Liturgia Diária
21 – QUARTA-FEIRA
5ª SEMANA DA PÁSCOA
(branco – ofício do dia)
Vosso louvor é transbordante em minha boca, a alegria cantará sobre meus lábios, aleluia (Sl 70,8.23).
O Espírito que habita em cada ser convoca à escuta mútua e ao diálogo como via de revelação. Quando os indivíduos se reúnem em liberdade, não pela imposição, mas pela inspiração interior, nasce a verdadeira comunidade: aquela que floresce na diversidade reconciliada. Não há tirania onde o Espírito sopra, mas discernimento comum que respeita a consciência de cada um. Na comunhão movida pela transcendência, brotam as soluções que não oprimem, mas libertam; que não impõem, mas edificam. Assim, cresce o corpo vivo da humanidade, onde toda decisão nasce do encontro entre razão, fé e liberdade.
“Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.”
— 2 Coríntios 3:17
Lectio Sancti Evangelii secundum Ioannem 15,1-8
-
Ego sum vitis vera: et Pater meus agricola est.
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. -
Omnem palmitem in me non ferentem fructum tollet eum: et omnem qui fert fructum, purgabit eum, ut fructum plus afferat.
Todo ramo que em mim não dá fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto. -
Iam vos mundi estis propter sermonem, quem locutus sum vobis.
Vós já estais limpos por causa da palavra que vos falei. -
Manete in me, et ego in vobis. Sicut palmes non potest ferre fructum a semetipso, nisi manserit in vite: sic nec vos, nisi in me manseritis.
Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. -
Ego sum vitis, vos palmites: qui manet in me, et ego in eo, hic fert fructum multum: quia sine me nihil potestis facere.
Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. -
Si quis in me non manserit, mittetur foras sicut palmes, et aruit, et colligent eum, et in ignem mittunt, et ardet.
Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora como o ramo, e secará; esses ramos são recolhidos, lançados ao fogo e queimados. -
Si manseritis in me, et verba mea in vobis manserint, quodcumque volueritis, petetis, et fiet vobis.
Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. -
In hoc clarificatus est Pater meus, ut fructum plurimum afferatis, et efficiamini mei discipuli.
Nisto é glorificado meu Pai: que deis muito fruto, e vos torneis meus discípulos.
Reflexão:
A videira é a imagem da interdependência que sustenta a vida em sua plenitude. Cada ser é chamado a florescer a partir de sua própria interioridade, mas em comunhão com a Fonte que anima o todo. A liberdade verdadeira não se dá no isolamento, mas no vínculo vital que respeita o crescimento singular de cada ramo. Ao permanecer no Verbo, descobrimos que o fruto mais pleno nasce da escuta e da ação que se unem. A criatividade individual, iluminada pela presença divina, torna-se serviço, partilha e construção comum. A plenitude do ser revela-se na liberdade que frutifica em comunhão.
Versículo mais importante:
Ego sum vitis, vos palmites: qui manet in me, et ego in eo, hic fert fructum multum: quia sine me nihil potestis facere.
Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. (Jo15:5)
Este versículo sintetiza o coração do ensinamento: a união interior com Cristo é a fonte de toda verdadeira realização e liberdade espiritual. A imagem da videira revela uma dinâmica de vida que flui, não pela força ou imposição, mas pela permanência no Amor que sustenta o ser.
HOMILIA
O Fruto Invisível da Permanência
Caríssimos,
No mistério revelado por Cristo na imagem da videira, desvela-se mais que um ensinamento moral ou uma exortação à virtude: revela-se o segredo da existência unificada, onde cada ser encontra sua verdadeira identidade ao permanecer enraizado na Fonte viva de tudo o que é.
“Ego sum vitis, vos palmites.”
— Eu sou a videira, vós os ramos.
Não somos peças soltas em um universo fragmentado, nem consciências isoladas lançadas ao acaso. Somos prolongamentos de uma única Vida, expressões diversas de um mesmo Foco incandescente que pulsa em toda parte. Permanecer em Cristo, como o ramo na videira, é deixar-se habitar por uma força que nos transcende e, ao mesmo tempo, nos constitui. Essa permanência não é passividade, mas ato interior de liberdade, escolha contínua de co-criar com o Amor que tudo vivifica.
Em cada gesto humano que brota desse vínculo — na escuta, no diálogo, na criação, no cuidado, na justiça — realiza-se o fruto verdadeiro: aquele que não pode ser medido em números, mas que se conhece pelo perfume de sua origem. O Pai, o Agricultor, limpa os ramos que dão fruto, não para podá-los à força, mas para que se tornem ainda mais livres, mais luminosos, mais fecundos.
