quarta-feira, 6 de novembro de 2019

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 20,27-38 ou 27.34-38 - 10.11.2019

Liturgia Diária

Dia 10 – DOMINGO 
32º DO TEMPO COMUM

(verde, glória, creio – 4ª semana do saltério)

Chegue até vós a minha súplica; inclinai vosso ouvido à minha prece (Sl 87,3).

Com os corações unidos no amor e na esperança, celebramos a presença do Senhor em nosso meio. Ele é o Deus da vida e o Pai de cada um de nós, que formamos sua família. Demos-lhe graças por nos permitir viver para ele e por nos dar a certeza da ressurreição em Cristo, a vida em plenitude que todos almejamos e que somos chamados a favorecer, no nosso dia a dia, com ações e palavras.

Evangelho: Lucas 20,27-38 ou 27.34-38

[A forma breve está entre colchetes.]

Aleluia, aleluia, aleluia.

Jesus Cristo é o primogênito dos mortos; / a ele a glória e o domínio para sempre! (Ap 1,5s) – R.

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – [Naquele tempo, 27aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, que negam a ressurreição, 28e o interrogaram]: “Mestre, Moisés deixou-nos escrito: se alguém tiver um irmão casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a viúva a fim de garantir a descendência para o seu irmão. 29Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu sem deixar filhos. 30Também o segundo 31e o terceiro se casaram com a viúva. E assim os sete: todos morreram sem deixar filhos. 32Por fim, morreu também a mulher. 33Na ressurreição, ela será esposa de quem? Todos os sete estiveram casados com ela”. [34Jesus respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, 35mas os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; 36e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. 37Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. 38Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele”. – Palavra da salvação.

Fonte https://www.paulus.com.br/


Reflexão - Evangelho: Lucas 20,27-38 ou 27.34-38
«Ele é Deus não de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele»

Mn. Ramon SÀRRIAS i Ribalta
(Andorra la Vella, Andorra)

Hoje, Jesus faz uma clara afirmação da ressurreição e da vida eterna. Os saduceus duvidavam, ou pior ainda, ridicularizavam a crença da vida eterna depois da morte, que —pelo contrário— era defendida pelos fariseus e também por nós.

A pergunta que fazem os fariseus a Jesus «Na ressurreição, ela será esposa de qual deles? Pois os sete a tiveram por esposa» (Lc 20,33) deixa entrever uma mentalidade jurídica de possessão, uma reivindicação do direito de propriedade sobre uma pessoa. Além disso, tenta enganar a Jesus, isso mostra um equívoco que existe ainda hoje; imaginar a vida eterna como uma prolongação, depois da morte, da existência terrena. O céu consistiria numa transposição das coisas bonitas das quais gozamos.

Uma coisa é crer na vida eterna e outra imaginar-se como será. O mistério que não está rodeado de respeito e discrição, periga ser banalizado pela curiosidade e, finalmente, ridicularizado.

A resposta de Jesus tem duas partes. Na primeira tenta que possam compreender que a instituição do matrimônio não tem ração de ser na outra vida «Os que forem julgados dignos de participar do mundo futuro e da ressurreição dos mortos não se casam» (Lc 20,35). O que si perdura e alcança a sua máxima plenitude é tudo o que tenhamos semeado de amor autêntico, de amizade, de fraternidade, de justiça e verdade...

O segundo momento da resposta deixa-nos duas certezas: «Ele é Deus não de mortos, mas de vivos» (Lc 20,38). Confiar neste Deus quer dizer, dar-nos conta que estamos feitos para a vida. E a vida consiste em estar com Ele constantemente, sempre. Além disso, «Todos vivem para Ele» (Lc 20,38): Deus é a fonte da vida. O crente, imerso em Deus pelo batismo, foi arrancado para sempre do domínio da morte.

