domingo, 27 de julho de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 11:19-27 - 29.07.2025

 Liturgia Diária


29 – TERÇA-FEIRA 

SANTOS MARTA, MARIA E LÁZARO


(branco, pref. comum, ou dos santos – ofício da memória)


Jesus entrou num povoado e uma mulher chamada Marta o acolheu em sua casa (Lc 10,38).


Marta, Maria e Lázaro representam três dimensões do ser em harmonia: a ação, a contemplação e a abertura à renovação. Marta serve com liberdade amorosa, mas é convidada a integrar escuta e presença interior. Maria escolhe o silêncio atento, onde a palavra ressoa como fonte. Lázaro, símbolo da consciência adormecida, desperta à vida pelo chamado que vem do eterno. Em cada um de nós habita essa tríade viva: servir sem se perder, escutar sem fugir, e renascer como expressão da liberdade espiritual. Celebrá-los é acolher o Mestre interior, que educa, eleva e revela a dignidade profunda de nossa existência em comunhão.



In Festo Sanctae Marthae

Evangelium secundum Ioannem 11,19-27

19 et multi ex Iudaeis venerant ad Martham et Mariam ut consolarentur eas de fratre suo.
E muitos dentre os judeus tinham vindo ter com Marta e Maria para as consolar por causa do irmão.

20 Martha ergo ut audivit quia Iesus venit occurrit illi Maria autem domi sedebat.
Marta, pois, quando ouviu que Jesus vinha, foi ao encontro d’Ele; Maria, porém, ficou sentada em casa.

21 dixit ergo Martha ad Iesum Domine si fuisses hic frater meus non fuisset mortuus.
Disse então Marta a Jesus: Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.

22 sed et nunc scio quia quaecumque poposceris a Deo dabit tibi Deus.
Mas mesmo agora sei que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá.

23 dicit illi Iesus resurget frater tuus.
Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.

24 dicit ei Martha scio quia resurget in resurrectione in novissimo die.
Respondeu-lhe Marta: Sei que ressuscitará na ressurreição, no último dia.

25 dixit ei Iesus ego sum resurrectio et vita qui credit in me etiam si mortuus fuerit vivet.
Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá.

26 et omnis qui vivit et credit in me non morietur in aeternum credis hoc.
E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês tu isto?

27 ait illi etiam Domine ego credidi quia tu es Christus Filius Dei qui in mundum venisti.
Disse-lhe ela: Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.

Reflexão:

A fé de Marta não é apenas consolo diante da morte, mas impulso de consciência que ultrapassa o tempo linear. A presença de Cristo inaugura uma nova dimensão da realidade, onde vida e morte se entrelaçam numa contínua emergência do Ser. A existência já não se define pelo fim biológico, mas pela integração à Fonte viva de onde tudo brota. A confiança de Marta representa a liberdade do espírito diante do determinismo, um salto para além do imediato, onde o amor se reconhece como força ordenadora do universo. Crer é, então, participar da construção da realidade última, onde cada pessoa, por sua adesão interior, colabora com o desvelar da Vida que tudo sustenta.


Versículo mais importante:

O versículo central e mais importante de João 11,19-27 é o versículo 25, pois nele Jesus revela sua identidade profunda e sua autoridade sobre a vida e a morte — é a chave teológica e espiritual de toda a passagem:

25 dixit ei Iesus: ego sum resurrectio et vita; qui credit in me, etiam si mortuus fuerit, vivet.
Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá. (Jo 11:25)

Esse versículo é a expressão suprema da vitória da Vida sobre a morte e o centro da esperança cristã: não apenas uma promessa futura, mas uma realidade presente que transforma a existência.


HOMILIA

A Ressurreição como Despertar do Ser

No silêncio pungente de Betânia, onde a morte parecia haver selado sua palavra final, Jesus se aproxima como presença que desestabiliza o determinismo e reabre os caminhos da eternidade. Marta corre ao seu encontro, não apenas como irmã enlutada, mas como alma em busca de sentido, expressão viva da consciência humana que, mesmo ferida, pressente que há algo além da finitude. Em sua dor, ela professa uma esperança que toca o invisível: “Mesmo agora, eu sei que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá”.

É nesse solo de confiança que a revelação acontece: “Eu sou a ressurreição e a vida”. Não se trata apenas de uma promessa futura, mas de uma afirmação ontológica: a Vida verdadeira está presente, pulsa, transforma, irrompe. Crer em Cristo é despertar para essa Vida que não se reduz ao tempo nem ao corpo. É iniciar um processo interior de evolução, onde o ser humano se reconhece como mais do que matéria: ele é espírito em trânsito, chamado a participar da plenitude do Ser.

