terça-feira, 29 de julho de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Mateus 14:1-12 - 02.08.2025

 Liturgia Diária


2 – SÁBADO 

17ª SEMANA DO TEMPO COMUM


(verde – ofício do dia da 1ª semana do saltério)


Deus habita em seu santuário, reúne os fiéis em sua casa; ele mesmo dá vigor e força a seu povo (Sl 67,6s.36).


Por desígnio da benevolência divina, a liberdade ressurge como um dom inviolável. O tempo é consagrado ao renascer da justiça: um ciclo jubilar em que a dignidade é restaurada e o indivíduo se ergue como templo sagrado da vida. Contudo, quando a soberba humana se ergue contra a voz do espírito, silencia o profeta e obscurece a luz do caminho. Que o Jubileu nos convoque a peregrinar com esperança, reconhecendo o valor de cada existência e promovendo uma ordem em que a consciência floresça, e o ser, liberto do jugo, caminhe na plenitude de sua vocação transcendente.

"Proclamai liberdade na terra a todos os seus habitantes."
— Levítico 25:10



Decollatio Ioannis Baptistae

Evangelium secundum Matthaeum 14,1-12

1 In illo tempore, audiit Herodes tetrarcha famam Iesu,
Naquele tempo, Herodes, o tetrarca, ouviu falar da fama de Jesus,

2 et ait pueris suis: “Hic est Ioannes Baptista; ipse surrexit a mortuis, et ideo virtutes operantur in eo”.
e disse aos seus servos: “Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos, e por isso os poderes agem nele”.

3 Herodes enim tenuit Ioannem et alligavit eum et misit in carcerem propter Herodiadem uxorem fratris sui.
Pois Herodes havia prendido João, amarrando-o e colocando-o na prisão por causa de Herodíades, esposa de seu irmão.

4 Dicebat enim illi Ioannes: “Non licet tibi habere eam”.
Porque João lhe dizia: “Não te é lícito tê-la como mulher”.

5 Et volens illum occidere, timuit populum, quia sicut prophetam eum habebant.
E querendo matá-lo, temia o povo, pois o consideravam um profeta.

6 Die autem natalis Herodis saltavit filia Herodiadis in medio et placuit Herodi,
No dia do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos e agradou a Herodes,

7 unde cum iuramento pollicitus est ei dare, quodcumque postulasset ab eo.
de modo que, sob juramento, prometeu dar-lhe tudo o que pedisse.

8 At illa, praemonita a matre sua: “Da mihi, inquit, hic in disco caput Ioannis Baptistae”.
Mas ela, instruída por sua mãe, disse: “Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista”.

9 Et contristatus est rex; propter iuramentum autem et eos, qui recumbebant simul, iussit dari.
E o rei entristeceu-se; mas, por causa do juramento e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que fosse dado.

10 Misitque et decollavit Ioannem in carcere;
Mandou então degolar João na prisão;

11 et allatum est caput eius in disco et datum est puellae, et attulit matri suae.
e sua cabeça foi trazida num prato e entregue à jovem, que a levou à sua mãe.

12 Et accedentes discipuli eius tulerunt corpus et sepelierunt illud et venerunt et nuntiaverunt Iesu.
Vieram os discípulos de João, levaram o corpo e o sepultaram; depois foram contar tudo a Jesus.

Reflexão:

A verdade, ao encarnar-se em palavra livre, incomoda os tronos construídos sobre o ego e o poder. João é degolado, mas sua voz permanece além da morte, porque nenhuma prisão pode conter o espírito que se entrega à luz. A existência humana, dotada de consciência, é chamada a crescer em direção ao Bem, em comunhão com o Outro, e jamais subordinada a tiranias. O Reino que Jesus anuncia começa no interior — no reconhecimento da dignidade do ser e na coragem de testemunhar a justiça, mesmo que custe a vida. A liberdade autêntica é caminho de ascensão, e não concessão de reis.


Versículo mais importante: 

O versículo mais emblemático de Evangelium secundum Matthaeum 14,1-12 — pela sua força dramática e profundidade simbólica — é o versículo 10, que marca o clímax do martírio do profeta João Batista. Ele revela como o poder político, submetido à vaidade e ao medo, sacrifica a verdade.

10 Misitque et decollavit Ioannem in carcere;
E mandou degolar João na prisão.(Mt 14:10)

Este versículo é o ponto culminante do conflito entre a verdade profética e o autoritarismo egoico. A prisão não é apenas física, mas também moral: Herodes está aprisionado por seus próprios juramentos e vaidades. João, embora morto, torna-se semente de liberdade — pois o sangue do justo não silencia, mas clama no espírito dos livres.


HOMILIA

João e a Ascensão do Espírito

No coração deste Evangelho — Mateus 14,1-12 — ecoa um drama arquetípico: a colisão entre a verdade interior e os poderes exteriores, entre a fidelidade à Luz e o peso das estruturas que se alimentam da sombra. João Batista, enviado como voz que clama no deserto, não apenas anuncia o Reino, mas o encarna em sua inteireza. Sua prisão não representa a derrota da liberdade, mas sua prova mais luminosa. Sua morte não apaga a verdade — ele a semeia no invisível, onde germina a vida que não se curva.

