sexta-feira, 25 de julho de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 11:1-13 - 27.07.2025

 Liturgia Diária


27 – DOMINGO 

17º DOMINGO DO TEMPO COMUM


(verde, glória, creio – 1ª semana do saltério)


Deus habita em seu santuário, reúne os fiéis em sua casa; ele mesmo dá vigor e força a seu povo (Sl 67,6s.36).


Na comunhão sagrada, revela-se o Mistério da Fonte que acolhe livremente cada ser como filho amado. Nela, o Ser eterno convoca a alma à escuta interior, à liberdade de orar, escolher, partilhar. A Palavra se encarna no silêncio do coração desperto, e o Pão, símbolo da dignidade comum, é ofertado como gesto de confiança mútua. Celebra-se o Mistério da superação da morte — a Ressurreição — não como imposição, mas como caminho aberto por Aquele que, sendo Mestre, não exige submissão, mas inspira liberdade interior e perseverança. Cada alma, em sua autonomia sagrada, aprende a orar com esperança viva.

"Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade."
2 Coríntios 3:17



Evangelium secundum Lucam 11,1-13

Dominica – Petite, et dabitur vobis

  1. Et factum est: cum esset in quodam loco orans, ut cessavit, dixit unus ex discipulis eius ad eum: Domine, doce nos orare, sicut et Ioannes docuit discipulos suos.
    E aconteceu que, estando ele orando em certo lugar, ao terminar, um dos seus discípulos lhe disse: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.

  2. Et ait illis: Cum oratis, dicite: Pater, sanctificetur nomen tuum. Adveniat regnum tuum.
    E ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino.

  3. Panem nostrum quotidianum da nobis hodie;
    Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia;

  4. Et dimitte nobis peccata nostra: siquidem et ipsi dimittimus omni debenti nobis. Et ne nos inducas in tentationem.
    E perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve. E não nos deixes cair em tentação.

  5. Et ait ad illos: Quis vestrum habebit amicum et ibit ad illum media nocte et dicet illi: Amice, commoda mihi tres panes,
    E disse-lhes: Qual de vós, tendo um amigo, irá procurá-lo à meia-noite e lhe dirá: Amigo, empresta-me três pães,

  6. Quia amicus meus venit de via ad me, et non habeo quod ponam ante illum.
    Porque um amigo meu chegou de viagem e não tenho o que lhe oferecer.

  7. Et ille de intus respondens dicat: Noli mihi molestus esse; iam ostium clausum est, et pueri mei mecum sunt in cubili: non possum surgere et dare tibi.
    E ele, lá de dentro, responderá: Não me incomodes; a porta já está fechada, e meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para te dar algo.

  8. Dico vobis: et si non dabit illi surgens eo quod amicus eius sit, propter improbitatem tamen eius surget et dabit illi, quotquot habet necessarios.
    Eu vos digo: ainda que não se levante para dar-lhe por ser seu amigo, levantar-se-á, contudo, por causa da sua insistência, e lhe dará tudo o que precisa.

  9. Et ego vobis dico: Petite, et dabitur vobis: quaerite, et invenietis: pulsate, et aperietur vobis.
    Pois eu vos digo: Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e vos será aberto.

  10. Omnis enim qui petit, accipit: et qui quaerit, invenit: et pulsanti aperietur.
    Porque todo o que pede, recebe; quem busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-á.

  11. Quis autem ex vobis patrem petit panem — numquid lapidem dabit illi? aut piscem — numquid pro pisce serpentem dabit illi?
    Qual de vós, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará uma serpente em lugar do peixe?

  12. Aut si petierit ovum, numquid porriget illi scorpionem?
    Ou se pedir um ovo, lhe dará um escorpião?

  13. Si ergo vos, cum sitis mali, nostis bona data dare filiis vestris: quanto magis Pater vester de caelo dabit spiritum bonum petentibus se?
    Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais o Pai celeste dará o Espírito bom àqueles que lhe pedirem!