«O amor se transforma em uma realidade cumprida se é incluído em um amor que proporcione realmente eternidade». (Bento XVI)

«Os quais negam a ressurreição»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench
(Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, os “inoportunos” saduceus, são ocasião para que Jesus dedique umas belíssimas palavras a uma questão vital: a eternidade. A cena e o assunto conservam plena vigência.

«Aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, os quais negam a ressurreição» (Lc 20,27). Em efeito, não deixa de ser surpreendente que um grupo de gente religiosa —crente em Deus— afirmara que não existe a eternidade. Então, perguntamo-nos, que classe de Deus temos? Ainda mais, que será de nós, se Deus não é eterno?

Evidentemente, não há resposta para uma interrogante tão estúpida como essa. De fato, Jesus respondeu-lhes de forma contundente: «Estais muito errados» (Mc 12,27). E, os surpreendeu, ainda mais, dizendo-lhes «Ele é Deus não de mortos, mas de vivos» (Lc 20,38), como não podia ser de outra maneira.

Por se não fosse pouco errada a conclusão dos saduceus, a argumentação que propõem —a fictícia historieta da mulher que teve por esposos a sete irmãos — supera a ridicularia. Não devemos nos surpreender que agora surjam os “modernos saduceus” que contradizem a voz do Vicário de Cristo esgrimindo argumentos tão falsos como forçados (que se o custo das visitas pastorais do Papa deveria se destinar aos pobres; que se o Papa é o culpável de milhões de mortes...). Nada novo na faz da terra! Só a cegueira da descrença é capaz de tramar tais tolices.

Os saduceus “brincaram” com a eternidade e, o resultado foi que não ficou nem rastro deles. Lógico!: Sem esperança não há vida. Pior ainda: Sem um horizonte de eternidade não se pode amar. Por acaso podemo-nos "apaixonar” por um tempo? Hei aqui a resposta de Bento XVI: «O amor humano é, em si, uma promessa que não se pode cumprir. Deseja eternidade e só pode oferecer finitude. Mas, por outra parte, sabe que essa promessa não é insensata nem contraditória, pois em última instância a eternidade mora nela. Suas autênticas dimensões implicam, em definitiva, a perspectiva futura de Deus, a espera de Deus».

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Creio na ressurreição da carne
HOMILIA

A nossa Ressurreição, como a de Cristo, será obra da Santíssima Trindade (cf. Cat. 989). Logo após a morte do ser humano há o juízo particular (cf. Hb 9,27) e ele experimenta céu (ou purgatório com preparação para o céu) ou inferno em sua alma, não em seu corpo, que fica enterrado e com o tempo chegará à completa putrefação. Contudo, a fé cristã professa que ressuscitaremos com os nossos corpos (cf. 1 Cor 15,12-14.20; Cat. 990). Além disso, a valorização de uma antropologia realista também nos leva a ver a conveniência dessa doutrina: Deus criou o homem inteiro, corpo e alma. Por que negar ao corpo os bens eternos que a alma desfruta?

Em 2 Mac 7,1-2.9-14 se vê claramente a confiança na ressurreição; além disso se pode observar (2 Mac 7,9.14) que há uma ressurreição para a vida (céu) e outra para a morte (inferno). Nos tempos de Cristo havia judeus que acreditavam na ressurreição (fariseus) e outros que não acreditavam (saduceus). No texto de Lc 20,27-38, a questão é a ressurreição. De fato, começa falando do grupo religioso judeu que negava a ressurreição: “alguns saduceus – que negam a ressurreição, aproximaram-se de Jesus” (Lc 20,27).

Ao interpretar a Sagrada Escritura em favor de sua falta de fé na ressurreição, Jesus diz que eles estavam errados (cf. Mc 12,24). Deus que fez o homem do nada pode muito bem ressuscitá-lo a partir daquilo que ele já foi. São Paulo fala de um “corpo espiritual” (1 Cor 15,44): é o mesmo corpo do sujeito em questão, mas transfigurado, em sua máxima vivificação graças ao Espírito Santo.

