Liturgia Diária
3 – SÁBADO
TEMPO DO NATAL ANTES DA EPIFANIA
(branco – ofício do dia)
“Liturgia da Palavra, Evangelho do dia e reflexões espirituais profundas para fortalecer a fé e a vida diária, usando a Biblia Sacra juxta Vulgatam Clementinam”
Biblia Sacra – Vulgata Clementina
Cum autem venit plenitudo temporis, misit Deus Filium suum, factum ex muliere, factum sub lege,
ut eos, qui sub lege erant, redimeret, ut adoptionem filiorum reciperemus.
(Gal 4,4–5)
Quando a plenitude do tempo se abriu como um limiar,
Deus enviou o seu Filho,
nascido do seio da mulher,
assumido sob a Lei do mundo,
para libertar os que viviam sob o peso da Lei
e conduzi-los à graça mais alta:
que recebêssemos, não por mérito,
mas por amor,
a adoção como filhos.
Ecce Agnus Dei — Evangelium secundum Ioannem 1,29–34
29 Altera die vidit Ioannes Iesum venientem ad se et ait
Ecce Agnus Dei, ecce qui tollit peccatum mundi.
No dia seguinte, João viu Jesus aproximar-se e disse
Eis o Cordeiro de Deus, aquele que remove o pecado do mundo.
30 Hic est de quo dixi
Post me venit vir, qui ante me factus est
quia prior me erat.
É dele que eu disse
Depois de mim vem um homem que passou à minha frente
porque existia antes de mim.
31 Et ego nesciebam eum
sed ut manifestetur in Israel
propterea veni ego in aqua baptizans.
Eu não o conhecia
mas para que fosse revelado a Israel
vim batizando com água.
32 Et testimonium perhibuit Ioannes dicens
Quia vidi Spiritum descendentem quasi columbam de caelo
et mansit super eum.
E João deu testemunho dizendo
Vi o Espírito descer do céu como pomba
e permanecer sobre ele.
33 Et ego nesciebam eum
sed qui misit me baptizare in aqua
ille mihi dixit
Super quem videris Spiritum descendentem et manentem
hic est qui baptizat in Spiritu Sancto.
Eu não o conhecia
mas aquele que me enviou a batizar com água me disse
Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer
esse é quem batiza no Espírito Santo.
34 Et ego vidi
et testimonium perhibui
quia hic est Filius Dei.
Eu vi
e dou testemunho
este é o Filho de Deus.
Verbum Domini
Reflexão:
O olhar que reconhece não se apoia na aparência, mas na permanência.
O testemunho nasce quando o espírito aprende a esperar sem se impor.
Há uma ordem invisível que se revela apenas a quem permanece fiel ao chamado.
Nada precisa ser forçado quando o sentido verdadeiro se manifesta por si.
A firmeza interior não exige ruído, apenas retidão.
Quem vê com clareza aprende a agir sem dispersão.
O essencial não se anuncia pelo excesso, mas pela constância.
Assim, a verdade se confirma no silêncio de quem permanece.
Versículo mais importante:
Ecce Agnus Dei, ecce qui tollit peccatum mundi.
Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que remove o pecado do mundo. (Jo 1,29)
HOMILIA
O Cordeiro que Revela o Caminho Interior
O Evangelho apresenta João como aquele que vê antes de explicar. Seu olhar não procura provar mas reconhecer. Ao apontar o Cordeiro de Deus ele não descreve um conceito mas revela uma presença que atravessa o visível e alcança o centro do ser. O Cordeiro não se impõe pela força nem pelo discurso. Ele se oferece como princípio de reconciliação entre o que o ser humano é e aquilo que é chamado a tornar se.
Quando João afirma que o Espírito permanece sobre Ele revela uma lei profunda da vida interior. Aquilo que desce apenas como visita não transforma. O que permanece gera forma ordem e direção. A evolução interior nasce dessa permanência silenciosa que educa o coração para a fidelidade ao bem reconhecido. Não se trata de impulso mas de maturação. O Espírito que permanece forma o ser por dentro como o tempo forma a semente no escuro da terra.
