Liturgia Diária
15 – SEXTA-FEIRA
19ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Lembrai-vos, Senhor, da vossa aliança e nunca esqueçais a vida dos vossos pobres. Levantai-vos, Senhor, e julgai vossa causa, e não fecheis o ouvido ao clamor dos que vos procuram (Sl 73,20.19.22s).
O Senhor, Fonte eterna da liberdade e da dignidade humanas, jamais se ausenta da história. Sua presença silenciosa conduz cada ser à plenitude de seu propósito. Ele age nas encruzilhadas da vida, oferecendo caminhos que respeitam a escolha e a consciência. Reconhecer Suas intervenções é abrir-se à luz que liberta da ignorância e do medo. A dureza de coração, porém, ergue muros contra o fluxo de Seu amor, negando o direito de florescer em verdade. Quem se abre ao Seu projeto descobre que a vida é um dom, e que a liberdade é inseparável do amor divino que sustenta tudo.
Evangelium secundum Matthæum, 19, 3-12
3 Et accesserunt ad eum Pharisaei temptantes eum et dicentes si licet homini dimittere uxorem suam quacumque ex causa
E chegaram a Jesus os fariseus, pondo-o à prova, e perguntando: é permitido ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?
4 Qui respondens ait eis non legistis quia qui fecit ab initio masculum et feminam fecit eos
Jesus respondeu-lhes: “Não tendes lido que, desde o princípio, quem os fez, fez-os macho e fêmea?”
5 Et dixit propter hoc dimittet homo patrem et matrem et adherebit uxori suae et erunt duo in carne una
E continuou: “Por isso deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne.”
6 Itaque iam non sunt duo sed una caro quod ergo Deus coniunxit homo non separet
Assim, já não são dois, mas sim uma só carne; portanto, o que Deus uniu, o homem não separará.
7 Dicunt illi quid ergo Moses mandavit dari libellum repudii et dimittere
Disseram-lhe então: “Por que Moisés, pois, mandou dar carta de divórcio e repudiá-la?”
8 Ait illis quoniam Moses ad duritiam cordis vestri permisit vobis dimittere uxores vestras ab initio autem non sic fuit
Respondeu-lhes Jesus: “Porque Moisés permitiu que repudiásseis vossas mulheres por causa da dureza de vosso coração; mas, desde o princípio, não foi assim.”
9 Dico autem vobis quia quicumque dimiserit uxorem suam nisi ob fornicationem et aliam duxerit moechatur et qui dimissam duxerit moechatur
E disse-lhes: “Eu, porém, vos digo que quem repudiar sua mulher — salvo por causa de infidelidade — e casar-se com outra, comete adultério; e quem se casar com a repudiada também comete adultério.”
10 Dicunt ei discipuli eius si ita est causa homini cum uxore non expedit nubere
Disseram-lhe seus discípulos: “Se essa é a condição do homem com a mulher, não convém casar.”
11 Qui dixit non omnes capiunt verbum istud sed quibus datum est
Ele respondeu-lhes: “Nem todos podem receber esta palavra, mas apenas aqueles a quem é dado.”
12 Sunt enim eunuchi qui de matris utero sic nati sunt et sunt eunuchi qui facti sunt ab hominibus et sunt eunuchi qui se ipsos castraverunt propter regnum caelorum qui potest capere capiat
“Há eunucos que assim nasceram do ventre de sua mãe; outros foram feitos eunucos por homens; outros se fizeram eunucos por causa do reino dos céus; quem puder aceitar, aceite.”
Reflexão:
Neste trecho, somos lembrados de que os vínculos humanos mais profundos só florescem quando respeitam a dignidade individual e a responsabilidade mútua. O chamado ao compromisso, feito com respeito à escolha e à consciência, revela que certas uniões são tão sólidas que transcendem conveniências momentâneas, inspirando uma ordem social construída sobre confiança e autonomia. Quando o coração se abre à dimensão do bem comum, renuncia a facilidades que corroem o vínculo e abraça um ideal de união que fortalece não apenas indivíduos, mas toda a comunidade.
