Liturgia DiáriaDIA
20 – DOMINGO
PÁSCOA: RESSURREIÇÃO DO SENHOR
(branco, glória, sequência, creio, prefácio da Páscoa I – 1ª semana do saltério)
Ressuscitei e sempre estou contigo, aleluia; pousaste tua mão sobre mim, aleluia; admirável é tua sabedoria, aleluia, aleluia (Sl 138,18.5s).
Com júbilo transcendente, celebramos a alvorada em que a Luz venceu a sombra e o Espírito se fez eterno. Este é o instante em que o tempo se curva ao Infinito e a consciência reconhece sua origem celeste. Aquele que andou entre os homens, semeando o Bem, rompeu os grilhões da matéria e revelou que nenhum poder terreno detém o sopro da Verdade. Que o banquete sagrado nutra em nós a centelha da razão livre e do coração desperto, para que, conscientes de nossa dignidade, sejamos testemunhas vivas da Vida que transcende toda dominação e se manifesta em pura escolha.
Evangelium secundum Ioannem 20,1-9
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Una autem sabbati, Maria Magdalene venit mane, cum adhuc tenebrae essent, ad monumentum: et vidit lapidem sublatum a monumento.
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de madrugada, enquanto ainda estava escuro, e viu que a pedra fora retirada do túmulo. -
Currit ergo, et venit ad Simonem Petrum, et ad alium discipulum, quem amabat Iesus, et dicit eis: Tulerunt Dominum de monumento, et nescimus ubi posuerunt eum.
Correu então e foi até Simão Pedro e até o outro discípulo, a quem Jesus amava, e lhes disse: Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram. -
Exiit ergo Petrus, et ille alius discipulus, et venerunt ad monumentum.
Saiu então Pedro e o outro discípulo, e foram ao túmulo. -
Currebant autem duo simul, et ille alius discipulus praecurrit citius Petro, et venit primus ad monumentum.
Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. -
Et cum se inclinasset, vidit posita linteamina: non tamen introivit.
E, inclinando-se, viu os lençóis de linho colocados ali, mas não entrou. -
Venit ergo Simon Petrus sequens eum, et introivit in monumentum, et vidit linteamina posita,
Chegou então Simão Pedro, que o seguia, entrou no túmulo e viu os lençóis colocados ali, -
et sudarium, quod fuerat super caput eius, non cum linteaminibus positum, sed separatim involutum in unum locum.
e o sudário que estivera sobre a cabeça dele, não posto com os lençóis, mas enrolado à parte, em um lugar separado. -
Tunc ergo introivit et ille discipulus qui venerat primus ad monumentum: et vidit, et credidit:
Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao túmulo: viu e creu. -
Nondum enim sciebant Scripturam, quia oportebat eum a mortuis resurgere.
Pois ainda não compreendiam a Escritura: que era necessário que ele ressuscitasse dos mortos.
Reflexão:
O túmulo vazio não é ausência, mas transbordamento de uma presença que se libertou dos limites. Aquilo que era considerado o fim, revelou-se início: não de um mundo imposto, mas de um mundo escolhido. A Ressurreição é a revelação do ser em sua mais alta liberdade — uma energia que atravessa o tempo e abre caminho ao progresso interior de cada indivíduo. O Cristo, ao vencer a morte, afirma a dignidade do espírito humano em sua capacidade de ascender. A cada um é dada a possibilidade de reconhecer esse chamado, não por coerção, mas por adesão voluntária à luz que se levanta dentro.
Frase mais importante:
Tunc ergo introivit et ille discipulus qui venerat primus ad monumentum: et vidit, et credidit.
Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao túmulo: viu e creu. (Jo 20:8)
Essa frase sintetiza o reconhecimento silencioso e profundo do Mistério. O olhar transforma-se em fé — não pela prova absoluta, mas pela intuição de uma Verdade que supera o visível. É o instante em que a liberdade interior acolhe o invisível como real.
HOMILIA
"O Vazio Que Transforma"
Evangelho: João 20,1-9
Maria vai ao túmulo enquanto ainda é noite. O escuro não é apenas o da madrugada, mas o da alma que busca, o da mente que tateia em meio às sombras da incerteza. No entanto, é no silêncio do sepulcro e na ausência do corpo que a primeira luz se revela. O túmulo não contém o fim, mas o início do invisível que se manifesta no íntimo de quem vê e crê.
Pedro corre, o discípulo amado também. Há pressa em encontrar o sentido. E quando o véu da morte é removido, não se encontra um corpo, mas uma ordem: lençóis dispostos, o sudário à parte. Tudo revela que a ausência não é abandono, é passagem. Aquilo que parecia perdido é, na verdade, transfigurado.
A fé que nasce ali não é imposta. Não há voz dos céus, não há anjo em primeiro plano — há apenas o vazio organizado, que só o olhar desperto consegue interpretar. É preciso ver com liberdade interior, com a coragem de aceitar que a vida excede suas formas e que o espírito não se curva ao fim. Crer é um ato de escolha, de expansão, de adesão voluntária a uma presença que convida e não obriga.
