Liturgia Diária
20 – TERÇA-FEIRA
5ª SEMANA DA PÁSCOA
(branco – ofício do dia)
Louvai o nosso Deus, todos os seus servos e todos os que o temeis, pequenos e grandes, pois chegou a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, aleluia (Ap 19,5; 12,10).
Impulsionados por um fogo interior que transcende o tempo, os primeiros discípulos de Cristo entregaram-se sem reservas à expansão da Verdade. Sua liberdade brotava da escuta profunda e da ação corajosa, como testemunhas vivas do Amor que liberta. Hoje, somos chamados a reconhecer esse mesmo impulso em cada missão que honra a dignidade do outro. Ao apoiarmos os que partem, nos tornamos coautores da esperança. A solidariedade espiritual deve ser acompanhada de generosidade concreta, pois o bem não floresce sem raízes na terra.
“Como pregarão, se não forem enviados?”
— Romanos 10:15
Lectio Sancti Evangelii secundum Ioannem 14,27-31
27 Pacem relinquo vobis, pacem meam do vobis: non quomodo mundus dat, ego do vobis. Non turbetur cor vestrum, neque formidet.
Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se acovarde.
28 Audistis quia ego dixi vobis: Vado et venio ad vos. Si diligeretis me, gauderetis utique, quia vado ad Patrem: quia Pater maior me est.
Ouvistes o que eu vos disse: Vou e voltarei a vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu.
29 Et nunc dixi vobis priusquam fiat: ut cum factum fuerit credatis.
E agora vos disse antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais.
30 Jam non multa loquar vobiscum: venit enim princeps mundi hujus, et in me non habet quidquam.
Já não falarei muito convosco, pois o príncipe deste mundo vem; contra mim ele nada pode.
31 Sed ut cognoscat mundus quia diligo Patrem: et sicut mandatum dedit mihi Pater, sic facio. Surgite, eamus hinc.
Mas para que o mundo saiba que amo o Pai, e que faço como o Pai me ordenou: levantai-vos, vamos daqui.
Reflexão:
A verdadeira paz não é ausência de conflito, mas presença de sentido. Quando o Cristo doa sua paz, Ele oferece um espaço interior de liberdade onde cada ser pode realizar-se na plenitude do amor. Essa doação não é imposta, mas proposta: ela respeita o tempo, o caminho e a escolha de cada um. A consciência humana, ao despertar para essa presença, transforma-se em agente ativo da comunhão e da esperança. Somos chamados a cooperar com a evolução do espírito, ampliando as fronteiras da vida através do amor e da ação voluntária. A paz que recebemos é também missão que compartilhamos.
Versículo mais importante:
Pacem relinquo vobis, pacem meam do vobis: non quomodo mundus dat, ego do vobis. Non turbetur cor vestrum, neque formidet.
Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se acovarde. (Jo 14:27)
Este versículo resume a essência da confiança cristã e da autonomia espiritual: uma paz que nasce de dentro, sustentada pelo amor e pela liberdade, não sujeita às circunstâncias externas.
HOMILIA
A Paz que Conduz à Plenitude
Amados,
no silêncio profundo do coração humano, ecoa ainda a voz do Verbo: “Pacem relinquo vobis, pacem meam do vobis.” Esta não é a paz frágil dos acordos ou das aparências; é a paz que nasce do centro, onde o ser se encontra com sua Origem e onde a liberdade se torna comunhão. Essa paz é dom, mas também caminho — não um repouso, mas um impulso vital que move o espírito rumo ao mais alto de si mesmo.
Cristo não nos dá como o mundo dá, pois o mundo oferta segurança condicionada, enquanto Ele oferece sentido absoluto. Sua paz não é fuga, mas presença transformadora. Ela nos chama a crescer, a unir, a gerar — porque toda a realidade vibra com a promessa de realização interior. E é aí que a missão se revela: cooperar com esse processo vivo, não por imposição, mas por convicção livre, onde o amor e a consciência atuam em sinergia.
