Liturgia Diária
20 – SEXTA-FEIRA
11ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Escutai, Senhor, a voz do meu apelo. Sede meu amparo; não me rejeiteis nem me abandoneis, ó Deus, meu salvador (Sl 26,7.9).
Acumular riquezas efêmeras é entregar o espírito àquilo que perece. Jesus nos convida a transcender o apego ao transitório e cultivar valores imperecíveis — liberdade interior, responsabilidade, serviço. O verdadeiro tesouro não se mede por posses, mas pela integridade do ser que escolhe viver em coerência com o Alto. A consciência desperta busca o invisível fundamento do real, onde o bem comum se enraíza na dignidade de cada escolha livre. Ao elevar-se ao Céu, a alma investe na eternidade, tornando-se espaço fecundo do Reino, onde o servir não diminui, mas engrandece. Aí, nenhum ladrão, nem o tempo, pode roubar.
“Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”
— Mateus 6,21
Evangelium secundum Matthæum 6:19-23
Thesauri in caelo
19 nolite thesaurizare vobis thesauros in terra, ubi erugo et tinea demolitur, ubi fures effodiunt et furantur.
“Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça destroem, onde ladrões cavam e roubam.”
20 thesaurizate autem vobis thesauros in caelo, ubi neque erugo neque tinea demolitur, et ubi fures non effodiunt nec furantur.
“Mas acumulei para vós tesouros no céu, onde nem ferrugem nem traça destroem, e onde ladrões não escavam nem roubam.”
21 ubi enim est thesaurus tuus, ibi est et cor tuum.
“Pois onde estiver teu tesouro, aí estará também teu coração.”
22 lucerna corporis est oculus; si fuerit oculus tuus simplex, totum corpus tuum lucidum erit.
“O olho é a lâmpada do corpo; se teu olho for simples, todo teu corpo estará cheio de luz.”
23 si autem oculus tuus nequam fuerit, totum corpus tuum tenebrosum erit; si ergo lumen quod in te est tenebrae sunt, tenebræ quantae erunt!
“Mas se teu olho for mau, todo teu corpo estará nas trevas. Se pois a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão essas trevas!”
Reflexão:
A mensagem nos impulsiona a redirecionar a atenção para o que fortalece o potencial humano e a iniciativa individual voltada ao bem comum. Desvencilhar-se da busca por posses efêmeras permite construir bases de confiança fundamentadas na responsabilidade e na dignidade pessoal. Cada escolha consciente ilumina nosso caminho, tornando o projeto coletivo mais transparente e sólido. Quando o olhar se abre para possibilidades além do imediato, generamos valor que transcende interesses momentâneos e alimenta progresso sustentável. Uma sociedade madura valoriza a autonomia que serve ao todo, reconhecendo que a verdadeira riqueza brota da integridade e da cooperação.
Versículo mais importante:
O versículo considerado central e mais importante de Evangelium secundum Matthæum 6:19–23 é o versículo 21, pois ele resume o ensinamento essencial de Jesus sobre o lugar onde se deposita o verdadeiro valor:
21
ubi enim est thesaurus tuus, ibi est et cor tuum.
“Pois onde estiver teu tesouro, aí estará também teu coração.” (Mt 6:21
Este versículo revela o princípio espiritual e existencial que governa as escolhas humanas: aquilo a que damos valor molda quem somos. Onde colocamos nosso "tesouro" — seja ele material ou transcendente — ali repousará nossa atenção, amor e identidade.
HOMILIA
O Tesouro da Alma Desperta
Irmãos e irmãs, Jesus nos convida a erguer os olhos além do visível, onde o coração encontra raízes na esfera do eterno. Ao advertir contra a acumulação de tesouros terrenos, Ele aponta para o solo fértil da consciência desperta, onde germina a semente da liberdade interior. Não é o apego às posses que liberta, mas o desprendimento que revela a dignidade inalienável de cada ser.
Quando voltamos o olhar para o céu da alma, descobrimos que o verdadeiro tesouro é a capacidade de amar com responsabilidade e servir com autonomia. Cada gesto de generosidade engrandece nossa evolução íntima, conferindo leveza ao corpo e claridade ao espírito. Um olhar simples, iluminado pela compaixão, reflete a transparência de um coração em comunhão com o Todo.
Que nossas escolhas sejam pontes que elevem o coletivo, respeitando a liberdade de cada um e celebrando a dignidade universal. Assim, nosso tesouro se faz luminoso e imperecível, e o caminho que trilhamos transforma-se em um cântico de vida, onde o amor e a verdade se entrelaçam em harmonia.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
“Pois onde estiver teu tesouro, aí estará também teu coração.” (Mt 6:21)
Este versículo revela o cerne da vida espiritual: não se trata apenas de uma advertência moral contra a avareza, mas de uma profunda proposta de reorientação interior. Em grego, o termo thēsauros (tesouro) evoca cofre, depósito de valores; já kardia (coração) é o centro de toda a existência: vontade, afeto e inteligência. Quando Jesus identifica o “lugar” do tesouro com o “lugar” do coração, Ele nos convida a reconhecer que aquilo a que damos valor estruturalmente forma nosso ser todo.
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Economia do Reino versus economia mundana
O Reino de Deus opera com uma “contabilidade” de dons e liberdades que não se corroem nem se perdem. Ao contrário das riquezas terrenas—sujeitas a roubo, decadência e incerteza—os valores espirituais (misericórdia, justiça, fé) geram frutos de eternidade. Portanto, investir em bens espirituais é apostar num capital que amplia a capacidade de amar e de servir. -
A dinâmica do coração
No Antigo Testamento, o coração é visto como manancial de ações (Pr 4,23): “Acima de tudo, guarda o teu coração, pois dele procedem as fontes da vida.” Jesus retoma esta tradição para mostrar que o tesouro, seja ele material ou espiritual, atua como polo gravitacional que atrai nossos desejos e decisões. Onde colocamos o tesouro, ali convergem nossos pensamentos, anseios e projeto de vida. -
Liberdade e responsabilidade
A autonomia interior só se revela plenamente quando o coração livre escolhe o que é bom, belo e verdadeiro. Concentrar-se nos tesouros celestes exige renúncia e coragem: renúncia ao comodismo do mundo e coragem para assumir a responsabilidade de ser sal e luz (Mt 5,13-14). Essa escolha liberta o homem do jugo das paixões egoístas e abre-lhe a grandeza da dignidade criada à imagem de Deus. -
Eros e ágape integrados
O coração apaixonado pelas realidades transitórias corre o risco de um eros dessubstanciado, voltado apenas para o possuir. Jesus propõe um ágape engajado, que faz de cada ato de entrega — seja na oração, seja no serviço ao próximo — um acúmulo de “tesouros no céu.” Essa fusão de desejo e doação reconfigura nosso modo de amar, fazendo da vida inteira uma liturgia do Reino. -
Implicações escatológicas
No horizonte escatológico, o “lugar” do tesouro indica onde repousará a nossa esperança final. Corações orientados para o efêmero perdem a serenidade diante da morte; corações enraizados no eterno participam de um banquete de vida sem fim. A promessa de Cristo é que todo investimento em valores divinos recebe “juros” de paz, justiça e comunhão plenas na consumação dos séculos.
Em suma, Mt 6:21 não é apenas um aforismo anti‐materialista, mas um chamado à conversão radical da vontade: reconhecer que a qualidade de nosso amor e de nossa liberdade depende diretamente de onde escolhemos depositar o tesouro de nossa existência.
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