Liturgia Diária
6 – SEXTA-FEIRA
7ª SEMANA DA PÁSCOA
(branco, pref. [depois] da Ascensão – ofício do dia)
"Àquele que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados,
e fez de nós um reino de sacerdotes para seu Deus e Pai, a ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos! Amém."
— Apocalipse 1,5-6 (Bíblia de Jerusalém)
Por entre os labirintos da incerteza humana, a Providência se move com sabedoria oculta. Até mesmo a hesitação dos que resistem ao Reino torna-se instrumento do desígnio divino. A liberdade, quando unida à consciência, revela-se como via de cooperação com o Eterno. Não temamos a diversidade de vozes nem os embates do mundo: toda alma desperta é chamada a discernir pela luz interior que brilha além do medo. Confiemos, portanto, na iluminação do Espírito, que sopra onde quer, e renovemos, no íntimo, nosso pacto amoroso com Aquele que, por amor, nos libertou para sermos verdadeiramente.
Dominica Post Ascensionem – Evangelium secundum Ioannem 21,15-19
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Cum ergo manducassent, dicit Simoni Petro Iesus: Simon Ioannis, diligis me plus his? Dicit ei: Etiam Domine, tu scis quia amo te. Dicit ei: Pasce agnos meos.
Depois de terem comido, Jesus disse a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Jesus lhe disse: Apascenta os meus cordeiros.
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Dicit ei iterum: Simon Ioannis, diligis me? Ait illi: Etiam Domine, tu scis quia amo te. Dicit ei: Pasce agnos meos.
Disse-lhe novamente: Simão, filho de João, amas-me? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Jesus lhe disse: Apascenta os meus cordeiros.
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Dicit ei tertio: Simon Ioannis, amas me? Contristatus est Petrus, quia dixit ei tertio: Amas me? Et dixit ei: Domine, tu omnia scis: tu scis quia amo te. Dixit ei: Pasce oves meas.
Disse-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque Jesus lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me? E respondeu: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.
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Amen, amen dico tibi: Cum esses iunior, cingebas te, et ambulabas ubi volebas; cum autem senueris, extendes manus tuas, et alius te cinget, et ducet quo tu non vis.
Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, vestias-te a ti mesmo e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres.
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Hoc autem dixit, significans qua morte clarificaturus esset Deum. Et cum hoc dixisset, dicit ei: Sequere me.
Jesus disse isso para indicar com que morte Pedro glorificaria a Deus. E, depois de falar assim, disse-lhe: Segue-me.
Reflexão:
O amor, quando livremente assumido, transforma-se em missão. Pedro é chamado a guiar não pela imposição, mas pela entrega do coração. Ao reconhecer-se amado, ele se torna responsável. Assim também cada ser humano: chamado à liberdade, é convidado a cooperar com o eterno no cuidado do mundo. A confiança divina repousa sobre o íntimo da escolha consciente. Servir é crescer. Guiar é doar-se. Mesmo as limitações do tempo e do corpo não anulam o poder do espírito que ama. Na travessia da existência, seguir Aquele que nos chama é descobrir que a verdadeira grandeza está em amar até o fim.
Versículo mais importaante:
O versículo mais central e teologicamente significativo de João 21,15-19 é o versículo 17, pois nele se culmina o diálogo entre Jesus e Pedro com profundidade afetiva e simbólica, marcando o momento em que Pedro confirma seu amor e recebe a missão definitiva:
Joannes 21,17 – Vulgata Clementina
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Dicit ei tertio: Simon Ioannis, amas me? Contristatus est Petrus, quia dixit ei tertio: Amas me? Et dixit ei: Domine, tu omnia scis: tu scis quia amo te. Dixit ei: Pasce oves meas.
Disse-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque Jesus lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me? E respondeu: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.
HOMILIA
O Amor que Gera o Cosmos Interior
No silêncio que sucede a refeição à beira do lago, ressoa uma pergunta que ultrapassa os tempos: “Amas-me?” Não se trata de uma cobrança, mas de um convite a mergulhar no mais íntimo da consciência, onde repousa o centro vivo do ser. Pedro, chamado três vezes pelo nome e três vezes interpelado no amor, encontra-se diante de um limiar: não é mais o pescador impetuoso, mas o homem que deve aprender a transfigurar sua liberdade em serviço.
