terça-feira, 29 de julho de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 12:13-21 - 03.08.2025

 Liturgia Diária


3 – DOMINGO 

18º DOMINGO DO TEMPO COMUM


(verde, glória, creio – 2ª semana do saltério)


Vinde, ó Deus, em meu auxílio, apressai-vos, ó Senhor, em socorrer-me. Sois meu Deus libertador e meu auxílio. Não tardeis em socorrer-me, ó Senhor! (Sl 69,2.6)


A liturgia desperta o anseio pela verdadeira liberdade: suplicamos ao Eterno que nos livre das ilusões que nos escravizam, das estruturas que prometem segurança, mas negam a alma. Reunimo-nos como buscadores do real, para partilhar o Corpo e o Sangue daquele que rompeu todas as cadeias. Nele, reconhecemos a fonte dos bens eternos e a dignidade da escolha interior. Neste ciclo de vocação, em que a alma se inclina ao serviço e à escuta, celebramos a liberdade que floresce no dom de si, no pensamento autêntico e na comunhão com os que respondem ao chamado da consciência desperta.

"Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade."
(2Cor 3,17)



Evangelium secundum Lucam 12,13–21

Dominica XVIII per Annum – Anno C

13 Ait autem ei quidam de turba: Magister, dic fratri meo ut dividat mecum hereditatem.
Disse-lhe então um homem da multidão: Mestre, dize ao meu irmão que reparta comigo a herança.

14 At ille dixit illi: Homo, quis me constituit iudicem, aut divisorem super vos?
Mas Jesus respondeu-lhe: Homem, quem me constituiu juiz ou árbitro sobre vós?

15 Dixitque ad illos: Videte et cavete ab omni avaritia: quia non in abundantia cuiusquam vita eius est ex his quae possidet.
E disse-lhes: Estai atentos e guardai-vos de toda avareza, pois a vida de alguém não consiste na abundância dos bens que possui.

16 Dixit autem similitudinem ad illos, dicens: Hominis cuiusdam divitis uberes fructus ager attulit.
E propôs-lhes esta parábola: A terra de certo homem rico produziu com abundância.

17 Et cogitabat intra se dicens: Quid faciam, quia non habeo quo congregam fructus meos?
E ele pensava consigo: Que farei? Não tenho onde guardar minha colheita.

18 Et dixit: Hoc faciam: destruam horrea mea, et maiora faciam, et illuc congregabo omnia quae nata sunt mihi, et bona mea,
E disse: Farei isto: derrubarei os meus celeiros, construirei outros maiores e aí reunirei todo o meu trigo e os meus bens.

19 Et dicam animae meae: Anima, habes multa bona posita in annos plurimos: requiesce, comede, bibe, epulare.
E direi à minha alma: Alma, tens muitos bens armazenados para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te.

20 Dixit autem illi Deus: Stulte, hac nocte animam tuam repetunt a te: quae autem parasti, cuius erunt?
Mas Deus lhe disse: Insensato! Nesta noite, pedirão de ti a tua alma; e o que acumulaste, para quem será?

21 Sic est qui thesaurizat sibi, et non est in Deum dives.
Assim é aquele que acumula para si mesmo e não é rico para com Deus.

Reflexão:

O ser humano não é chamado à acumulação, mas à expansão do ser. Quando se identifica com seus bens, reduz sua existência ao transitório e limita a potência do espírito que nele pulsa. O Cristo revela que a verdadeira grandeza reside na capacidade de transcender o ego e integrar-se ao fluxo da vida partilhada. A liberdade não se realiza no domínio, mas na comunhão; não no acúmulo, mas no oferecimento generoso do que se é. Ao reconhecermos que a alma é maior que seus celeiros, nos abrimos à plenitude de um sentido que não se compra, mas se conquista com consciência desperta.


Versículo mais importante: 

O versículo mais importante de Evangelium secundum Lucam 12,13–21 é o versículo 15, pois ele expressa o ensinamento central da passagem: o verdadeiro valor da vida humana não está na acumulação de bens materiais, mas na liberdade interior e na relação com o divino.

15 Dixitque ad illos: Videte et cavete ab omni avaritia: quia non in abundantia cuiusquam vita eius est ex his quae possidet.
E disse-lhes: Estai atentos e guardai-vos de toda avareza, pois a vida de alguém não consiste na abundância dos bens que possui.(Lc 12:15)

Esse versículo revela a essência do ensinamento de Cristo: a vida não é medida pelo que se possui, mas pelo que se é.


HOMILIA

O Vazio dos Celeiros e a Plenitude do Ser

No coração da narrativa de hoje, ouvimos a voz do Cristo rasgando o véu das aparências e revelando uma verdade esquecida: a vida não está nos bens que possuímos, mas naquilo que nos possuí. A parábola do homem rico, que sonha em alargar seus celeiros, é o retrato de uma consciência ainda enredada nas sombras da matéria, que confunde permanência com posse, segurança com acúmulo.