Reflexão:

A oração é a ascensão da consciência à Fonte do sentido, onde cada súplica não é um pedido submisso, mas um ato de liberdade interior. Ao chamar Deus de Pai, não nos curvamos por temor, mas erguemo-nos como seres capazes de diálogo. A confiança de quem pede revela um universo em expansão, onde o desejo autêntico participa da construção da realidade. A resposta divina não nega a autonomia, mas a sustenta com Amor. O Espírito dado aos que pedem é a centelha que desperta a dignidade e impulsiona o ser à plenitude de si. Pedir, buscar, bater — são gestos de uma alma livre.


Versículo mais importante: 

O versículo mais central e significativo de Evangelium secundum Lucam 11,1-13, tanto do ponto de vista espiritual quanto filosófico, é:

Lucas 11,9

Et ego vobis dico: Petite, et dabitur vobis: quaerite, et invenietis: pulsate, et aperietur vobis.
Pois eu vos digo: Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e vos será aberto. (Lc 11:9)

Esse versículo condensa o coração do ensinamento de Jesus sobre a liberdade da alma em relação com o divino. Não se trata de resignação, mas de uma iniciativa interior que confia na resposta amorosa do Mistério. Cada verbo — pedir, buscar, bater — expressa o dinamismo de uma consciência que participa da criação através do desejo e da fé ativa.


HOMILIA

A Oração como Gênese da Liberdade Interior

No silêncio em que o Cristo ora, seus discípulos vislumbram algo que ultrapassa o gesto: percebem uma centelha, um eixo oculto que sustenta o cosmos e ordena o coração humano. “Senhor, ensina-nos a orar.” — não é apenas um pedido ritual; é a busca pela fonte, pelo princípio que une a criatura à Origem.

Jesus responde com palavras que não impõem, mas despertam: “Pai...” — e aqui a alma se ergue. A oração não começa com súplica, mas com o reconhecimento de uma relação fundante, onde cada ser humano é chamado a viver não como servo, mas como filho. Este “Pai” não domina de fora, mas pulsa no íntimo do ser, chamando à liberdade responsável, à dignidade de existir em comunhão.

“Santificado seja o teu nome, venha o teu Reino...” — a oração não busca a fuga do mundo, mas a transfiguração da realidade. O Reino não é um lugar, é uma condição do ser onde o Amor se manifesta plenamente. Cada vez que oramos assim, participamos da gestação de um mundo novo, não por força externa, mas por conversão interior.

E então Jesus fala de pão — o pão de cada dia, o pão que sustenta, o pão que se compartilha. A súplica pelo pão é mais que sobrevivência; é o clamor por uma existência justa, onde nenhum ser humano seja esquecido ou excluído. Quando pedimos o pão, assumimos a responsabilidade de não sermos pedra no lugar do sustento do outro.

A oração prossegue pedindo perdão e oferendo perdão. Aqui se revela a dimensão evolutiva do espírito: libertar-se do peso da culpa e das dívidas não é estagnação, mas avanço. O perdão é a energia que move a alma do passado ao futuro, que desfaz os nós da dor para tecer novos vínculos de comunhão.

Por fim, Jesus narra a parábola do amigo insistente — não para falar de um Deus relutante, mas de um coração que deve aprender a desejar profundamente. “Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e vos será aberto.” — este é o movimento da alma em evolução: tornar-se ativa, consciente, participante da própria transformação. Não por obrigação, mas por impulso do espírito que reconhece seu direito de crescer.

A oração, portanto, não é submissão, mas ascensão. Ela é o espaço onde a dignidade humana se encontra com a infinita generosidade do Ser. Ela nos devolve a nós mesmos, não como indivíduos fechados, mas como centelhas vivas de um Mistério que se comunica, se entrega e convida.