Quem se afasta dessa seiva torna-se ramo seco: não porque lhe falte mérito, mas porque se desconectou da vibração profunda que sustenta o ser. Mas aquele que permanece, que escuta e acolhe, torna-se um com o Cristo — não por absorção, mas por sintonia. E nesse estado de comunhão, tudo o que for pedido não será apenas desejo individual, mas manifestação da vontade do Todo em nós.
O mundo não se transforma pela imposição de ideias ou pela força das estruturas, mas pela emergência interior do Fruto invisível: aquele que nasce do coração livre e enraizado no Amor. A cada ser é confiada a sagrada tarefa de florescer, não por si mesmo, mas como ramo consciente de que a plenitude não é posse, mas partilha.
“In hoc clarificatus est Pater meus, ut fructum plurimum afferatis.”
— Nisto é glorificado meu Pai: que deis muito fruto.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação Teológica Profunda de João 15,5
“Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.”
Este versículo condensa uma das mais altas expressões da teologia joanina e da cristologia mística: a união vital entre Cristo e os fiéis. A imagem da videira e dos ramos é profundamente simbólica e possui várias camadas de sentido, que podem ser compreendidas à luz da teologia bíblica, da antropologia espiritual e da revelação trinitária.
1. Cristo como Fonte da Vida Ontológica
Ao afirmar “Eu sou a videira”, Jesus se identifica como o princípio gerador da vida espiritual, a origem de toda fecundidade interior. A videira, no contexto bíblico, é símbolo do povo de Deus (cf. Is 5,1-7; Sl 80,9-17), mas aqui Cristo se apresenta como a verdadeira videira (vitis vera, cf. Jo 15,1), indicando que Ele é a realidade última da qual Israel era apenas figura. Os discípulos — os ramos — não têm vida em si mesmos, mas apenas na medida em que estão enxertados n'Ele. Teologicamente, isso exprime a dependência radical da criatura em relação ao Criador encarnado.
2. A Permanência como Ato Espiritual e Livre
“Quem permanece em mim, e eu nele...” é mais que uma proximidade; é uma habitação recíproca. A expressão grega ménein (permanecer) denota constância, fidelidade, enraizamento. Trata-se de uma relação dinâmica que exige liberdade e adesão consciente. Essa permanência é também uma forma de pericorese espiritual: Cristo habita o fiel, e o fiel habita em Cristo. Isso realiza a oração de Jesus em João 17: “que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti” — revelando que o destino último do ser humano é a união participativa com o próprio Deus.
3. Frutificar como Expressão da Graça Ativa
“Esse dá muito fruto.” O fruto não é resultado da capacidade natural do ramo, mas da seiva que flui da videira. Aqui, o “fruto” é tudo aquilo que nasce da comunhão com Cristo: caridade, justiça, paciência, sabedoria, serviço, verdade — ou seja, manifestações da vida divina no agir humano. Essa fecundidade espiritual é o sinal da verdadeira união com Deus e é, ao mesmo tempo, missão e revelação.
4. Sem Cristo, Nada Podeis Fazer
Esta é talvez a afirmação mais radical do versículo: “Sine me nihil potestis facere.” Não se trata de uma incapacidade meramente moral, mas de uma impossibilidade ontológica. Fora da videira, o ramo não pode sequer viver, quanto mais frutificar. Toda ação verdadeiramente boa, no sentido cristão, é fruto da graça que opera no homem. Isso não nega a liberdade humana, mas a esclarece: sem a luz, o olho não vê; sem a seiva, o ramo seca. A autonomia absoluta é ilusão. A verdadeira liberdade é dependência amorosa da Fonte que nos sustenta.
Conclusão
João 15,5 revela que a vida cristã não é uma série de esforços isolados para agradar a Deus, mas um estado de comunhão contínua e transformadora com o Cristo vivo. Permanecer n'Ele é tornar-se participante da vida divina, é viver enraizado no Amor que nos criou e nos chama a florescer no mundo. É também reconhecer que a verdadeira fecundidade — pessoal, comunitária e até civilizacional — brota sempre de dentro para fora, da união invisível com Aquele que é a videira eterna.
“Eu sou a videira, vós os ramos.” — é o chamado a uma liberdade que se realiza na comunhão, a uma vida que só encontra sentido ao dar fruto, e a um amor que se revela inseparável da Fonte que o gera.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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