O testemunho de João é expressão de uma dignidade que não depende de posição ou reconhecimento externo. Ele sabe quem não é para que o Outro se manifeste. Essa consciência reta preserva a integridade da pessoa e a protege da dispersão. Assim também a família entendida como célula mater da existência humana nasce desse mesmo princípio. Um espaço onde a presença permanece onde o cuidado é constante e onde o amor forma sem violentar.
O Cordeiro que tira o pecado do mundo não age por substituição exterior mas por transformação interior. Ele remove aquilo que desintegra a alma e devolve unidade ao ser. Esse movimento gera uma responsabilidade silenciosa. Quem reconhece passa a viver segundo o que viu. A vida então deixa de ser reação e torna se resposta consciente ao chamado que habita o mais íntimo.
João vê e testemunha. Não retém para si o que lhe foi mostrado. A maturidade espiritual conduz a esse ponto onde a verdade reconhecida pede coerência. O caminho revelado no Jordão continua em cada interior que aceita ser purificado não pela negação do mundo mas pela retificação do olhar. Assim o Filho de Deus continua a ser reconhecido onde o Espírito encontra lugar para permanecer.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Eis o Cordeiro de Deus
Eis aquele que remove o pecado do mundo
João 1,29
Reconhecimento que antecede o discurso
A palavra de João nasce de um ver interior que antecede qualquer elaboração racional. Ao dizer Eis o Cordeiro de Deus ele não constrói uma definição mas indica uma realidade que se impõe por evidência. O reconhecimento verdadeiro surge quando o espírito se torna capaz de perceber a ordem que sustenta o real. Antes de explicar é preciso acolher. Esse acolhimento é um ato profundo do ser que se abre ao que o ultrapassa sem perder sua integridade.
O Cordeiro como princípio de recondução
A imagem do Cordeiro aponta para uma forma de agir que não violenta a estrutura da criação. Ele remove o pecado não por confronto externo mas por restauração interior. O pecado é entendido como desvio de finalidade como ruptura da unidade do ser consigo mesmo e com sua origem. O Cordeiro reconduz ao eixo. Ele devolve direção àquilo que se dispersou e reordena a existência segundo o seu sentido primeiro.
Remover não substituir
O verbo remover indica um movimento de libertação interior sem uso de imposição. Não se trata de transferir uma culpa mas de dissolver aquilo que obscurece a consciência. Quando o desvio é retirado o ser reencontra sua capacidade de aderir ao bem. Esse processo exige consentimento interior e maturidade espiritual. Nada é forçado porque a verdade atua por atração e não por coerção.
A permanência como sinal de autenticidade
No contexto do testemunho de João o que autentica o Filho é a permanência do Espírito. O que permanece forma estrutura e identidade. O que apenas passa não edifica. A vida espiritual cresce quando aprende a permanecer no que é verdadeiro mesmo quando não há sinais exteriores. Essa permanência gera estabilidade interior e prepara o ser para agir com retidão sem depender de impulsos passageiros.
Unidade restaurada e dignidade preservada
Ao remover o pecado o Cordeiro restaura a unidade interior da pessoa. Dessa unidade brota a dignidade que não depende de função ou reconhecimento externo. A pessoa unificada torna se capaz de gerar e sustentar vínculos autênticos. Assim também o núcleo familiar se estabelece como espaço de formação do ser onde a presença constante educa e orienta. A ordem interior precede qualquer ordem exterior.
Conclusão contemplativa
Eis o Cordeiro de Deus não é apenas uma proclamação histórica mas uma chave de leitura da realidade. Onde o ser aceita ser reconduzido à sua origem o desvio perde força e a vida reencontra forma. O testemunho de João continua atual porque aponta para um caminho de clareza interior onde ver precede agir e onde a verdade reconhecida transforma silenciosamente toda a existência.
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