Esse trecho evangélico nos conduz a uma verdade fundamental: a dignidade da pessoa humana está enraizada no seu vínculo com a Fonte viva. Cada um é mais do que suas circunstâncias, mais do que suas perdas e limites — é portador de uma centelha eterna, capaz de atravessar a noite da morte e da dúvida para viver no dia luminoso da confiança.

A liberdade interior nasce quando o ser humano compreende que a morte não é o fim, mas uma passagem. Não mais escravizado ao medo, ele começa a viver como cocriador da realidade, unindo sua fé à ação de Deus no mundo. O milagre que se prepara, ainda invisível, já opera dentro de Marta: ela afirma — “Eu creio que tu és o Cristo” —, e essa confissão não é uma teoria, mas um salto do espírito rumo à luz.

A ressurreição, aqui, é mais do que um evento: é um estado de consciência, uma abertura radical ao eterno que habita o agora. É o chamado para que despertemos, como Marta, para a verdade de que a Vida, quando reconhecida, nos devolve a nós mesmos — íntegros, livres e destinados ao infinito.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Exploração Teológica e Metafísica de João 11,25
“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá.”

1. “Eu sou”: A Revelação do Nome Eterno

A declaração “Ego sum” (Eu sou) remonta ao Nome revelado por Deus a Moisés na sarça ardente: “Ego sum qui sum” (Ex 3,14). Aqui, Jesus não apenas aponta para um atributo, mas manifesta a própria identidade divina. Ele não diz “Eu trago a ressurreição”, mas “Eu sou”. Isto significa que Nele habita a plenitude do Ser, a origem e a consumação de toda realidade. Essa afirmação é radicalmente metafísica: Jesus se apresenta como a própria Fonte do existir, Aquele que transcende o tempo, e que sustenta o ser de tudo o que vive.

2. “A Ressurreição e a Vida”: Unidade entre Princípio e Fim

No âmbito teológico, a ressurreição é a vitória sobre a morte; no plano metafísico, é a restituição do ser à sua integridade original. Ao unir os dois termos — ressurreição e vida — Jesus revela que Ele é simultaneamente o Princípio (arché) que anima e o Fim (telos) que plenifica. A vida verdadeira não está separada da ressurreição, pois ambas são expressões de uma mesma realidade: o dinamismo do Ser que se comunica sem cessar à criação. Em Cristo, vida e ressurreição são inseparáveis, porque Nele o viver já é um retornar à plenitude do Pai.

3. “Quem crê em mim”: A Fé como Ato Ontológico

Crer, no contexto deste versículo, não é meramente aderir a uma doutrina, mas lançar-se numa confiança absoluta ao Ser que se revela. A fé é, portanto, um movimento ontológico: um ato interior pelo qual a criatura reconhece sua origem, sua verdade e seu destino. Acreditar em Cristo é participar do seu próprio Ser, entrar em comunhão com a Vida que Ele é. Esta fé é libertadora, pois rompe com a ilusão da separação e integra o ser humano à realidade última, restaurando sua dignidade e vocação eterna.

4. “Ainda que morra, viverá”: A Morte Transfigurada

A morte, aqui, não é negada, mas transfigurada. O verbo “morrer” permanece, mas é imediatamente ressignificado pela promessa da vida. O morrer biológico não é mais o fim do ser, mas uma travessia para a consciência ampliada. Metafisicamente, a morte é a dissolução das formas transitórias para a emergência do que é essencial. Em Cristo, o morrer torna-se fecundo: é o desvelar do que estava oculto, o nascimento definitivo da pessoa para sua identidade divina.

5. Conclusão: A Vida como Participação na Eternidade

Este versículo é uma síntese da revelação cristã e uma afirmação metafísica da mais alta ordem. Ele ensina que a vida não é simplesmente a duração temporal de um organismo, mas a participação no Ser que não morre. Ressurreição não é apenas um evento futuro, mas uma realidade presente em Cristo, que pode ser experimentada já na fé. Assim, a existência se revela como vocação à eternidade, e cada ser humano, ao crer, transcende sua condição de finitude e passa a viver no coração do Mistério que tudo sustenta.

“Eu sou a ressurreição e a vida” é, pois, a palavra do Logos que desperta em nós a memória da origem e o chamado à plenitude. Crer n’Ele é despertar para o que sempre fomos no coração do Eterno: vivos, livres e destinados à luz.

Leia: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

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Oração Diária

Mensagens de Fé

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