quinta-feira, 19 de junho de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Mateus 6:24-34 - 21.06.2025

 Liturgia Diária


21 – SÁBADO 

SÃO LUÍS GONZAGA


RELIGIOSO


(branco, pref. comum, ou dos santos – ofício da memória)


Quem tem mãos limpas e coração puro subirá a montanha do Senhor e permanecerá em seu santuário (Sl 23,4.3).


O sustento digno é expressão da ordem divina no mundo material. Contudo, apegar-se ao ouro como fim é esquecer que a liberdade interior nasce da confiança no Alto. Há maior riqueza na alma que repousa na graça do Eterno do que na que se agarra às posses. São Luís Gonzaga, flor breve no tempo, compreendeu o verdadeiro tesouro: viver com plenitude, mesmo no pouco, pois a abundância do espírito não se mede por moedas.

“Basta-te a minha graça, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.”
2 Coríntios 12:9



Evangelium secundum Matthaeum 6,24-34

Dominica X post Pentecosten

24. Nemo potest duobus dominis servire: aut enim unum odio habebit, et alterum diliget: aut unum sustinebit, et alterum contemnet. Non potestis Deo servire et mammonae.
— Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará a um e amará o outro; ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.

25. Ideo dico vobis, ne solliciti sitis animae vestrae quid manducetis, neque corpori vestro quid induamini. Nonne anima plus est quam esca, et corpus plus est quam vestimentum?
— Por isso vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, com o que havereis de comer, nem por vosso corpo, com o que havereis de vestir. A vida não é mais do que o alimento, e o corpo mais do que a roupa?

26. Respicite volatilia caeli, quoniam non serunt, neque metunt, neque congregant in horrea: et Pater vester caelestis pascit illa. Nonne vos magis pluris estis illis?
— Olhai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros; e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas?

27. Quis autem vestrum cogitans potest adjicere ad staturam suam cubitum unum?
— Quem de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida?

28. Et de vestimento quid solliciti estis? Considerate lilia agri quomodo crescunt: non laborant neque nent.
— E quanto às roupas, por que vos preocupais? Considerai os lírios do campo, como crescem: não trabalham nem fiam.

29. Dico autem vobis, quoniam nec Salomon in omni gloria sua coopertus est sicut unum ex istis.
— Eu vos digo: nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.

30. Si autem foenum agri, quod hodie est, et cras in clibanum mittitur, Deus sic vestit: quanto magis vos pusillae fidei?
— Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé?

31. Nolite ergo solliciti esse, dicentes: Quid manducabimus, aut quid bibemus, aut quo operiemur?
— Não vos preocupeis, dizendo: Que vamos comer? Que vamos beber? Com que nos vamos vestir?

32. Haec enim omnia gentes inquirunt. Scit enim Pater vester caelestis quia his omnibus indigetis.
— São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Vosso Pai celeste sabe que precisais de tudo isso.

33. Quaerite autem primum regnum Dei, et justitiam ejus: et haec omnia adjicientur vobis.
— Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.

34. Nolite ergo esse solliciti in crastinum. Crastinus enim dies sollicitus erit sibi ipse: sufficit diei malitia sua.
— Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o amanhã cuidará de si mesmo. A cada dia basta o seu mal.

Reflexão:

A liberdade autêntica nasce quando a alma se ancora no sentido do todo e não na posse do fragmento. Viver é participar do dinamismo de um Universo em gestação contínua, onde a confiança ordena os afetos e conduz ao essencial. O verdadeiro progresso humano floresce quando o ser, unido ao seu princípio, deixa de consumir-se em ansiedades e começa a irradiar valor. A Providência não nega o necessário; antes, convida à coerência interior. Quando buscamos primeiro o Reino, alinhamos nossos desejos à ordem maior. E nessa ordem, o cuidado já nos precede. Escolher esse caminho é escolher ser pleno no tempo certo. 


Versículo mais importante:

O versículo mais central e importante de Evangelium secundum Matthaeum 6,24-34, que resume a mensagem do trecho, é o versículo 33, pois ele contém o princípio que ordena toda a passagem:

Quaerite autem primum regnum Dei, et justitiam ejus: et haec omnia adjicientur vobis.
Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. (Mt 6:33)


HOMILIA

O Silêncio do Reino e a Liberdade que Sustenta o Ser

Há um ponto do existir onde o ser humano, desprendido de seus pesos exteriores, ouve o sopro do Infinito que o chama. Esse ponto não é localizado no tempo, nem pertence à lógica da acumulação, mas floresce no espaço interior onde a alma se recorda de sua origem. O Evangelho segundo Mateus (6,24-34) nos conduz exatamente a esse lugar: não se trata de renunciar ao mundo, mas de recolocar o mundo em seu lugar, sob a luz de um Reino que está dentro.

