Pai,
ajuda-me a superar
os esquemas mundanos
que rompem a fraternidade
e me reduzem aos esquemas do pecado,
impedindo que eu me faça
servidor do meu próximo.
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Roxo. Quinta-feira da Semana Santa - Missa do Crisma Páscoa
Evangelho - Lc 4,16-21
O Espírito do Senhor está sobre mim.
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas
4,16-21
Naquele tempo:
16Jesus veio à cidade de Nazaré, onde se tinha criado.
Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado,
e levantou-se para fazer a leitura.
17Deram-lhe o livro do profeta Isaías.
Abrindo o livro,
Jesus achou a passagem em que está escrito:
18'O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque ele me consagrou com a unção
para anunciar a Boa Nova aos pobres;
enviou-me para proclamar a libertação aos cativos
e aos cegos a recuperação da vista;
para libertar os oprimidos
19e para proclamar um ano da graça do Senhor.'
20Depois fechou o livro,
entregou-o ao ajudante, e sentou-se.
Todos os que estavam na sinagoga
tinham os olhos fixos nele.
21Então começou a dizer-lhes:
'Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura
que acabastes de ouvir.'
Palavra da Salvação.
Fonte CNBB
REFLXÃO
Serviço fruto do amor
Com a celebração da Ceia do Senhor iniciamos o tríduo
pascal. É na última ceia de Jesus com os seus discípulos que, segundo o
evangelho de João, se dá o gesto simbólico do lava-pés que repetimos na
celebração eucarística. Para a literatura joanina, o tema do amor ocupa um
lugar central. Especificamente, para o quarto evangelho, a paixão de Jesus é
expressão do amor de Jesus pelos seus. A salvação é dom desse amor, e como tal
ela precisa ser compreendida e recebida. O mal que domina o coração de Judas é
uma força de sedução que distorce a realidade e atenta contra a vida (v. 2; cf.
Gn 3,1ss). A resistência a permitir que Pedro lavasse os pés de Jesus é por não
reconhecer no servo a figura do Messias. Mais ainda, é pela dificuldade em aceitar
um Messias que tenha de passar pelo sofrimento e pela morte. A resposta de
Jesus a Pedro afirma que a salvação é dom gratuito e, como tal, precisa ser
recebida, e o gesto simbólico deve se traduzir como atitude permanente na vida
do discípulo. Ser discípulo é ser servidor ao modo de Jesus. O gesto do
lava-pés condensa toda a vida de Jesus, que “não veio para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20,28).
Fonte Carlos Alberto Contieri,
sj – Paulinas
HOMILIA
“O Espírito do Senhor
me ungiu para anunciar a boa-nova aos pobres”
O evangelho para a liturgia deste domingo inicia com o
prólogo da obra de Lucas (1,1-4). Sua intenção fundamental é apresentar a
prática de Jesus como fato histórico testemunhado por seus seguidores e suas
seguidoras. O destinatário é “Teófilo”, o que significa “amigo de Deus”.
Teófilo é toda a pessoa ou comunidade que vier a ler e a viver este evangelho,
tornando-se sempre mais amigo e amiga de Deus. Portanto, hoje, “Teófilo” somos
nós.
Movido pelo Espírito de Deus...
Na sequência, o evangelho deste domingo apresenta um resumo
da prática de Jesus de Nazaré (Lucas 4,14-15). Ele vivia em meio a seu povo,
participando de sua vida de fé. Ensinava nas sinagogas da Galileia, na
periferia da Palestina. Toda sua missão é movida pelo dinamismo do Espírito
(Lucas 3,22; 4,1.14.18). Para as comunidades de Lucas, a ação de Jesus é
inseparável do Espírito profético, o Espírito de Deus. Convém que tenhamos
presente que a força do Espírito do Senhor também conduziu João Batista e
Maria, Isabel e Zacarias, Simeão e Ana (Lucas 1,15.35.41.67; 2,25-27.36).
Apresentando a missão de Jesus dinamizada pela força do
Espírito, a comunidade lucana nos desafia a que também nós abramos nosso
coração ao Espírito Santo e nos coloquemos a seu serviço, a serviço da
libertação de todas as formas de opressão, promovendo a vida.
... para libertar os pobres...
A narrativa a respeito da leitura de trechos do profeta
Isaías feita por Jesus na sinagoga de Nazaré (Lucas 4,16-21) insere-se numa
narrativa mais ampla, pois, na sequência, Lucas descreve a reação diante do
anúncio desse evangelho (boa-nova) aos pobres. Uns aprovam. Outros têm dúvidas
(Lucas 4,22-23). E há quem rejeita o projeto de salvação para os mais
desamparados (Lucas 4,23-30). O que não é possível é ficar indiferente. A
boa-nova para uns é uma má notícia para quem deseja continuar vivendo à custa
dos pobres. Essa é a razão por que se enfureceram, o expulsaram e queriam
precipitá-lo do cimo da colina (Lucas 4,28-29). Como ontem, ainda hoje se
repete a mesma situação. Qualquer liderança que assume a promoção dos mais
pobres, de modo que possam ter pelo menos três refeições por dia e viver com dignidade,
continua sendo caluniada e perseguida. E isso não somente pela mídia
comprometida com o poder econômico, mas também por políticos e até por setores
de igrejas e tribunais. Não é por acaso que Jesus vê motivo de alegria para as
pessoas perseguidas por lutarem pela justiça (Mt 5,10-12).
