Liturgia Diária
18 – SEXTA-FEIRA
15ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Contemplarei, justificado, a vossa face; e ficarei saciado quando se manifestar a vossa glória (Sl 16,15).
A Luz Suprema não cessa de atravessar o tempo, visitando o íntimo da alma humana com Sua Presença libertadora. Sua passagem — sempre viva — dissolve as correntes da opressão interior e desperta a centelha da dignidade inviolável. O Cristo, ao vencer a morte, instaurou no silêncio do ser a liberdade que nasce do amor e não do medo. Em cada gesto de misericórdia, celebramos essa travessia sagrada que transforma sofrimento em glória, escassez em plenitude.
“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou.”
— Gálatas 5:1
De Evangelio secundum Matthæum (Mt 12,1-8)
Feria Sexta – XIII Hebdomadæ Ordinariæ
1. In illo tempore abiit Iesus per sata sabbato: discipuli autem eius esurientes coeperunt vellere spicas, et manducare.
Naquele tempo, Jesus passou por uns campos de trigo em dia de sábado; e seus discípulos, sentindo fome, começaram a arrancar espigas e a comê-las.
2. Pharisaei autem videntes dixerunt ei: Ecce discipuli tui faciunt quod non licet facere sabbatis.
Os fariseus, vendo isso, disseram-lhe: Vê! Teus discípulos estão fazendo o que não é permitido fazer no sábado.
3. At ille dixit eis: Non legistis quid fecerit David, quando esurivit, et qui cum eo erant:
Jesus, porém, lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi quando teve fome, ele e os que estavam com ele?
4. Quomodo intravit in domum Dei, et panes propositionis comedit, quos non licebat ei manducare, neque his qui cum eo erant, nisi solis sacerdotibus?
Como entrou na casa de Deus e comeu os pães da proposição, que não era lícito comer, nem a ele nem aos que estavam com ele, mas somente aos sacerdotes?
5. Aut non legistis in Lege quia sabbatis sacerdotes in templo sabbatum violant, et sine crimine sunt?
Ou não lestes na Lei que aos sábados os sacerdotes no templo violam o sábado e, no entanto, não são culpados?
6. Dico autem vobis quia templo maior est hic.
Ora, eu vos digo: aqui está quem é maior que o templo.
7. Si autem sciretis quid est: Misericordiam volo, et non sacrificium: numquam condemnassetis innocentes.
Se soubésseis o que significa: “Quero misericórdia e não sacrifício”, não condenaríeis os inocentes.
8. Dominus enim est Filius hominis etiam sabbati.
Pois o Filho do Homem é Senhor também do sábado.
Reflexão:
A verdadeira liberdade floresce quando o espírito humano reconhece o valor da pessoa acima das estruturas formais. No gesto dos discípulos, famintos e livres, revela-se o princípio de que a necessidade vital antecede a norma. A consciência desperta compreende que a Lei existe para servir à vida, não para oprimi-la. Ao defender os seus, Jesus proclama que a dignidade não depende de ritos, mas do amor ativo e da justiça compassiva. Cada ser humano é templo vivo do sagrado — e onde há liberdade interior, ali já resplandece a presença do Infinito que caminha conosco.
Vrsículo mais importante:
O versículo mais importante de De Evangelio secundum Matthæum (Mt 12,1-8), dentro de seu contexto, é o versículo 7, pois expressa o centro do ensinamento de Jesus nesse trecho: a primazia da misericórdia sobre os ritos.
7. Si autem sciretis quid est: Misericordiam volo, et non sacrificium: numquam condemnassetis innocentes.
Se soubésseis o que significa: “Quero misericórdia e não sacrifício”, não condenaríeis os inocentes.(Mt12:7)
Este versículo revela o coração da mensagem de Cristo: a Lei deve servir à vida e à dignidade humana, e não o contrário.
HOMILIA
A Liberdade que Brota do Centro Vivo
No silêncio dos campos atravessados por Jesus, quando os discípulos colhiam espigas num dia consagrado, revela-se mais do que um episódio: desvela-se uma chave para a compreensão da liberdade verdadeira — aquela que nasce do interior e não se impõe de fora.
Os fariseus, guardiões da norma, viram transgressão onde havia apenas vida em movimento. Para eles, a Lei era estática, rígida, como pedra que pesa. Mas Jesus, sendo maior que o templo, mostra que o Espírito é dinâmico, criador, e sempre inclina-se para a pessoa, não para o sistema. A fome dos discípulos não era uma ameaça à santidade do sábado, mas um sinal de que a vida — em sua dignidade — exige escuta e compaixão.
