Vermelho. 4ª-feira da 15ª Semana Tempo Comum
Bv. Inácio de Azevedo Presb. e Comps.
Evangelho - Mt 11,25-27
Escondeste estas coisas aos sábios e entendidos
e as revelaste aos pequeninos.
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São
Mateus 11,25-27
25Naquele tempo, Jesus pôs-se a dizer:
'Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos
e as revelaste aos pequeninos.
26Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.
27Tudo me foi entregue por meu Pai,
e ninguém conhece o Filho, senão o Pai,
e ninguém conhece o Pai, senão o Filho
e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Palavra da Salvação.
Vermelho. 4ª-feira da 15ª Semana Tempo Comum
Bv. Inácio de Azevedo Presb. e Comps.
Reflexão - Mt 11,
25-27
O conhecimento de Deus é diferente de todas as outras formas
de conhecimento das quais o ser humano é capaz. De fato, temos diversas formas
de conhecimento, como o racional, o científico, o vulgar e o mitológico, entre
outros, que encontram a sua origem na nossa relação com as coisas e as pessoas
que conhecemos e que se tornam de alguma forma objeto do nosso conhecimento.
Com Deus, a coisa é diferente. A mente humana é incapaz de, por si só, chegar
até o conhecimento de Deus. Só conhecemos a Deus porque, no seu infinito amor,
ele revelou-se a todos nós. É o amor de Deus que, sabendo que somos incapazes
de chegar até ele, vem até nós.
DEUS SE REVELA AOS
SIMPLES Mt 11,25-27
HOMILIA
Nos versículos anteriores ao texto que nos é hoje proposto,
Jesus havia dirigido uma veemente crítica aos habitantes de algumas cidades
situadas à volta do lago de Tiberíades, porque foram testemunhas da sua
proposta de salvação e mantiveram-se indiferentes. Estavam demasiado cheios de
si próprios, instalados nas suas certezas, calcificados nos seus preconceitos e
não aceitavam questionar-se, a fim de abrir o coração à novidade de Deus.
Agora, Jesus manifesta-se convicto de que essa proposta
rejeitada pelos habitantes das cidades do lago, encontrará acolhimento entre os
pobres e marginalizados, desiludidos com a religião “oficial” e que anseiam
pela libertação que Deus tem para lhes oferecer.
Hoje estamos diante de duas “sentenças” que, provavelmente,
foram pronunciados em ambientes diversos deste que Mateus nos apresenta.
A primeira sentença é uma oração de louvor que Jesus dirige
ao Pai, porque Ele escondeu estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelou
aos pequeninos. Os “sábios e inteligentes” são certamente esses “fariseus” e
“doutores da Lei”, que absolutizavam a Lei, que se consideravam justos e dignos
de salvação porque cumpriam escrupulosamente a Lei, que não estavam dispostos a
deixar pôr em causa esse sistema religioso em que se tinham instalado e que –
na sua perspectiva – lhes garantia automaticamente a salvação. Os “pequeninos”
são os discípulos, os primeiros a responder positivamente à oferta do “Reino”;
e são também esses pobres e marginalizados, ou seja, os doentes, os publicanos,
as mulheres de má vida, o “povo da terra” que Jesus encontrava todos os dias
pelos caminhos da Galiléia, considerados malditos pela Lei, mas que acolhiam,
com alegria e entusiasmo, a proposta libertadora de Jesus.
A segunda sentença relaciona-se com a anterior e explica o
que é que foi escondido aos “sábios e inteligentes” e revelado aos
“pequeninos”. Trata-se, duma “experiência profunda e íntima” de Deus. Os
“sábios e inteligentes” estavam convencidos de que o conhecimento da Lei lhes
dava o conhecimento de Deus. A Lei era uma espécie de “linha direta” para Deus,
através da qual eles ficavam a conhecer Deus, a sua vontade, os seus projetos
para o mundo a para os homens; por isso, apresentavam-se como detentores da
verdade, representantes legítimos de Deus, capazes de interpretar a vontade e
os planos divinos.
Jesus deixa claro que quem quiser fazer uma experiência
profunda e íntima de Deus tem de aceitar Jesus e segui-lO. Ele é “o Filho” e só
Ele tem uma experiência profunda de intimidade e de comunhão com o Pai. Quem
rejeitar Jesus não poderá “conhecer” Deus: quando muito, encontrará imagens
distorcidas de Deus e aplica-las-á depois para julgar o mundo e os homens. Mas
quem aceitar Jesus e O seguir, aprenderá a viver em comunhão com Deus, na
obediência total aos seus projetos e na aceitação incondicional dos seus
planos.
Na verdade, os critérios de Deus são bem estranhos, vistos
de cá de baixo, com as lentes do mundo. Nós, homens, admiramos e incensamos os
sábios, os inteligentes, os intelectuais, os ricos, os poderosos, os bonitos e
queremos que sejam eles a dirigir o mundo, a fazer as leis que nos governam, a
ditar a moda ou as idéias, a definir o que é correto ou não é correto. Mas Deus
diz que as coisas essenciais são muito mais depressa percebidas pelos
“pequeninos”: são eles que estão sempre disponíveis para acolher Deus e os seus
valores e para arriscar nos desafios do “Reino”. Quantas vezes os pobres, os
pequenos, os humildes são ridicularizados, tratados como incapazes, pelos
nossos “iluminados” fazedores de opinião, que tudo sabem e que procuram impor
ao mundo e aos outros as suas visões pessoais e os seus pseudo-valores. A
Palavra de Deus ensina: a sabedoria e a inteligência não garantem a posse da
verdade; o que garante a posse da verdade é ter um coração aberto a Deus e às
suas propostas.
Como é que chegamos a Deus? Como percebemos o seu “rosto”?
Como fazemos uma experiência íntima e profunda de Deus? É através da Filosofia?
É através de um discurso racional coerente? É passando todo o tempo disponível
na igreja a mudar as toalhas dos altares? O Evangelho responde: “conhecemos”
Deus através de Jesus. Jesus é “o Filho” que “conhece” o Pai; só quem segue
Jesus e procura viver como Ele pode chegar à comunhão com o Pai. Há católicos
que, por serem Padres como eu, por terem feito catequese, por irem à missa ao
domingo e por fazerem parte do conselho pastoral da paróquia, acham que
conhecem Deus. Atenção: só “conhece” Deus quem é simples e humilde e está
disposto a seguir Jesus no caminho da entrega a Deus e da doação da vida aos
homens. É no seguimento de Jesus – e só aí – que nos tornamos “filhos” de Deus.
Padre Bantu Mendonça Katchipwi Sayla
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