Em Lucas 4,16-21, temos a apresentação do programa de Jesus
num dia de sábado na sinagoga de Nazaré, sua terra natal. É o projeto do
reinado Deus. Na sinagoga, era costume rezar alguns Salmos, ler e comentar um
trecho de algum livro da lei (Pentateuco) e outro de algum livro profético.
Jesus escolhe três fragmentos do livro de Isaías para anunciar o coração do
projeto de Deus.
“O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu para
anunciar a boa-nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos
presos (Isaías 61,1) e, aos cegos, a recuperação da vista (Isaías 35,5); para
dar liberdade aos oprimidos (Isaías 58,6) e proclamar um ano de graça do
Senhor” (Isaías 61,2).
Essa missão libertadora vem do Deus da vida, pois é
conferida a Jesus pelo próprio Espírito do Senhor, por quem já fora ungido como
o messias por ocasião do seu batismo (Lucas 3,22).
A missão do messias é de esperança de vida digna, certamente
para todas as pessoas, mas especialmente para quem está excluído da cidadania.
Em quatro afirmações, Jesus faz memória da profecia de Isaías para descrever em
que consiste a sua missão de “anunciar uma boa-nova aos pobres”.
Primeiro, “anunciar uma boa-nova aos pobres” é “proclamar a
libertação aos presos”. Por um lado, é a libertação de quem sobrevive em
condições subumanas nos presídios, onde a grande maioria está em consequência
dessa sociedade desigual, injusta e de exclusão. E, no tempo de Jesus, a
maioria das pessoas que se encontrava na prisão eram presos políticos que
resistiam contra a opressão e a violência do império romano. Por outro lado, a
proposta de Jesus é libertar-nos de todas as formas de prisão, de tudo aquilo
que nos impede de sermos nós mesmos, de sermos livres, sem deixar-nos guiar pelo
egoísmo, por vícios, pelo individualismo, pela ganância, pelo consumismo, pela
ambição, etc. Senhor, liberta-nos de tudo o que nos aprisiona e impede de
sermos radicalmente livres.
Em segundo lugar, “anunciar uma boa-nova aos pobres” é levar
“aos cegos a recuperação da vista”. É, sim, curar a cegueira física, mas é
muito mais. É também curar a nossa ‘cegueira’ quando não enxergamos a realidade
por estarmos com a visão embaciada ou com ‘viseiras’ que impedem vermos a
realidade em toda a sua amplitude. É curar a nossa ‘cegueira’ quando não vemos
com nossos próprios olhos, não pensamos com nossa própria mente, não escutamos
com nossos próprios ouvidos e, por isso mesmo, não dizemos nossa própria
palavra, mas reproduzimos as ideias do pensamento dominante na sociedade.
Senhor, recupera as nossas vistas.
Dá-nos forças para alcançarmos clareza em nossas mentes e corações, a fim de
ampliar o nosso discernimento conduzido por teu Espírito.
Em terceiro lugar, “anunciar uma boa-nova aos pobres” também
é “dar liberdade aos oprimidos”, seja diante da opressão social, mental,
econômica, psicológica, política, afetiva ou religiosa. Senhor, que teu amor
mova nossos desejos, possibilitando-nos a graça de sermos pessoas próximas,
solidárias com quem vive na opressão.
Por fim, “anunciar uma boa-nova aos pobres” é “proclamar um
ano de graça do Senhor”. Anunciar o ano de graça do Senhor é proclamar o ano
jubilar que fazia parte da tradição do Antigo Israel. Nos livros do
Deuteronômio e do Levítico fala-se desse jubileu. Primeiro, era uma reforma
feita a cada sete anos (Deuteronômio 15,1-18). Mais tarde, passou para cada 50
anos (Levítico 25,8-55). Era o ano do perdão das dívidas que, muitas vezes,
levavam à perda da terra, das casas e da própria liberdade. Por isso, ao anunciar
o ano jubilar, além do perdão das dívidas, o Espírito do Senhor move Jesus para
anunciar vida plena, o que também inclui terra para quem está sem terra,
moradia para quem está sem teto e liberdade para quem sofre trabalho escravo.
... ontem e hoje
No passado, o Espírito animava a profecia na proclamação da
boa-nova da libertação para os pobres (Isaías 61,1). Fiel à missão que o
Espírito lhe confiara no batismo (Lucas 3,22), Jesus atualiza essa profecia,
igualmente movido pela força do Espírito (Lucas 4,18). É por isso que diz:
“Hoje, se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura” (Lucas 4,21).
No nosso batismo, também somos ungidos pelo mesmo Espírito
Santo e assumimos o mesmo programa de Jesus. Por isso, podemos dizer com ele
que, em nós, “hoje, se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura”.
Que a graça de Deus nos ajude a colocar-nos no mesmo caminho da profecia, no
caminho do Espírito do Senhor.
Fonte Ildo Bohn Gass é autor
de “Quatro Retratos do Apóstolo Paulo” -
PNV 262 CEBI
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