A Ressurreição não é somente um evento; é um princípio: tudo o que é tocado pela luz verdadeira tende ao alto. O Cristo não apenas voltou — Ele ascendeu, e com Ele, a possibilidade de cada ser tornar-se mais do que é. O túmulo vazio, portanto, é um portal. Um chamado à consciência, que, mesmo cercada pelo obscuro, é capaz de reconhecer o sentido que pulsa no centro de todas as coisas.
O discípulo viu — e creu. Porque quem vê com o coração liberto do medo e dos apegos, reconhece que a Verdade não se aprisiona, ela se entrega. E ao se entregar, convida-nos a também nos tornarmos livres.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase "Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao túmulo: viu e creu" (Jo 20:8) é um ponto crucial no Evangelho de João, carregada de significados teológicos profundos que transcendem o simples relato de um evento físico.
Primeiro, é importante notar que o "outro discípulo" é tradicionalmente identificado como João, o autor do Evangelho. A narrativa, então, destaca não apenas o movimento físico em direção ao túmulo vazio, mas também o movimento espiritual de reconhecimento e adesão à Verdade.
1. O Movimento Espiritual: "Entrou também"
O verbo "entrar" aqui possui uma profundidade teológica. Não se trata apenas de entrar fisicamente no sepulcro, mas de um movimento interior que exige coragem e disposição para abraçar o mistério. O discípulo entra não apenas no túmulo vazio, mas na compreensão do que o túmulo representa: a superação da morte, a passagem para uma nova realidade espiritual, uma realidade que não pode mais ser limitada pela lógica do mundo físico.
O ato de "entrar" é, portanto, simbólico. Ele representa a adesão à revelação do Mistério. Em termos teológicos, é o momento em que o discípulo se abre ao entendimento mais profundo de Cristo, de Sua Ressurreição, e da promessa que se estende a todos os seres humanos.
2. "Viu" – A Visão Espiritual e o Reconhecimento da Verdade
O verbo "viu" é crucial. Em João, a visão não se limita ao simples ato físico de olhar, mas carrega uma conotação espiritual. Quando o discípulo "vê", ele não apenas observa o vazio do sepulcro, mas entende a profundidade daquele vazio: a Ressurreição de Jesus não é uma ressurreição apenas física, mas uma manifestação da vitória do Espírito sobre as forças da morte e do mal.
"Viu" é, portanto, um ato de iluminação espiritual, uma "visão" que vai além da percepção sensorial. Ao olhar para o sepulcro vazio, o discípulo não vê apenas a ausência do corpo de Cristo, mas reconhece que essa ausência é preenchida pela presença transformadora do Cristo ressuscitado. A verdade do Evangelho se revela, não apenas no túmulo vazio, mas na compreensão do que aquele vazio representa.
3. "E Creu" – A Resposta da Liberdade Humana ao Mistério Divino
A conclusão da frase é talvez a mais profunda teologicamente: "creu". A fé aqui não é apenas uma aceitação passiva de um fato, mas uma resposta ativa e livre à revelação. O discípulo, ao ver o túmulo vazio, faz um salto espiritual — ele escolhe crer. O ato de crer é uma adesão voluntária à verdade que foi percebida no coração e na mente. O evangelista, ao usar "creu", não se refere a uma fé cega, mas a uma fé iluminada pela visão interior, aquela que vem do Espírito.
A fé, então, é apresentada como um movimento de liberdade interior. João, ao crer, está não apenas aceitando um fato, mas também abraçando a visão mais profunda da realidade: a Ressurreição de Cristo não é uma simples volta à vida, mas a inauguração de uma nova era, onde a morte foi vencida e o Reino de Deus se aproxima.
4. Teologicamente, o Vazio Como Plenitude
O túmulo vazio se torna, para o discípulo, um espaço de revelação. A ausência de Cristo no sepulcro não é um sinal de perda, mas de plenitude. Este vazio é um convite a transcendê-lo, a perceber que Cristo, agora, não está limitado a uma forma terrena ou a um espaço físico. Ele se torna presente em um nível mais profundo, no coração daqueles que O reconhecem. O "vazio" do sepulcro é, portanto, a "plenitude" do novo estado de ser que Cristo inaugura com Sua Ressurreição.
A fé do discípulo é a adesão à verdade de que Cristo, embora ausente fisicamente, está mais presente do que nunca, de maneira espiritual e universal. O túmulo vazio não é a ausência de Cristo, mas o sinal da Sua presença renovada e mais profunda, acessível a todos que O buscam com um coração aberto e disposto a crer.
5. Conclusão: A Fé que Transcende a Razão Humana
A frase "viu e creu" sintetiza o movimento da alma humana diante do Mistério. O discípulo vê, não com os olhos do corpo, mas com os olhos da fé. Ele percebe a profundidade do Mistério Divino e, ao perceber, responde com fé. Este momento é teologicamente importante, pois revela como a fé não é algo imposto, mas uma resposta livre e consciente à revelação de Deus. A fé nasce do encontro com o vazio que é, paradoxalmente, a plenitude de Deus.
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