Liturgia Diária
31 – QUINTA-FEIRA
SANTO INÁCIO DE LOYOLA
PRESBÍTERO E FUNDADOR
(branco, pref. comum, ou dos pastores – ofício da memória)
Ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fl 2,10s).
Inácio, nascido em Loyola em 1491, percorreu o caminho da espada até ser ferido pelo mistério. Na quietude do sofrimento, encontrou luz nas vidas santas e redirecionou sua liberdade interior para o serviço da Verdade. Abandonou a glória dos homens para buscar a glória de Deus, onde a alma se engrandece ao se doar. Criador dos Exercícios Espirituais, Inácio ensinou que o verdadeiro poder nasce da escuta interior e da ordenação consciente dos afetos. Fundou a Companhia de Jesus, e por ela expandiu horizontes. Seu exemplo é um chamado a transformar dons em luz e autonomia em serviço sagrado.
Evangelium secundum Matthaeum 13,47-53
In illo tempore
47. Simile est regnum caelorum sagenae missae in mare, et ex omni genere piscium congreganti.
O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que apanha peixes de toda espécie.
48. Quam, cum impleta esset, educentes, et secus littus sedentes, elegerunt bonos in vasa, malos autem foras miserunt.
E, quando está cheia, os pescadores a puxam para a praia, sentam-se, e recolhem os bons em cestos, e lançam fora os maus.
49. Sic erit in consummatione saeculi: exibunt angeli, et separabunt malos de medio iustorum,
Assim será no fim do mundo: os anjos sairão para separar os maus do meio dos justos,
50. Et mittent eos in caminum ignis: ibi erit fletus, et stridor dentium.
E os lançarão na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes.
51. Intellexistis haec omnia? Dicunt ei: Etiam.
Compreendestes tudo isso? Eles responderam: Sim.
52. Ait illis: Ideo omnis scriba doctus in regno caelorum similis est homini patrifamilias, qui profert de thesauro suo nova et vetera.
Então lhes disse: Por isso, todo escriba instruído sobre o Reino dos Céus é como um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e antigas.
53. Et factum est: cum consummasset Iesus parabolas istas, transiit inde.
E aconteceu que, ao concluir estas parábolas, Jesus partiu dali.
Reflexão:
O Reino é como a rede que acolhe toda diversidade, convocando cada ser a manifestar sua verdade mais profunda. No tempo da escolha, não se trata de castigo, mas de revelação: o que é autêntico permanece; o que se fecha à luz se desfaz em sombras. A consciência desperta é chamada a discernir — recolher o que edifica, abandonar o que aprisiona. O verdadeiro escriba é aquele que une passado e futuro na liberdade do presente, e reconhece no tempo o campo sagrado da transformação. No Reino, cada escolha é semente de eternidade; e cada ser, um chamado à plenitude.
Versículo mais importante:
O versículo mais central e teologicamente profundo de Evangelium secundum Matthaeum 13,47-53 é o versículo 52, pois ele resume a missão espiritual daquele que compreende o Reino: unir sabedoria antiga e revelação viva, integrando tradição e liberdade interior.
52. Ait illis: Ideo omnis scriba doctus in regno caelorum similis est homini patrifamilias, qui profert de thesauro suo nova et vetera.
Então lhes disse: Por isso, todo escriba instruído sobre o Reino dos Céus é como um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e antigas.
(Mateus 13,52)
Este versículo revela a natureza dinâmica da sabedoria espiritual: o Reino não anula o passado, mas o integra. O verdadeiro discípulo é aquele que, livre e consciente, harmoniza a herança recebida com a luz do tempo presente, tornando-se responsável por gerar sentido, continuidade e renovação.
HOMILIA
O Reino como Rede da Consciência e Tesouro da Liberdade
Amados buscadores da Verdade,
O Evangelho proclamado nos conduz hoje ao mistério do Reino como uma rede lançada ao mar — imagem que não delimita, mas inclui. O mar é a totalidade da existência; a rede é a força silenciosa do Espírito que tudo envolve, que toca cada consciência e acolhe toda a diversidade do ser. Nada escapa ao movimento do Reino: cada vida, cada escolha, cada pensamento está recolhido nesse impulso universal em direção à plenitude.
Mas há um momento em que a rede é recolhida. A seleção dos peixes não é punição, mas revelação: o que é autêntico permanece, o que é dissonante se dispersa. Assim também no interior de cada pessoa: há um juízo contínuo acontecendo na intimidade do ser, onde o Espírito separa o que constrói do que aprisiona. A liberdade não está em reter tudo, mas em discernir o que, dentro de nós, vibra em sintonia com o Eterno.