Versículo mais importante:
Do trecho Evangelium secundum Matthæum, 19, 3-12, um versículo central e de maior peso é o versículo 6, pois sintetiza o ensinamento essencial de Jesus sobre a união e a vontade divina:
6 Itaque iam non sunt duo sed una caro quod ergo Deus coniunxit homo non separet
Assim, já não são dois, mas sim uma só carne; portanto, o que Deus uniu, o homem não separará.(Mt 19:6)
HOMILIA
O Mistério da Unidade que Transcende
No diálogo com os fariseus, Jesus não responde apenas a uma questão jurídica, mas revela um princípio inscrito no próprio tecido da Criação: o que Deus une participa de uma ordem mais alta que a vontade instável dos homens. A união autêntica, seja no matrimônio ou em qualquer aliança verdadeira, nasce de uma convergência interior onde duas liberdades se tornam um só fluxo de vida, sem anular-se, mas encontrando sua plenitude no encontro.
Essa realidade aponta para um caminho de evolução interior, onde o ser humano aprende que a liberdade não é ruptura arbitrária, mas fidelidade a um sentido maior. A dignidade da pessoa não se realiza no isolamento, mas na comunhão que respeita a individualidade e, ao mesmo tempo, a integra em um todo mais amplo.
O coração endurecido quebra a harmonia do desígnio divino, mas o coração aberto percebe que cada vínculo sagrado é como um passo na escalada da alma, aproximando-a da fonte original. A verdadeira união é, assim, um laboratório do espírito, onde se lapida a consciência, se amplia a capacidade de amar e se participa da grande obra pela qual Deus chama todas as coisas à unidade.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Uma proposta estruturada e aprofundada sobre Mateus 19:6, com uma abordagem teológica e visão metafísica:
1. A Unidade como Mistério Ontológico
Quando Jesus declara que “já não são dois, mas sim uma só carne”, Ele não se limita a um conceito social ou jurídico do matrimônio. Trata-se de uma afirmação ontológica: na união querida por Deus, duas existências passam a compartilhar um mesmo campo de vida, como se uma energia única sustentasse ambas. Essa unidade é mais do que fusão física; é a interpenetração de destinos, valores e sentidos de existência.
2. A Dimensão Espiritual da Carne Única
No pensamento bíblico, “carne” não significa apenas corpo, mas a totalidade da pessoa em sua condição humana. Tornar-se “uma só carne” é criar uma realidade nova, que não existia antes: um “nós” que transcende o “eu” e o “tu”. No plano espiritual, isso reflete o próprio mistério da criação, onde a diversidade encontra a plenitude no encontro.
3. A Vontade Divina como Fundamento da União
A segunda parte do versículo — “o que Deus uniu, o homem não separará” — coloca a origem e a autoridade dessa união no próprio Deus. Não é apenas a escolha humana que sela o vínculo, mas a convergência desta escolha com o desígnio divino. No plano metafísico, significa que há ligações tecidas no nível da essência, não apenas da circunstância.
4. A Unidade como Caminho de Evolução Interior
Se duas vidas estão unidas por uma realidade mais profunda, essa comunhão se torna um espaço de transformação. Os atritos, alegrias e desafios da convivência não são meros fatos cotidianos, mas instrumentos que lapidam o caráter, ampliam a consciência e conduzem ambos à maturidade espiritual.
5. A Inviolabilidade da Obra Divina
Separar o que Deus uniu é romper um elo que participa de Sua ordem criadora. Tal ato não é apenas quebra de um pacto humano, mas distorção de uma obra que possui sentido cósmico. No plano espiritual, é interromper um processo de crescimento que Deus mesmo estabeleceu para a plenitude dos envolvidos.
6. A Unidade como Reflexo da Plenitude Escatológica
O versículo aponta, em última instância, para o destino último da criação: todas as coisas unidas em Deus. O matrimônio, como “uma só carne”, torna-se sinal e sacramento desse estado final onde não há divisões, mas a integração perfeita de tudo no amor. Assim, cada união autêntica é um fragmento antecipado da harmonia final do universo.
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