quinta-feira, 1 de outubro de 2015

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho - Mc 10,2-16 - 04.10.2015 - O que Deus uniu, o homem não separe!

27º DOMINGO Tempo Comum
Cor: Verde

Evangelho - Mc 10,2-16

O que Deus uniu, o homem não separe!

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 10,2-16

Naquele tempo:
2Alguns fariseus se aproximaram de Jesus.
Para pô-lo à prova,
perguntaram se era permitido ao homem
divorciar-se de sua mulher.
3Jesus perguntou:
'O que Moisés vos ordenou?'
4Os fariseus responderam:
'Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio
e despedi-la'.
5Jesus então disse:
'Foi por causa da dureza do vosso coração
que Moisés vos escreveu este mandamento.
6No entanto, desde o começo da criação,
Deus os fez homem e mulher.
7Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe
e os dois serão uma só carne.
8Assim, já não são dois, mas uma só carne.
9Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!'
10Em casa, os discípulos fizeram, novamente,
perguntas sobre o mesmo assunto.
11Jesus respondeu:
'Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra,
cometerá adultério contra a primeira.
12E se a mulher se divorciar de seu marido
e casar com outro, cometerá adultério'.
13Depois disso, traziam crianças
para que Jesus as tocasse.
Mas os discípulos as repreendiam.
14Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse:
'Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais,
porque o Reino de Deus é dos que são como elas.
15Em verdade vos digo:
quem não receber o Reino de Deus como uma criança,
não entrará nele'.
16Ele abraçava as crianças
e as abençoava, impondo-lhes as mãos.
Palavra da Salvação.
Fonte CNBB


Reflexão - Mc 10,2-16
Entrar na dinâmica do olhar divino sobre o ser humano

O nosso texto do evangelho de hoje é um “diálogo didático”, cuja finalidade é instruir os discípulos a se comportarem em conformidade com os ensinamentos de Jesus. A questão posta pelos fariseus a Jesus é mal-intencionada, pois querem colocá-lo à prova e encontrar um motivo para condená-lo à morte. A questão está baseada em Dt 24,1-3. Recorrendo ao projeto original de Deus (Mc 10,6-9; cf. Gn 1,27; 2,24; 5,2), Jesus rejeita uma interpretação em favor do divórcio. Nesse sentido, ele desautoriza a concessão mosaica para esse caso. A incapacidade de perdoar e de reconciliação diz respeito à “dureza do coração” que ameaça o povo de Deus. Jesus põe em pé de igualdade a condição do homem e da mulher. Mas a resposta de Jesus desconcerta os que queriam colocá-lo à prova, pois protege a parte mais frágil em semelhantes casos. Jesus recentra a questão não sobre a ordem jurídica, mas sobre a ordem da criação, sobre o Reino de Deus. Portanto, a questão fundamental é reconciliar tudo com o ideal do Reino de Deus, com o ideal cristão. Trata-se de entrar na dinâmica do olhar divino sobre o ser humano, tal qual pode ser apreendido pelos relatos da criação. Já em casa, algumas pessoas trazem crianças para que Jesus as toque. Toda situação é para Jesus ocasião de ensinar e transmitir algo do Reino de Deus, de sua pessoa e da situação
ou condição do discípulo. No tempo de Jesus, as crianças gozavam de respeito e eram bem tratadas. Se tivermos presente os relatos anteriores a este, poderemos notar um contraste entre as crianças levadas a Jesus e a resistência dos discípulos. O papel dos discípulos é conduzir as pessoas a Jesus (cf. Mc 2,1-12), e não impedi-las de se aproximar dele; por isso a indignação de Jesus. A ocasião serviu de oportunidade para Jesus ensinar aos seus discípulos que o Reino de Deus precisa ser acolhido como dom. O Reino de Deus está presente, em primeiro lugar, na pessoa de Jesus; é preciso acolhê-lo como dom do Pai sem opor nenhuma resistência. O exemplo das crianças serve para interpelar os discípulos à abertura generosa ao novo (cf. Mc 2,21-22). As crianças, em geral, são abertas e confiantes. Devemos imitá-las para acolher com simplicidade o Reino de Deus.
Pe. Carlos Alberto Contieri, sj
http://www.paulinas.org.br/diafeliz/