Ao orar, não pedimos permissão para existir. Celebramos o fato de sermos co-criadores com o Divino. E assim, a cada súplica, a cada silêncio, a cada palavra dita na intimidade do espírito, somos conduzidos a um patamar mais alto da liberdade interior — onde o Amor não é mandamento, mas respiração natural da alma desperta.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Versículo:

Et ego vobis dico: Petite, et dabitur vobis: quaerite, et invenietis: pulsate, et aperietur vobis.
Pois eu vos digo: Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e vos será aberto.
(Lucas 11,9)

1. A Voz que Nos Chama à Liberdade Ontológica

Este versículo é mais do que uma promessa; é um chamado ontológico à liberdade da alma diante do Mistério. Não se trata de um convite passivo a esperar bênçãos, mas de uma convocação ativa à consciência. O Cristo não ordena de fora, mas revela uma lei espiritual: quem pede, recebe; quem busca, encontra; quem bate, entra. Essa tríade é o movimento dinâmico da alma que reconhece sua origem transcendente e sua vocação para o infinito.

Pedir, buscar e bater são expressões da liberdade interior, da vontade que se reconhece capaz de dialogar com a Fonte, sem intermediários coercitivos, mas com dignidade filial. O ser humano é, aqui, apresentado como alguém que participa da própria revelação, não por mérito, mas por natureza espiritual.

2. A Tríade da Evolução Espiritual: Pedir, Buscar, Bater

Cada verbo revela um estágio do despertar interior:

  • Petite – Pedi: É o início da consciência que reconhece sua carência essencial, não como fraqueza, mas como abertura ao Outro. Pedir é reconhecer que há mais além de si mesmo — e que esse mais é acessível, relacional, amoroso.

  • Quaerite – Buscai: Buscar é mais que desejar. É movimentar-se em direção à Verdade, ao Bem, ao Belo. Aqui, a alma já saiu do lugar de onde partiu. O espírito busca porque sabe que há uma resposta — e essa resposta o transforma ao ser procurada. É o estágio da consciência que se expande.

  • Pulsate – Batei: Bater é um gesto limiar. Pressupõe coragem e vulnerabilidade. Ao bater, o ser humano se coloca diante do véu do Mistério, confiante de que será acolhido. Não exige, não invade, mas se aproxima com a dignidade de quem sabe que há uma porta — e que ela é feita para se abrir.

3. Deus: Presença que Responde, Não Mecânica que Premia

O versículo não apresenta Deus como um distribuidor automático de favores, mas como Presença viva que se relaciona com liberdade. Dar, deixar encontrar, abrir: são respostas que não violam a autonomia do orante, mas a confirmam. O Pai responde como quem respeita o tempo da alma e sua maturação.

Essa reciprocidade é sinal de uma teologia da liberdade: Deus não responde porque é obrigado, mas porque deseja. E a criatura recebe, não como um capricho atendido, mas como expressão de comunhão com o Ser.

4. A Porta Está Dentro: O Caminho da Interioridade

Na tradição espiritual, a porta a ser batida está dentro. Não é Deus que está longe, mas a alma que está dispersa. Ao pedir, buscar e bater, o ser humano está na verdade se reconectando com sua própria origem. O Reino é interior, e essa trilha em três verbos é o caminho da reintegração.

A abertura que se dá não é apenas exterior, mas existencial. É o véu que se rasga, o coração que se abre, o sentido que se ilumina. O ser humano não apenas encontra algo — ele se encontra como criatura desejada, digna e chamada a participar da própria criação.

5. O Amor como Resposta da Realidade

Este versículo é a confirmação de que o universo é responsivo ao Amor. A realidade não é surda nem indiferente; ela é, em seu núcleo mais íntimo, relacional. A alma que pede com verdade, busca com inteireza e bate com confiança, encontrará sempre uma abertura — ainda que não da forma esperada.

A porta que se abre é, muitas vezes, a do próprio coração. A dádiva maior não é o que se recebe de fora, mas o que se descobre dentro: que somos ouvidos, que somos vistos, que somos amados.

Conclusão

Lucas 11,9 não é uma fórmula mágica, mas um mapa de ascensão interior. Ele revela que a alma humana, em sua liberdade, é chamada a participar da dinâmica do Amor que cria, sustenta e transforma. O pedido desperta a humildade, a busca ativa o desejo, e o bater consagra a coragem da alma desperta. E a resposta divina — sempre livre, sempre amorosa — confirma que o universo não é um abismo sem eco, mas um campo de comunhão onde cada gesto de fé encontra sua resposta em forma de Luz.

Leia: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

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