No século II, Santo Ireneu afirmava que a doutrina da ressurreição dos mortos faz parte da fé apostólica (Adversus haereses, III, 12, 3). Orígenes nos dá notícia de que no século III, a ressurreição dos mortos era ridicularizada pelos os infiéis (Contra Celsum, I, 7). Santo Agostinho, no século V, afirmava que em seu tempo essa doutrina era a que mais recebia oposição.

A objeção é antiga. Porfírio, homem do século II, formulou-a da seguinte maneira: “como ressuscitará um indivíduo que perece no mar e que é comido pelos peixes, cujas partículas ficam dispersas através da cadeia alimentar: os pescadores comem os peixes e os homens são devorados pelos cachorros, e estes são comidos pelas aves?”

Atenágoras de Atenas, apologista cristão do século II, fez eco dessa objeção para depois combatê-la: o poder de Deus pode “distinguir e reunir em suas próprias partes e membros aquele que, despedaçado, foi parar numa multidão de animais de toda espécie, que costumam atacar tais corpos e saciar-se deles, tenham ido parar em só desses animais ou em muitos, e destes em outros e, dissolvido juntamente com eles, tenha voltado, conforme a natural dissolução, aos primeiros princípios. Parece ser isso o que mais perturba alguns, entre aqueles cuja sabedoria é admirável; não sei por que consideram tão grandes as dificuldades correntes entre o vulgo” (Sobre a ressurreição dos mortos, I, 3).

Na segunda parte da supracitada obra, Atenágoras enumera vários argumentos a favor da ressurreição dos mortos:

1º) o homem, todo ele, alma e corpo, foi criado para a vida eterna: “se o Criador de todo este universo fez o homem para participar da vida racional e, feito contemplador de sua magnificência e sabedoria que em tudo brilham, permanecer sempre nessa contemplação, segundo o seu desígnio e conforme a natureza que lhe coube como sorte, a causa da criação nos garante a permanência para sempre e a permanência garante a ressurreição, pois sem ela não seria possível ao homem permanecer para sempre” (II, 13);

2º) o ser humano é alma e corpo, esta é a sua natureza conforme o desígnio de Deus para ele: “agora, como universalmente, toda a natureza consta de alma imortal e de corpo que foi adaptado a essa alma no momento da criação; como Deus não destinou tal criação, tal vida e toda a existência à alma por si só ou ao corpo separadamente, mas aos homens, compostos de alma e corpo, a fim de que pelos mesmos elementos dos quais se geram e vivem, cheguem, terminada a sua vida, a um só e comum termo; como de corpo e alma se formam um só animal que sofre o mesmo que alma e corpo sofrem, que age e realiza tanto o que se refere à vida sensível como ao juízo racional, é inteiramente necessário que todo esse conjunto se refira a um só fim e desse modo, em tudo concorra a uma só harmonia e à mesma união de sentimentos no homem” (II, 15);

3º) o prêmio ou o castigo é para o homem inteiro, corpo e alma unidos: “chamo de composto o homem com seu corpo e alma, e digo que esse é o responsável por todas as suas ações e receberá o prêmio ou castigo por elas. Ora, se um julgamento justo dará sobre o composto a sentença das obras, nem a alma sozinha receberá a recompensa do que realizou junto com o corpo, pois por si ela é insensível aos pecados que possam ser cometidos pelos prazeres, alimentos ou cuidados corporais, nem o corpo sozinho, pois por si mesmo ele é incapaz de discernir a lei e a justiça. Ao contrário, é o homem, composto de alma e corpo, que recebe o julgamento de cada uma das obras por ele feitas” (II, 18);