“Ninguém pode servir a dois senhores...” — assim começa a travessia. Eis o limiar: ou servimos àquilo que aprisiona, ou àquilo que liberta. O ouro, os temores, os cuidados ansiosos — todos esses são tiranos sutis que prometem segurança, mas erguem muros dentro do espírito. O Cristo, no entanto, indica outra rota: a confiança total em uma Ordem maior, não como fuga do real, mas como participação consciente em um dinamismo que precede e sustenta tudo.

Ele nos aponta os lírios e as aves — não como exemplos passivos, mas como seres que vivem integrados ao fluxo do sentido. O homem, por sua liberdade, pode escolher resistir a esse fluxo ou fundir-se a ele. Eis o desafio e a grandeza da dignidade humana: buscar o Reino, não como um lugar fora, mas como um estado de consciência onde a justiça, isto é, o equilíbrio entre o que se é e o que se deve tornar, se realiza.

“Buscai primeiro o Reino de Deus...” — esta não é apenas uma exortação; é um mapa. Onde o Reino é buscado com autenticidade, ali o ser encontra paz, e tudo mais se ordena como consequência natural da sua comunhão com o sentido. A ansiedade pelo amanhã dissolve-se quando a alma repousa no Presente que é eterno. O amanhã, diz o Senhor, cuidará de si mesmo — pois o homem, ao alinhar-se com o eterno, transcende a angústia do tempo.

Quem vive assim torna-se livre. Não porque rejeitou a matéria, mas porque a matéria deixou de ser seu senhor. Vive dignamente, pois aprendeu que a dignidade não é um prêmio da posse, mas a consequência da união entre o interior e o eterno. E evolui, pois cada ato se torna semente de um futuro mais alto, gestado silenciosamente na confiança.

Assim se constrói o Reino. Não com ruído, nem com ansiedade, mas com fidelidade silenciosa à Presença que sustenta tudo.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Explicação Teológica Profunda de Mateus 6,33:

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.”
(Mt 6,33)

Este versículo contém uma das sínteses mais elevadas da espiritualidade cristã e da teologia do Reino anunciada por Cristo. Nele, encontramos três núcleos interligados: a ordem da busca, a realidade do Reino de Deus e a justiça que o acompanha. A promessa do “acréscimo” aparece não como prêmio, mas como consequência natural da primazia do Absoluto.

1. “Buscai em primeiro lugar...” – A prioridade existencial

O verbo buscar (gr. ζητεῖτε – zēteite) implica uma ação contínua, perseverante, interior. Não é uma busca ocasional, mas a centralidade de uma vida orientada por um fim último. Jesus não está condenando o cuidado com as necessidades humanas, mas está corrigindo a ordem do coração: o que deve vir primeiro? A inversão desta ordem – quando se busca primeiro “todas essas coisas” (comida, roupa, segurança) – gera ansiedade e escravidão.

2. “o Reino de Deus” – A soberania do Divino em nós

O Reino de Deus (Basileia tou Theou) não é apenas um governo escatológico futuro, mas uma realidade espiritual presente que cresce onde Deus é reconhecido como Rei. O Reino não é um lugar, mas uma condição de soberania interior de Deus na alma humana. Buscar o Reino é alinhar-se à Vontade divina, é permitir que o centro do nosso ser seja regido pela presença e pelo desígnio do Eterno. Esse Reino é silencioso como fermento, mas transforma tudo o que toca.

3. “e a sua justiça” – A ordem harmoniosa do ser

A justiça de Deus (dikaiosýnē) aqui não é mera retidão moral, mas a retidão ontológica: viver de modo íntegro com o próprio ser, com os outros e com Deus. É a conformidade com o Logos divino — a estrutura profunda da realidade criada. Buscar essa justiça é permitir que a harmonia do Criador reflita em nossas escolhas, relações e estruturas sociais, onde cada parte ocupa o lugar que lhe é devido sob a luz do Amor.

4. “e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.” – A economia do dom

Esta promessa não é uma garantia materialista, mas um chamado à confiança na providência. Quando o ser humano se ordena ao Primeiro Bem, o resto se ajusta — não por mágica, mas porque há uma economia divina que cuida daqueles que se entregam à ordem justa do cosmos. O “acréscimo” é dom, não conquista. É o que advém naturalmente àquele que já encontrou o sentido verdadeiro e, por isso, já não vive dominado pelo medo da escassez.

Síntese:
Mateus 6,33 nos ensina que a vida cristã é uma jornada de centralização espiritual. Quando Deus ocupa o trono do coração e a sua justiça ordena nossas decisões, a existência reencontra sua harmonia original. Todas as demais coisas — necessárias, mas não absolutas — perdem sua tirania e se tornam dons que acompanham uma vida justa. Este versículo não apenas consola, mas chama: viver de modo integral é buscar primeiro o Eterno, e deixar que o tempo se curve ao Reino que já vem.

Leia: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

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