a seguinte recomendação: “os presbíteros são convidados a abraçar a pobreza voluntária, que tornará mais evidente sua semelhança com Cristo e os fará mais disponíveis para o sagrado ministério. Pois Cristo, por nossa causa se fez pobre sendo rico, a fim de nos enriquecer por sua pobreza. Também os Apóstolos atestaram pelo seu exemplo que o dom gratuito de Deus deve ser dado de graça, sabendo viver na abundância e na penúria. Mesmo assim, algum uso comunitário das coisas, à imitação da comunhão de bens que mereceu destaque na história da Igreja primitiva, abriria do melhor modo o caminho para a caridade pastoral. Por tal forma de vida, os presbíteros poderiam levar honrosamente à prática o espírito de pobreza recomendado por Cristo” (nº 1201). O Cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, nosso primeiro papa jesuíta, ao assumir o ministério petrino, apresentou-se com o nome de Francisco, o pobre de Assis. Suas primeiras palavras e gestos vêm confirmando seu desejo de uma Igreja despojada, servidora e humilde. O mundo está encantado com a simplicidade do primeiro papa latino-americano que tem se apresentado como bispo de Roma.
O texto ainda lembra “os jovens e a família” (esposos e pais). Os jovens têm merecido especial atenção da Igreja nos últimos anos. No Brasil, de maneira especial, a partir de 2007 com a aprovação do documento 85 da CNBB “Evangelização da Juventude”, Neste ano de 2013 terá impulso ainda maior com a realização da Jornada Mundial da Juventude, sobretudo, com a presença carismática do papa Francisco. Igualmente a família, tem crescido a partir da criação da “Comissão Episcopal de Pastoral para a Vida e a Família”, no âmbito nacional e diocesano.
O texto do Apocalipse que escutamos na segunda leitura, recorda-nos que Deus fez de todos nós um novo e definitivo povo sacerdotal. O conceito de sacerdócio implica no de consagração, cujo sinal exterior é a unção com o óleo santo. Por isso a Igreja continua a consagrar o óleo que servirá para assinalar a fronte dos seus filhos e filhas. Conforme a tradição, nesta Missa iremos consagrar o Santo Crisma para significar o dom do Espírito Santo no Batismo, na Confirmação e na Ordem. Abençoaremos também o óleo para os Catecúmenos e Enfermos, sinais da força que liberta do mal e sustenta na provação da doença. Estes santos óleos, distribuídos para toda a arquidiocese será sinal de unidade e fonte de bênçãos, para todos os que com ele forem ungidos.
Acompanhemos com atenção e piedade esse rito, após a renovação das promessas sacerdotais que faremos agora.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife

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