No versículo central, o Senhor revela que o verdadeiro sábio do Reino é como um pai de família: guarda um tesouro que une o novo e o antigo. Eis o ápice da evolução espiritual — não o rompimento com a origem, mas a integração criativa da memória e da novidade. A dignidade da pessoa se manifesta plenamente quando ela reconhece, em liberdade, aquilo que deve ser mantido e aquilo que precisa ser superado.
O Reino não é estático. Ele pulsa, transforma, transfigura. Cada ser humano, tocado por sua presença, é chamado a crescer em consciência, a ordenar sua casa interior e a oferecer ao mundo um testemunho de sentido e beleza. Que sejamos, pois, como escribas do Reino: atentos, generosos, livres. E que o nosso tesouro — feito de passado vivido e de futuro inspirado — seja sempre expressão do Amor que tudo move, tudo julga e tudo renova.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação Teológica e Metafísica de Mateus 13,52
“Então lhes disse: Por isso, todo escriba instruído sobre o Reino dos Céus é como um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e antigas.”
(Mateus 13,52)
1. O Escriba como Arquétipo da Consciência Desperta
A figura do escriba, na tradição judaica, representa aquele que se dedica ao estudo das Escrituras, mas aqui Jesus amplia sua imagem: é o escriba instruído sobre o Reino dos Céus, ou seja, alguém cuja sabedoria transcende o saber intelectual. Este escriba é símbolo da consciência desperta, capaz de reconhecer, além da letra, a presença do Espírito que vivifica. Ele não apenas transmite doutrina, mas encarna o discernimento entre o que é eterno e o que é transitório, entre o que é herança e o que é revelação.
2. O Reino como Sabedoria Dinâmica
O Reino dos Céus não é uma estrutura estática, mas um movimento contínuo de interiorização, manifestação e comunhão. Instruir-se sobre o Reino significa entrar numa escola do Espírito, onde se aprende a arte de ver com os olhos da eternidade o que se manifesta no tempo. É um processo de transformação do olhar: não se trata de acumular ideias, mas de aprender a ler a realidade com profundidade, encontrando nela o sentido escondido — o “tesouro” que deve ser revelado.
3. O Pai de Família: Símbolo da Liberdade Responsável
O escriba é comparado a um pai de família, ou seja, a alguém que exerce autoridade com cuidado e liberdade com responsabilidade. Ele não acumula para si, mas partilha com sabedoria. O verdadeiro conhecimento não é possessão, mas serviço. A imagem do pai de família sugere uma pessoa que cuida do seu interior como de uma casa espiritual, onde o novo e o antigo convivem em harmonia. Ele não rejeita o passado, mas também não se aprisiona a ele.
4. Tesouro: O Núcleo Sagrado do Ser
O “tesouro” representa o centro espiritual da pessoa — a dimensão onde se acumulam as experiências, memórias, virtudes e intuições tocadas pela luz do Reino. Este tesouro não é fixo: ele cresce com a escuta, com a vivência e com o discernimento. Tirar de seu tesouro coisas novas e antigas é o gesto daquele que reconhece na própria interioridade tanto a herança recebida quanto a revelação presente. A pessoa madura espiritualmente vive reconciliada com seu passado e aberta ao eterno agora.
5. O Novo e o Antigo: Integração, não Oposição
No plano metafísico, o novo e o antigo não são realidades opostas, mas complementares. O antigo carrega a profundidade do que foi revelado, da experiência já integrada. O novo é o frescor do Espírito, que sopra onde quer, revelando sempre mais da Verdade eterna. O escriba do Reino é aquele que não rompe com a raiz, mas também não a idolatra; ele sabe que o Espírito continua a agir, e que a fidelidade ao Eterno exige abertura constante à novidade que transforma.
6. Conclusão: O Ser Humano como Guardião do Reino
Este versículo nos mostra que a plenitude espiritual se manifesta quando a pessoa humana se torna guardiã consciente do Reino — não apenas como recipiente, mas como fonte. Ser como o pai de família é exercer a liberdade com sabedoria, discernir com justiça, e partilhar com generosidade. A verdadeira dignidade se manifesta quando o ser é capaz de ordenar seu interior de modo que o novo e o antigo ressoem como uma única canção, nascida da união entre memória viva e presença iluminada.
O Reino, então, não é apenas um dom; é também uma tarefa: tornar-se co-criador do tesouro divino na história.
Leia também:
#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão
#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração
#primeiraleitura #segundaleitura #santododia #vulgata
Nenhum comentário:
Postar um comentário