O QUE DEUS UNIU O HOMEM NÃO SEPARE Mc 10,2-16
HOMILIA

Os fariseus procuram motivo de condenar Jesus em torno de questões da Lei. A Lei associava o casamento à posse de bens e reconhecia ao homem o direito de repudiar sua mulher, relegando esta a uma posição de submissão. No texto de hoje, Jesus continua a sua caminhada rumo a Jerusalém, onde o poder central religioso-político vai condená-lo à morte, no intuito de acabar não somente com a pessoa dele, mas com o seu ensinamento. O que vemos no Evangelho é Jesus, entrando primeiro em controvérsia com os fariseus, os guardiães da prática fiel da Lei. Grupo, que gozava de grande prestígio diante da população mais simples e que se outorgava o direito de ser o único intérprete autêntico da vontade de Deus. Por isso entram em conflito com Jesus, não querendo conhecer melhor a vontade do Pai, mas, como ressalta o texto “para tentá-lo“. O campo de batalha escolhido era o debate sobre o divórcio. O texto de referência para eles era Dt 24,1-4, onde não se trata da legitimidade do divórcio, mas dos critérios para que possa acontecer

O evangelho de Mateus, no Capítulo 19, deixa mais claro do que Marcos o sentido do debate (Mt 19,1-9). O pano de fundo era os critérios necessário para que um homem pudesse divorciar a sua mulher (nem se cogitava na Lei judaica que a mulher pudesse divorciar o marido, pois a mulher era considerada “objeto” que pertencia ao homem!). No tempo de Jesus havia duas tendências, simbolizadas pelas escolas rabínicas dos grandes fariseus. Uma escola ensinava que se podia divorciar a mulher por qualquer motivo, mesmo dos mais banais. E outra dizia que só era permitido o divórcio por motivos muito sérios. Por isso, em Mateus a pergunta se define melhor: “é permitido divorciar a mulher por qualquer motivo que seja?” (Mt 19,4).

Em ambos os evangelhos, Jesus se recusa a entrar no debate casuística que cercava a questão, e se limitava a reafirmar o projeto do Pai para o casamento: “Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar“. Aqui Jesus reafirma com toda firmeza o ideal do casamento cristão – uma união permanente, baseada no amor, e fortalecida pela graça do sacramento. Seria inútil buscar neste trecho uma teologia mais desenvolvida do casamento, muito menos orientações pastorais para os problemas práticos de casamentos malsucedidos, pois isso não foi a intenção do autor. Marcos simplesmente reafirma o princípio de que “o que Deus uniu, o homem não deve separar“. Deixa em aberto a questão de quando é que Deus realmente uniu o casal! Será que, só porque passaram por uma cerimônia validamente celebrada, um casal é necessariamente unido por Deus? Os problemas reais são muito mais complexos, angustiantes e difíceis de serem solucionados.

O trecho continua com a questão das crianças. A questão aqui não é a criança como símbolo da inocência, mas de dependência. As crianças e os que se assemelham com eles vivem esta situação de dependência, de “sem-poder”. Quem quer entrar no Reino de Deus terá que abrogar-se de todo o poder dominador, tornando-se como criança.

Negando de aceitar a situação em que a mulher era simples objeto de posse do homem e assim passível de ser divorciada, e propondo o fraco e dependente como modelo, numa sociedade que valorizava o prepotente, Jesus mostra que os valores do Reino de Deus estão na contra-mão dos valores da sociedade do seu tempo – e de hoje. Propõe uma igualdade de dignidade entre homem e mulher, uma fidelidade e compromisso permanentes, e a busca duma vida de serviço e não de dominar! Realmente, uma proposta no contra-fluxo da sociedade pós-moderna que nega o permanente, perpetua o machismo e admira o poderoso e dominador!

Somos convidados hoje, para que, entremos “com Jesus, na contra-mão” e para que criemos uma sociedade baseada em outros valores do que os hoje em vigor, as vezes até no seio das próprias igrejas.

Senhor Jesus, que os casais cristãos compreendam a profundidade de sua união, obra do próprio Deus.
Fonte Canção Nova

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