“Quero misericórdia, e não sacrifício.” Aqui repousa o centro vivo de toda a evolução espiritual: o crescimento do ser não ocorre pela acumulação de ritos, mas pela expansão da consciência que sabe reconhecer o outro como portador do mesmo Fogo que arde em nós. A verdadeira santidade não se mede pela obediência cega à regra, mas pela fidelidade amorosa ao princípio da vida em sua inteireza.
Jesus caminha entre as espigas como quem semeia o futuro. Ele ensina que toda Lei deve servir ao ser humano e jamais oprimi-lo. E se Ele é Senhor também do sábado, é porque a plenitude não está na forma, mas na centelha interior que liga o tempo ao Eterno. A liberdade que Ele oferece não é um rompimento com o sagrado, mas um retorno ao seu centro pulsante: a dignidade inviolável de cada alma.
Quem acolhe essa verdade não teme a travessia, porque sabe que em cada gesto de misericórdia ressoa a vibração criadora do Amor original. É nesse campo — onde o Divino e o humano se encontram — que o espírito amadurece, cresce e se liberta. Ali, a alma aprende que ser livre é estar enraizado na Verdade viva que precede toda norma e ultrapassa toda condenação.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explanação Teológica e Visão Metafísica de Mateus 12,7
“Se soubésseis o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’, não condenaríeis os inocentes.”
(Mt 12,7)
1. A Palavra que Revela o Coração de Deus
Este versículo é mais do que uma repreensão: é uma epifania do centro da vontade divina. Jesus cita Oseias 6,6 para revelar que o desejo de Deus não está nas ofertas exteriores, mas na conversão interior. "Quero misericórdia e não sacrifício" é uma declaração que atravessa a história religiosa e conduz a alma da aparência para a essência, da obediência ritual para a compaixão real. Aqui, a teologia se curva diante do mistério do amor que dá sentido a todas as leis.
2. Misericórdia: A Vibração Primordial do Ser
Na perspectiva metafísica, a misericórdia é mais do que um atributo moral: ela é a vibração originária do Ser, a emanação do Amor que estrutura o cosmos. Deus é Misericórdia — não como um gesto esporádico, mas como essência que envolve, sustenta e transforma. Aquilo que chamamos de criação não é senão o transbordamento da Misericórdia divina em forma, tempo e matéria. Por isso, toda vez que uma alma exerce misericórdia, ela alinha-se ao pulsar da Origem, atravessa as limitações do ego e participa da dança eterna do Amor que gera.
3. Sacrifício sem Espírito: O Vazio da Casca Religiosa
O sacrifício, quando separado da misericórdia, torna-se casca sem fruto, rito sem vida, forma sem alma. Deus nunca desejou sangue pelo sangue, nem ritos sem coração. O que Ele busca é a transfiguração da interioridade humana. O sacrifício que não brota da caridade é como fumaça que não alcança o céu. É por isso que Jesus confronta os que condenam os inocentes: eles sacrificam a verdade em nome da regra, o humano em nome do sistema, e esquecem que a verdadeira adoração é um coração quebrantado e compassivo.
4. O Inocente: Imagem do Mistério Encarnado
A inocência, neste versículo, não é apenas ausência de culpa jurídica. É a pureza essencial da criatura diante do Criador. Condenar o inocente é violar o próprio coração da Criação, pois cada ser traz em si o reflexo da dignidade que lhe foi infundida no sopro divino. O inocente, portanto, torna-se sinal do Cristo: aquele que é condenado pelos que perderam o olhar compassivo e substituíram a luz do Espírito pelo peso da letra.
5. Liberdade Interior: A Compreensão que Liberta
“Se soubésseis…” — esta expressão revela a raiz da cegueira: a ignorância espiritual. Conhecer, aqui, não é saber racionalmente, mas intuir, experimentar, viver no coração. Aquele que conhece a misericórdia deixa de julgar, pois reconhece em si a fragilidade comum a todos. A liberdade que brota dessa compreensão não é libertinagem, mas libertação: o ser se reconhece acolhido e, por isso, torna-se capaz de acolher.
6. Síntese: Misericórdia como Caminho de Ascensão
Este versículo é uma convocação à subida interior. A alma que abandona os falsos altares do orgulho, da condenação e da formalidade morta, e se abre à misericórdia, começa a participar do movimento ascensional do universo. O amor torna-se medida, a compaixão, critério, e a liberdade, fruto maduro de uma consciência reconciliada com o seu princípio. Quem conhece a misericórdia reconhece no outro o mesmo Espírito que o sustenta. Por isso, não condena — ama, eleva, restaura.
“Se soubésseis o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’, não condenaríeis os inocentes.”
Esta é a Voz que ecoa do centro da Vida, chamando-nos não à religião da forma, mas à religião da essência — onde tudo é reconduzido ao Amor que salva, à Liberdade que gera, e à Dignidade que não pode ser destruída.
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