Evangelho (Mc 9,30-37)
7ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira 21/05/13
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 30Jesus e seus discípulos atravessaram a
Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, 31pois estava ensinando a
seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos
homens, e eles o matarão, mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”.
32Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e
tinham medo de perguntar. 33Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus
perguntou-lhes: “Que discutíeis pelo caminho?” 34Eles, porém, ficaram calados,
pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior.
35Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: “Se alguém
quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”
36Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse:
37“Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo.
E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas aquele que me enviou”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
Os grandes no Reino
de Deus
No domingo passado – deveis recordar - Jesus anunciou aos
seus discípulos que ele era um Messias não de glória, mas de humildade e
serviço até à morte de cruz. Ao final, triunfaria pela ressurreição. Pedro
havia se escandalizado com tais palavras. Hoje, Jesus continua sua pregação.
Ele ensinava a sós a seus discípulos: “’O Filho do Homem vai ser entregue nas
mãos dos homens e eles o matarão. Mas, três dias após, ele ressuscitará’. Os
discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar”.
Vede, caríssimos, é a mesma atitude da semana passada. O
ensinamento do Senhor tem como seu centro o Reino de Deus que viria pela sua
cruz e ressurreição. Entrar no Reino é tomar com Jesus a cruz e com ele chegar
à glória! Estejamos atentos: este não é apenas mais um dos muitos ensinamentos
de Cristo; este é o ensinamento por excelência, a mensagem central que o Senhor
veio nos revelar e mostrar com sua palavra, suas atitudes e sua própria vida.
Repito: eis o que Jesus ensina: que o caminho do Reino passa pela cruz, passa
pela morte e chega à plenitude da vida na ressurreição. Observai que ele ensina
isso de modo insistente e prepara particularmente os discípulos para esse
caminho... E, no entanto, os discípulos não compreendem a linguagem de Jesus,
não compreendem sua missão, seu caminho! Esperavam um messias glorioso, cheio
de poder, que resolvesse todos os problemas e reafirmasse orgulhosamente a
glória terrena de Israel... Um messias na linha da teologia da prosperidade do
Edir Macedo e do RR Soares. Nada mais distante de Cristo que esse tipo de
coisa! Observai que, enquanto Jesus caminha adiante ensinando isso, os
discípulos, seguindo-o com os pés, próximos fisicamente, estão com o coração
muito longe do Senhor. No caminho, vão discutindo sobre quem deles era o maior!
Jesus fala da humilhação e do serviço até à cruz; seus discípulos, nós, falamos
de quem é o primeiro, o maior... Que perigo, caríssimos, pensarmos que somos
cristãos, que seguimos Jesus, e estarmos com o coração bem longe do Mestre
amado!
Temos nós essa tentação também? Certamente! A linguagem da
cruz continua difícil, dura, inaceitável para nós. É claro que não
teoricamente: persignamos-nos com a cruz, beijamos a cruz, trazemo-la pendurada
ao pescoço, veneramos a cruz... Mas, o caminho da cruz se faz na vida, não na
teoria! Essa cruz de Cristo está presente nas dificuldades, no convite à
renúncia de nossa vontade para fazer a vontade do Senhor, na aceitação dos
caminhos de Deus, na doença e na morte, nas perdas que a vida nos apresenta,
nos momentos de escuridão, de silêncio do coração e de aparente ausência de
Deus... Todas essas coisas nos põem à prova, como o justo provado da primeira
leitura deste hoje. É a vida, são os acontecimentos, são os outros que nos
provam: “Armemos ciladas aos justos... Vamos pô-lo à prova para ver sua
serenidade e provar a sua paciência; vamos condená-lo à morte vergonhosa,
porque, de acordo com suas palavras, virá alguém em seu socorro”. Jesus passou
por esse caminho, fez essa experiência em total obediência à vontade do Pai. E
nos convida a segui-lo no hoje, no aqui da nossa vida. Nossa tentação é a dos
primeiros discípulos: um cristianismo fácil, de acordo com a mentalidade do
mundo atual; um cristianismo a baixo preço – isso: que não custe o preço da
cruz! Se assim for, como estaremos longe de Jesus, como não o conheceremos! Ele
nos dirá: “Apartai-vos de mim! Não vos conheço!” (Mt 7,23).