Ele fala consigo mesmo, mas não escuta a alma. Ele planeja para muitos anos, mas ignora o instante eterno. Seu erro não está em colher os frutos da terra, mas em crer que esses frutos definem o valor de sua existência. Nega-se o chamado da interioridade, do crescimento que se dá no invisível, onde a liberdade se constrói não pela quantidade de bens, mas pela qualidade da presença.

A dignidade da pessoa reside na sua abertura ao Infinito, na capacidade de transcender os limites do ego e reconhecer que a alma foi feita para um destino maior que os celeiros do mundo. Toda estrutura construída apenas para conter leva à estagnação; todo ser que se fecha ao outro caminha para a morte do sentido.

No momento em que o homem se julga senhor do tempo, a Voz o interrompe com a sentença: "Insensato! Nesta noite, pedirão de ti a tua alma." Não como castigo, mas como revelação: a vida verdadeira é sempre dom, nunca propriedade.

Assim, a evolução interior não acontece pelo que retemos, mas pelo que nos permite ser. Crescer é aprender a ofertar-se, a tornar-se espaço onde o Espírito pode habitar. E aquele que se torna rico para com Deus é aquele cuja liberdade brota da fidelidade ao ser, não ao ter; cuja dignidade resplandece na leveza de uma alma que nada possui, porque já se possui inteira.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Versículo:

“E disse-lhes: Estai atentos e guardai-vos de toda avareza, pois a vida de alguém não consiste na abundância dos bens que possui.”
(Lucas 12,15)

1. A Exortação ao Despertar Espiritual: "Estai atentos"

O primeiro chamado do Cristo neste versículo é à vigilância. O verbo "estai atentos" (em grego: horate) remete a um estado de consciência desperta, não meramente à atenção sensorial, mas a uma abertura da alma à verdade essencial da vida. Aqui, Jesus não alerta apenas contra um erro moral, mas contra um tipo de sono existencial — aquele que obscurece a liberdade interior e submete a pessoa às estruturas do ter. A atenção torna-se o primeiro passo da libertação espiritual, o começo da ascensão interior que nos convida a olhar para além das aparências do mundo sensível.

2. A Avareza como Ilusão Ontológica: "Guardai-vos de toda avareza"

A avareza (pleonexía), mais do que o simples desejo de possuir, é uma fome desordenada por controle, segurança e permanência em um mundo transitório. Ela nasce do medo da insuficiência e da negação da própria interioridade. O ser humano, ao tentar preencher com bens o que só o espírito pode saciar, trai sua vocação à transcendência. A avareza é, portanto, uma distorção ontológica: tenta substituir o ser pelo ter, reduzindo a pessoa a uma função de acumulação. Guardar-se dela é um exercício de liberdade interior, uma afirmação de que a dignidade humana não está sujeita à lógica do acúmulo, mas à revelação do ser.

3. A Natureza da Vida: "Pois a vida de alguém não consiste..."

Neste ponto, o Cristo introduz uma definição implícita da vida: ela não é soma, não é quantidade, não é extensão. Zōē, o termo usado no original, indica a vida plena, o princípio vital que nos une ao Criador. A vida verdadeira é substância espiritual, fluxo originado no Ser que é. Ela se manifesta em liberdade interior, em comunhão, em capacidade de doar-se. A tentativa de reduzi-la a medida externa é uma forma de violência contra sua natureza. Por isso, Jesus não apenas informa, mas revela: viver é ser, não possuir.

4. A Falsa Abundância: "...na abundância dos bens que possui"

A abundância de bens, embora ilusoriamente sedutora, é apresentada aqui como um falso referencial de valor. O homem que mede sua existência por aquilo que possui está espiritualmente descentrado: seu eixo foi deslocado do interior para o exterior. Essa abundância não sacia, mas aprisiona; não enriquece, mas confunde. É uma sobrecarga que sufoca a alma e a impede de crescer. A verdadeira abundância é interior: é expansão de consciência, é harmonia com o Eterno, é liberdade diante das coisas, não dependência delas.

5. Conclusão: O Chamado à Riqueza do Ser

Jesus não condena os bens, mas desmascara a ilusão de que neles reside o sentido da existência. Ele propõe uma outra lógica: a da interioridade como espaço da plenitude. O ser humano foi criado para refletir o Infinito, não para aprisionar-se em celeiros existenciais. A vigilância contra a avareza é, portanto, um caminho de evolução espiritual, uma defesa da liberdade interior e uma afirmação da dignidade da pessoa. Viver é tornar-se, e tornar-se é libertar-se daquilo que nos reduz.

"Não ajunteis para vós tesouros na terra... mas ajuntai para vós tesouros no céu."
(cf. Mt 6,19-20)

Leia: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

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