“Non turbetur cor vestrum, neque formidet.” Que esta seja a resposta do espírito à inquietação: não o medo, mas o movimento da confiança. Quando o Cristo diz “Surgite, eamus hinc”, Ele nos chama a erguer-nos, a transcender as limitações imediatas e a participar de uma grande obra, onde cada ato de liberdade consciente contribui para a plenitude do Todo.
Assim, somos convocados não apenas a receber a paz, mas a tornarmo-nos canais vivos dela — construtores de um mundo interiormente ordenado, onde o amor não é um sentimento vago, mas a força que estrutura a realidade e a conduz à sua vocação mais alta.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
João 14,27 — “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se acovarde.” — é uma das declarações mais teologicamente densas de Cristo, feita no contexto do discurso de despedida durante a Última Ceia. Este versículo é uma chave para compreender não apenas a missão de Jesus, mas também a natureza da salvação que Ele oferece.
1. “Deixo-vos a paz” – A herança messiânica
Jesus inicia com um gesto de doação: deixar a paz. Em linguagem bíblica, "deixar" tem conotações de testamento, como um bem que se entrega antes da partida. Ele, que está prestes a ser entregue à morte, não deixa riquezas, poderes ou estruturas políticas, mas algo mais essencial: a paz (shalom em hebraico), que na tradição judaica significa plenitude, harmonia com Deus, com o próximo e consigo mesmo. Não é simples ausência de conflito, mas a totalidade do bem.
2. “A minha paz vos dou” – A paz divina, não mundana
Aqui Cristo especifica: "minha paz", ou seja, a paz que Ele mesmo possui em união eterna com o Pai. É uma paz que nasce da perfeita obediência, da comunhão absoluta com o Amor que sustenta o universo. Esta paz é fruto de uma liberdade interior total, que nada pode violar, nem mesmo a cruz. Ao dizer que dá essa paz, Jesus está comunicando não algo externo, mas um princípio vital que nos permite viver como Ele viveu — centrados, livres, unidos ao divino.
3. “Não vo-la dou como o mundo a dá” – O contraste entre sistemas
A paz do mundo é condicional, frágil, baseada em acordos, controle ou ausência temporária de conflito. Está sujeita às forças externas. A paz de Cristo é interior, absoluta, enraizada na verdade e na confiança no Pai. O mundo propõe tranquilidade como conformismo; Cristo propõe a paz como fruto da verdade e da entrega amorosa. Portanto, essa paz não depende das circunstâncias, mas da transformação do ser.
4. “Não se perturbe o vosso coração” – A firmeza da alma
A palavra “coração” na tradição bíblica representa o centro da vontade e da decisão, não apenas o sentimento. Cristo sabe da angústia que se aproxima, mas orienta seus discípulos a não deixarem o medo tomar o centro de seu ser. Essa tranquilidade nasce da confiança, de saber-se sustentado por algo eterno.
5. “Nem se acovarde” – A coragem da fé
Aqui, a paz não se opõe apenas à inquietação, mas ao medo paralisante. Cristo convida a uma coragem ativa, que brota da união com Ele. O termo grego usado no original para "se acovardar" (deilía) implica covardia, falta de ousadia espiritual. A paz que Ele dá é também força para agir, para levantar-se com dignidade diante dos desafios da existência.
Conclusão teológica:
Este versículo revela que a verdadeira paz é um dom transcendente, uma energia interior que nasce da união com Deus e da liberdade espiritual. Ela não é passiva, mas dinâmica: sustenta o coração humano no caminho da verdade, mesmo diante do sofrimento. Jesus não oferece alívio temporário, mas comunhão eterna com o Pai — fonte da verdadeira liberdade, coragem e plenitude. Receber essa paz é entrar numa nova ordem do ser, onde o medo não reina, e onde cada pessoa é chamada a viver como expressão consciente do Amor que tudo sustenta.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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