Jesus não pede admiração, nem devoção ritual; Ele pede amor — um amor que seja ato de criação. Amar é gerar, é fazer nascer. Quando Pedro diz “Tu sabes que te amo”, ele inaugura, em si mesmo, a possibilidade de tornar-se criador com o Criador: “Apascenta minhas ovelhas.” Eis a missão não como fardo, mas como florescimento da alma.
Cada ser humano carrega em si a potência de responder a esse mesmo chamado. Ser livre não é andar para onde se quer, mas descobrir, na própria entrega, a rota que conduz ao centro de todas as coisas. A maturidade do espírito se revela quando já não nos vestimos a nós mesmos com as vestes do ego, mas deixamos que outro nos cinga — o Amor maior — e nos conduza ao lugar onde não escolheríamos ir, mas onde tudo se plenifica.
Na pergunta de Cristo, ecoa o anseio da própria Criação: ser amada, cuidada, elevada. E na resposta de Pedro, habita o início de um novo mundo — um mundo onde a força já não está no domínio, mas na ternura que sustenta, no zelo que edifica, na liberdade que se oferta por amor.
Assim, a pergunta retorna a cada um: “Amas-me?” — E a resposta, se for verdadeira, há de transformar a existência em pastoreio do invisível, em comunhão com o eterno, em participação viva da obra que não cessa de nascer.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação teológica profunda – João 21,17
"Dicit ei tertio: Simon Ioannis, amas me? Contristatus est Petrus, quia dixit ei tertio: Amas me? Et dixit ei: Domine, tu omnia scis: tu scis quia amo te. Dixit ei: Pasce oves meas."
— João 21,17
Este versículo constitui o ponto culminante do tríplice diálogo entre Jesus ressuscitado e Pedro. Sua densidade teológica está enraizada na reconciliação, na missão e na transformação do amor humano em resposta ao amor divino.
1. O tríplice "amas-me?" como cura da tríplice negação
A repetição por três vezes da pergunta de Jesus não é redundância, mas redenção. Cada "amas-me?" ecoa e cura cada negação de Pedro na noite da paixão (cf. Jo 18,17.25-27). O Cristo ressuscitado não repreende, mas convida Pedro a reentrar na verdade de si mesmo. A tristeza de Pedro revela essa ferida ainda aberta, mas também sua disposição de acolher o olhar restaurador do Senhor.
2. Da filia ao ágape: o amadurecimento do amor
No grego original, há uma sutileza teológica preciosa: nas duas primeiras perguntas, Jesus usa agapás me? (amor doação, amor incondicional), e Pedro responde com philô se (amor de amizade, afeto humano). Na terceira vez, Jesus adapta-se e pergunta com o mesmo termo que Pedro usava: philêis me? Jesus desce ao nível de Pedro, reconhecendo sua humanidade ferida e acolhendo seu amor imperfeito. Isso revela que Deus não exige o impossível, mas transforma o possível em sublime. O amor humano, mesmo limitado, quando ofertado com sinceridade, é assumido e transfigurado por Deus.
3. "Tu sabes tudo" — a entrega ao olhar onisciente de Cristo
Ao afirmar: "Senhor, tu sabes tudo", Pedro não apenas confirma sua fé na onisciência divina, mas entrega seu coração sem defesa, permitindo que Jesus conheça suas intenções mais íntimas. É uma confissão humilde e total, que consagra a confiança sobre o medo e a transparência sobre a força bruta.
4. "Apascenta as minhas ovelhas" — o amor que se faz missão
A resposta de Cristo sela uma missão. A prova do amor não está nas palavras, mas na capacidade de cuidar. Apascentar não é apenas ensinar ou liderar, mas nutrir, proteger, caminhar junto. Pedro é instituído como pastor, não por mérito próprio, mas porque seu coração, agora quebrantado e reerguido pelo amor, está apto a conduzir os outros com compaixão. O rebanho não é dele, é de Cristo: "apascenta as minhas ovelhas". Trata-se de uma missão recebida, não assumida por autoridade pessoal.
Conclusão
João 21,17 é um versículo onde o mistério da redenção pessoal encontra a vocação eclesial. Pedro, o homem frágil e arrependido, torna-se o pastor universal, não por força ou perfeição, mas porque amou e se deixou amar. A Igreja nasce deste amor restaurado, feito missão — um amor que, tocado pela graça, se torna capaz de cuidar do mundo em nome do Ressuscitado.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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