Caros irmãos, ouvindo isso, talvez digamos: mas, como
suportar a dureza da cruz? Como amá-la? Não é possível! É que ninguém pode amar
a cruz pela própria cruz, caríssimos. Cristo amou sua cruz e a abraçou por amor
total e absoluto ao Pai, por fidelidade ao Pai. Nós, também, somente poderemos
compreender a linguagem da cruz e somente não nos escandalizaremos com ela se
for por um amor apaixonado pelo Senhor Jesus, para segui-lo em seu caminho,
para estarmos em união com ele. Eis, portanto: é o amor ao Senhor que torna a
cruz aceitável e até desejável! Sem o amor ao Senhor, a cruz é destrutiva, é
louca, e desumana! Com Jesus e por causa de Jesus, a cruz é árvore bendita de
libertação e de vida. É o amor a Jesus que torna doce o que é amargo neste
vida!
O problema é que precisamos redescobrir a experiência tão
bela e doce de amar Jesus. Não se pode ser cristão sem paixão pelo Senhor, sem
um amor sincero entranhado para com ele! Como se consegue isso? Estando com ele
na oração, aprendendo a contemplá-lo no Evangelho, alimentando durante o dia,
dia todo, sua lembrança bendita, procurando a sua graça nos sacramentos,
sobretudo na Eucaristia, lutando pacientemente para vencer os vícios e colocar
a vida, os sentimentos, os instintos e a vontade em sintonia com a vontade do
Senhor Jesus... Sem esses exercícios não há amor, sem amor não há como
compreender a linguagem da cruz e sem tomar a cruz com e por Jesus não há a
mínima possibilidade de ser cristão! Quando vier a crise, largaremos tudo,
trairemos o Senhor e terminaremos por fazer do nosso jeito, salvando a pele e
fugiremos covardemente da cruz...
Então -
pode ser que perguntemos – por que o Senhor quer nos fazer passar pela cruz?
Por que escolheu e determinou um caminho tão difícil? Eis a resposta: porque
somos egoístas, imaturos, quebrados interiormente! O pecado nos desfigurou
profundamente! São Tiago traça um perfil muito realista e muito feio da nossa
realidade: guerras interiores, paixões, disputas, auto-afirmação doentia,
desordens e toda espécie de obras más... Quem tiver a coragem de entrar em si
mesmo, quem for maduro para se olhar de frente verá em si todas essas tendências.
Quantas vontades, quantas guerras interiores! Ora, isso tudo nos fecha para
Deus, nos joga na idolatria do ter, do poder, do prazer, da auto-suficiência de
pensar que somos deuses... É a cruz do Senhor quem nos purifica, nos corrige e
nos liberta de verdade. Não há outro modo, não há outro caminho. Somente
sentimentos, risos, cantorias e boa vontade não nos construiriam, não nos
colocariam de verdade em comunhão com o Senhor no seu caminho. O mistério do
pecado é sério demais, profundo demais para ser tratado com leviandade... “Quem
quiser seu meu discípulo tome a sua cruz e siga-me” – diz o Senhor!
Caríssimos, tenhamos coragem! Na docilidade ao Espírito
Santo que o Senhor nos concedeu, teremos tal união com o Senhor Jesus, que tudo
poderemos e suportaremos. Foi esse o caminho dos santos de Deus de todos os
tempos; é esse o caminho que agora nos cabe caminhar... Que o Senhor no-lo
conceda por sua graça, ele que é Deus com o Pai e o Espírito Santo pelos
séculos dos séculos. Amém.
Dom Henrique
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