Herodes, símbolo da consciência dividida, vê-se enredado por seus próprios votos, palavras ditas não na liberdade do espírito, mas sob a tirania da aparência. Sua realeza é uma máscara que teme o povo, o olhar alheio, e por isso se torna instrumento do medo. Ele não é senhor, mas refém.

João, por sua vez, vive como quem já transcendeu o corpo. Sua verdade o faz livre, mesmo no cárcere. Ele não negocia a integridade da alma. Sua palavra, ainda que cortada, permanece viva no campo sutil da história humana, como chama que convoca cada ser a se erguer com dignidade e firmeza.

Neste episódio, Deus não intervém para salvar a carne do profeta, mas revela, com isso, que a salvação verdadeira é aquela que toca o núcleo da liberdade interior. O ser humano, chamado à plenitude, só encontra paz quando sua consciência está unida à verdade que a transcende. A liberdade não é ausência de limites, mas presença da luz. A dignidade não se conquista por título, mas por fidelidade ao que se é no mais profundo.

João, ao oferecer a própria vida, torna-se elo do grande processo de ascensão: ele se consome para que outros despertem. É o grito silencioso da liberdade que rompe as muralhas da prepotência e acende o caminho para aqueles que virão. Não há poder que aprisione a alma consagrada à Verdade. E é essa verdade, serena e inviolável, que nos chama hoje à mesma escolha: viver para agradar às sombras ou morrer, dia após dia, para renascer na luz.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

"E mandou degolar João na prisão." (Mt 14,10)
"Misitque et decollavit Ioannem in carcere."

Explicação teológica e metafísica profunda  que contempla o simbolismo espiritual e ontológico desse versículo, unindo a linguagem elevada à reflexão contemplativa.

1. O Silêncio da Caverna: O Cárcere como Matriz de Transfiguração

A prisão onde João se encontra não é apenas um espaço físico: é símbolo da interioridade comprimida, da consciência profética posta à prova no abismo da solidão. É a caverna escura onde o espírito, cercado de sombras, encontra-se despido de todo apoio humano — restando-lhe apenas a fidelidade ao Absoluto. Neste lugar de confinamento, o profeta não é vencido, mas alçado a uma forma superior de presença. O cárcere torna-se útero cósmico, onde o martírio o reconduz à Luz de onde veio.

Aquele que é verdadeiramente livre pode ser encerrado por muros, mas permanece inatingível no espírito.

2. A Decapitação como Imolação do Logos

A cabeça, sede da palavra e da visão, é cortada. Trata-se de mais que uma execução: é o mundo querendo silenciar o Verbo que denuncia a mentira dos tronos e a desordem dos afetos. João é o portador da verdade não negociável, e por isso, sua degola é tentativa de cortar a ponte entre o céu e a terra. Contudo, o Logos — mesmo degolado — se multiplica, pois a verdade pronunciada em espírito já ultrapassou o tempo e permanece vibrando na eternidade.

A palavra do profeta pode ser silenciada na carne, mas jamais pode ser degolada no espírito.

3. Herodes e a Fragilidade do Poder sem Raiz Espiritual

Herodes, enredado em seus juramentos, revela a natureza do poder que não nasce da consciência, mas do medo. Ele representa o arquétipo do homem dividido: sabe o que é justo, mas escolhe o que é cômodo. Sua autoridade não provém da verdade, mas da aparência sustentada pelo olhar dos outros. Por isso, torna-se títere de desejos alheios e assassino do que há de mais puro. O trono, sem vínculo com o sagrado, degola profetas e planta ruínas.

Onde o poder não se submete à Verdade, degola-se a consciência para preservar a ilusão.

4. João Batista: o Precursor também na Morte

João, que preparou o caminho do Senhor, também antecipa o caminho da cruz. Sua morte prefigura a Paixão de Cristo: prisão, julgamento injusto, morte violenta. Mas também antecipa a ressurreição, pois sua palavra permanece. Ele não viu o Reino plenamente manifestado, mas morreu como semente fértil no solo da História. Sua vida foi inteira oferta. Como precursor, mostra que toda elevação espiritual exige entrega — e toda liberdade autêntica passa pela fidelidade até o fim.

Aquele que prepara o caminho da Luz deve estar disposto a desaparecer para que o Caminho resplandeça.

5. Degolado, mas não vencido: o Espírito como Ascensão Inquebrantável

A morte de João não é uma derrota, mas um rito de passagem. A degolação é o símbolo último do mundo tentando calar o espírito; porém, o Espírito é inatingível por espadas. A verdade não morre com os corpos que a anunciam: ela se eleva, se expande e se comunica com mais força. João é agora mais do que um profeta — é testemunha eterna da liberdade interior. Sua morte denuncia os poderes passageiros e confirma que a dignidade da alma não está sujeita a decreto humano.

Quem se alicerça no Eterno transcende a prisão, a lâmina e o esquecimento.

Conclusão

E mandou degolar João na prisão” é uma frase breve, mas seu conteúdo é abismal: nela se concentra a tensão entre o tempo e a eternidade, entre o poder e a verdade, entre a aparência e a consciência. João Batista é o arquétipo do ser humano que, unido à Verdade, prefere perder tudo a negar aquilo que o habita no mais íntimo. Sua morte não é o fim, mas o início de uma vida que já não pode ser detida por tronos, cárceres ou espadas.

A pergunta que resta a cada alma é: estou disposto a ser inteiro, mesmo que isso me custe o que o mundo considera tudo?

Leia: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

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