Liturgia Diária23 – SEXTA-FEIRA
5ª SEMANA DA PÁSCOA
(branco – ofício do dia)
O Cordeiro imolado é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor, aleluia (Ap 5,12).
Toda manifestação que encoraja o espírito nascente é um gesto sagrado de liberdade interior. Quando os guias da fé se inclinam para os primeiros passos do outro, acendem a centelha da dignidade humana. Esse cuidado — sutil e firme — traduz a verdadeira fraternidade: não impõe, mas inspira. A alegria que dele brota é o sinal de que a alma encontra espaço para florir. Pois todo ato que eleva o outro sem exigir submissão é uma celebração da responsabilidade e da consciência, fundamentos do bem comum.
“Amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei”
— João 15:12
Evangelium secundum Ioannem 15,12-17
12. Hoc est praeceptum meum ut diligatis invicem sicut dilexi vos.
Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei.
13. Maiorem hac dilectionem nemo habet ut animam suam ponat quis pro amicis suis.
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos.
14. Vos amici mei estis si feceritis quae ego praecipio vobis.
Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando.
15. Iam non dico vos servos quia servus nescit quid faciat dominus eius vos autem dixi amicos quia omnia quaecumque audivi a Patre meo nota feci vobis.
Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai, vos dei a conhecer.
16. Non vos me elegistis sed ego elegi vos et posui vos ut eatis et fructum afferatis et fructus vester maneat ut quodcumque petieritis Patrem in nomine meo det vobis.
Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vos conceda.
17. Haec mando vobis ut diligatis invicem.
Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.
Reflexão:
Quando a amizade se faz critério da liberdade, o amor transforma-se em força criadora. Já não há servos, mas companheiros na grande jornada do vir-a-ser. O chamado é à ação frutífera, onde cada ser é convocado a florescer no campo da consciência e da escolha. O vínculo que nasce do conhecimento partilhado se converte em responsabilidade mútua. Escolher amar é ultrapassar a matéria da imposição e tocar a essência do vínculo. Toda escolha livre que edifica é um passo no caminho da plenitude. O fruto duradouro é aquele que brota de almas que se reconhecem como coautoras do bem comum.
Versículo mais importante:
Maiorem hac dilectionem nemo habet, ut animam suam ponat quis pro amicis suis.
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. (Jo 15:13)
Este versículo resume o espírito do trecho: o amor pleno é aquele que se doa, não por imposição, mas por liberdade e comunhão. É a base do vínculo humano elevado à sua forma mais pura.
HOMILIA
O Amor que Conduz ao Centro
Caríssimos,
Escutamos hoje palavras que não envelhecem: “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei.” (Jo 15,12) — um chamado que transcende o tempo, ecoando desde o coração da Origem até os confins do ser.
Quando Cristo pronuncia esse mandamento, Ele não nos entrega um código externo, mas revela a essência mais íntima da vocação humana: amar com liberdade, como quem sabe que tudo quanto possui foi antes recebido. Ao dizer: “Já não vos chamo servos, mas amigos” (Jo 15,15), Ele rompe com toda forma de sujeição que nega a dignidade do espírito. No lugar da obediência cega, propõe a comunhão entre consciências — uma aliança de reciprocidade onde o amor se expande por livre escolha.
A amizade, neste Evangelho, é muito mais que afeto — é comunhão de projetos, partilha de sentido, convergência de destinos. É nesse ponto que o ser humano desperta para sua responsabilidade cósmica: dar fruto que permaneça, isto é, gerar realidades que não se percam no tempo, mas que enraízem no eterno.
Jesus não nos pede que sejamos iguais, mas que sejamos íntimos. A intimidade que Ele deseja é a que brota da liberdade de ser e doar-se. Por isso, o maior amor é aquele que se entrega por vontade e não por dever.
No solo sagrado da liberdade, o amor é a força evolutiva que nos conduz ao Centro — ao ponto em que cada consciência, ao encontrar a do outro, percebe-se convocada a crescer em plenitude. Neste mandamento, encontramos não apenas um imperativo ético, mas uma dinâmica de elevação espiritual: amar é subir, é unir, é transformar.
E assim, o mandamento de Cristo não é peso, mas impulso. Ele não nos limita, mas nos lança à altura do que somos chamados a ser: seres que amam até o fim, porque sabem que só no amor se realiza a verdadeira criação.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos” (João 15,13)
1. O Amor como Entrega Total
Este versículo revela a plenitude do amor, não como afeição superficial, mas como doação radical de si. Dar a vida pelos amigos não significa apenas morrer fisicamente — embora esse seja o ápice —, mas viver em constante disposição de se entregar: tempo, escuta, presença, perdão, sacrifício. Esse amor se mede pela profundidade do compromisso com o bem do outro.
2. A Amizade como Espaço Sagrado
Jesus eleva a amizade ao nível do sagrado. Ele não fala de amor por “próximos” em termos genéricos, mas por amigos — indicando um vínculo pessoal, íntimo e consciente. A amizade, nesta chave, é a mais nobre das alianças humanas, pois nela o amor se baseia na liberdade, na escolha e na confiança mútua. Trata-se de uma reciprocidade não forçada, mas desejada.
3. A Liberdade de Amar como Ato Supremo
Dar a vida implica liberdade interior: ninguém é forçado a amar assim. Por isso, esse versículo está intimamente ligado ao exercício da vontade espiritual. A entrega só tem valor pleno quando nasce da liberdade, quando é expressão da consciência iluminada que reconhece no outro uma extensão de si mesmo, digna de cuidado absoluto.
4. Cristo como Modelo do Amor Maior
Jesus não apenas ensina com palavras, mas cumpre com a própria existência esta máxima. Sua morte na cruz é o gesto supremo de amor pelos seus amigos — e, por extensão, por toda a humanidade. Nele, vemos que o amor que dá a vida é também o amor que salva, que redime, que restaura o sentido da criação. É o amor pascal, que passa pela cruz para gerar nova vida.
5. Amor como Força Geradora do Cosmos
Teologicamente, este amor é reflexo do próprio dinamismo trinitário: o Pai se doa ao Filho, o Filho ao Pai, e o Espírito Santo é essa doação eterna. Quando o homem ama até dar a vida, ele participa deste movimento eterno de autodoação, tornando-se cooperador do plano divino e expressão viva do Logos criador.
6. A Superação do Ego pela Comunhão
Dar a vida pelos amigos é, por fim, um chamado à transcendência do ego, uma superação das barreiras entre “eu” e “tu”. No amor maior, o eu se desdobra, se entrega, se expande — e, ao fazê-lo, não se perde, mas se encontra. Pois é na comunhão que o ser atinge sua verdade: não no isolamento, mas na abertura generosa ao outro.
Conclusão
João 15,13 é um dos cumes do Evangelho. Ele sintetiza a essência da vida cristã: amar livremente, intensamente, até as últimas consequências. E nesse amor, o humano se torna divino, e o tempo se abre à eternidade. É o caminho pelo qual a existência se transforma em aliança, a liberdade em dom, e o amor em eternidade vivente.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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