4º) a felicidade última do homem só é alcançada na eternidade e, dessa maneira, o homem inteiro, corpo e alma, devem estar no céu: “também não pode ser fim do homem a felicidade da alma separada do corpo, pois não se deve considerar a vida ou o fim de um dos elementos de que o homem se compõe, mas a vida e o fim do composto dos dois. Com efeito, assim é todo homem ao qual cabe como sorte a presente existência, e a vida deste é a que deve ter algum fim peculiar. Ora, se o fim deve ser o composto, não é possível encontrar esse fim nem enquanto os homens vivem, pelas causas muitas vezes alegadas, nem a alma separada do corpo, uma vez que tal homem não pode sequer subsistir, pois logo o corpo se desfaz e se dispersa totalmente, embora a alma permaneça por si mesma. Portanto, é absolutamente necessário que o fim do homem apareça em outra constituição do composto e do próprio animal. E se isso acontece necessariamente, é absolutamente necessário que se dê a ressurreição dos corpos mortos e até totalmente dissolvidos e que reconstituam os mesmos homens, mas dos homens mesmos que viveram a vida anterior. Mas não é possível reconstituir os mesmos homens, se não se devolvem os mesmos corpos às mesmas almas, e não é possível que as mesmas almas recebam de outro modo os mesmos corpos, a não ser pela ressurreição” (II, 25).

Como se pode ver, Atenágoras defende a ressurreição apoiando-se constantemente no poder de Deus, por um lado, e na natureza dos homens, por outro. Além disso, defende a identidade do corpo glorioso (após a ressurreição) com o corpo que tínhamos: se não há identidade entre os corpos, não seriamos nós mesmos!

Como corolário, poderíamos afirmar que essa identidade corpórea refuta a doutrina da reencarnação: nós não seríamos nós mesmos se adquiríssemos diversos corpos em sucessivas encarnações. Além disso, porque somente a alma pagaria por atos feitos conjuntamente com o seu corpo? Há na teoria da reencarnação uma falsa antropologia. Ademais, a teoria da reencarnação deixa a salvação nas mãos dos homens e não valoriza suficientemente o mistério pascal de Cristo: ele nos salvou, abriu-nos o céu! O Catecismo da Igreja Católica é categórico: “não voltaremos mais a outras vidas terrestres. “Os homens devem morrer uma só vez” (Hb 9,27). Não existe “reencarnação” depois da morte” (Cat. 1013).

A ressurreição do homem acontece, conforme a fé cristã, segundo o modelo da ressurreição de Cristo. É importante, portanto, considerarmos essa dimensão cristológica da ressurreição de todos os homens que, de alguma maneira, se encontram em Cristo, já que ele assumiu a natureza humana. Contudo, de maneira especial, a cristificação do homem se entende melhor na “ressurreição para a vida”. Afirma um famoso teólogo que a ressurreição dos homens é o desenvolvimento máximo da união do homem com Cristo. Precisamente aqui a escatologia aparece como Cristologia consumada (cf. M. SCHUMAUS, Teología Dogmática, VII: Los novísimos, Madrid 1961, p. 216 em J. J. ALVIAR, Escatología. Pamplona: EUNSA, 2004, 176). O Verbo encarnado assume não somente a natureza humana concreta, mas une a si a natureza humana enquanto tal, enquanto realidade que se perpetua na história, encarnada nos diversos sujeitos. Cristo une a si a realidade humana e a realidade cósmica, arrasta-as consigo numa história que passa pelo esvaziamento e termina na glória. Jesus Cristo partilha ao máximo, até à morte, a realidade humana, para depois fazer com que os homens participem plenamente de sua energia vivificante. A ressurreição dos mortos é o difundir-se dessa energia divina e divinizadora desde a natureza humana concreta assumida pelo Filho até à natureza humana na sua totalidade (alma e corpo). O Espírito Santo identificou-nos com Cristo no momento do nosso batismo e levará até ao fim essa obra divina, que só terminará (desde o ponto de vista da perfeição final) na nossa plena identificação com Cristo no dia da ressurreição; então seremos entregues ao Pai como filhos no Filho (cf. J. J. ALVIAR, Escatología. Pamplona: EUNSA, 2004, 176-177).

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


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