Liturgia Diária
8 – SÁBADO
31ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Não me abandoneis, Senhor, meu Deus, nem fiqueis longe de mim! Vinde em meu auxílio, ó Senhor, força da minha salvação! (Sl 37,22s)
A fidelidade nas pequenas ações revela a harmonia interior que sustenta o ser diante das grandes provas. Quem governa seus gestos com retidão aprende a ordenar o mundo que o cerca. Assim, o uso sábio dos bens terrenos não é servidão ao efêmero, mas exercício de liberdade interior e responsabilidade universal. Servir ao bem comum é reconhecer que cada ato justo participa da ordem invisível que mantém o cosmos em equilíbrio. No silêncio das escolhas diárias, a alma se fortalece, e a virtude se torna o eixo sobre o qual gira a verdadeira paz.
“Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito.”
Dominica XXV per Annum — Evangelium secundum Lucam 16,9-15
9. Et ego vobis dico: facite vobis amicos de mammona iniquitatis, ut, cum defeceritis, recipiant vos in æterna tabernacula.
E eu vos digo: fazei para vós amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando elas faltarem, vos recebam nas moradas eternas.
10. Qui fidelis est in minimo, et in majori fidelis est; et qui in modico iniquus est, et in majori iniquus est.
Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco, também é injusto no muito.
11. Si ergo in iniquo mammona fideles non fuistis, quod verum est, quis credet vobis?
Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará as verdadeiras?
12. Et si in alieno fideles non fuistis, quod vestrum est, quis dabit vobis?
E se não fostes fiéis no que é de outrem, quem vos dará o que é vosso?
13. Nemo servus potest duobus dominis servire: aut enim unum odiet et alterum diliget, aut uni adhaerebit et alterum contemnet. Non potestis Deo servire et mammonae.
Nenhum servo pode servir a dois senhores: porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.
14. Audiebant autem omnia hæc pharisæi, qui erant avari, et deridebant eum.
Os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas essas coisas e zombavam dele.
15. Et ait illis: Vos estis, qui justificatis vosmetipsos coram hominibus; Deus autem novit corda vestra: quia quod hominibus altum est, abominatio est ante Deum.
E ele lhes disse: Vós sois os que vos justificais diante dos homens; mas Deus conhece os vossos corações, pois o que é exaltado entre os homens é abominação diante de Deus.
Verbum Domini
Reflexão:
A fidelidade nasce do domínio de si e floresce na retidão das intenções. Quem ordena sua vontade segundo o bem torna-se senhor de sua própria natureza, e não escravo das circunstâncias. O verdadeiro valor não se mede pela posse, mas pela harmonia entre o que se é e o que se faz. Servir a um único princípio interior é libertar-se das amarras do desejo e do temor. Assim, o uso dos bens torna-se meio de comunhão e não de domínio. A alma que permanece íntegra no pouco já participa da ordem eterna que sustenta todas as coisas.
Versículo mais importante:
Versiculus praecipuus — Evangelium secundum Lucam 16,13
13. Nemo servus potest duobus dominis servire: aut enim unum odiet et alterum diliget, aut uni adhaerebit et alterum contemnet. Non potestis Deo servire et mammonae.
Nenhum servo pode servir a dois senhores: porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.(Lc 16:13)
HOMILIA
A Fidelidade que Liberta a Alma
O Evangelho revela, nas entrelinhas de suas palavras, a arte de ordenar o espírito diante das forças que movem o mundo. “Nemo servus potest duobus dominis servire.” Esta sentença não trata apenas da oposição entre Deus e as riquezas, mas do dilema profundo da consciência humana: o de escolher entre o transitório e o eterno, entre o domínio das aparências e a posse interior da verdade.
A alma que deseja a liberdade deve aprender a servir a um único princípio — o Bem absoluto que reside no centro de toda existência. Ser fiel nas pequenas coisas é exercitar o poder da ordem interior, onde cada gesto, palavra e pensamento se alinham com a harmonia universal. Não há grande fidelidade sem o cultivo silencioso da coerência cotidiana; o cosmos reconhece aquele que, mesmo no pouco, permanece íntegro.
As riquezas do mundo são apenas sombras de uma abundância mais alta. Quando o homem se apega ao efêmero, ele esquece que sua verdadeira herança é invisível, gravada no espírito. Servir ao Divino é libertar-se das ilusões que fragmentam o ser, é compreender que possuir é menos importante que ser, e que a grandeza da vida se mede pela clareza da alma e pela pureza da intenção.
Deus, que sonda os corações, não busca servos temerosos, mas consciências despertas. A dignidade humana se revela justamente aí: no poder de escolher, em cada instante, o senhor a quem se deseja servir. E quando o homem escolhe a luz, mesmo entre as sombras da matéria, ele se torna participante da ordem eterna — fiel no pouco, fiel no muito — e livre na verdade que o sustenta.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Unidade do Coração e o Chamado à Liberdade Interior
(Lc 16,13 — “Nenhum servo pode servir a dois senhores: porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”)
1. O princípio da ordem interior
A palavra do Evangelho não se dirige apenas à moral exterior, mas ao eixo que sustenta a alma. Servir a dois senhores é fragmentar o coração, é dividir o centro do ser entre o eterno e o transitório. Toda consciência é chamada à unidade: o homem não pode caminhar em duas direções simultâneas, pois a verdade interior exige inteireza. Onde há divisão, há dispersão de energia; onde há unidade, há força e paz.
2. A escolha como exercício da liberdade
A liberdade não consiste em fazer tudo, mas em escolher o essencial. Cada decisão revela o senhor que governa o íntimo. Quando o ser se deixa conduzir pelo que é mutável — poder, prazer, aparência —, torna-se prisioneiro do instante. Quando, porém, orienta seu querer para o que é permanente, encontra a serenidade que nenhuma perda destrói. Assim, servir a Deus é servir àquilo que não muda, ao princípio que dá sentido e direção a todas as coisas.
3. A riqueza e sua natureza transitória
As riquezas não são condenadas em si mesmas, mas na medida em que tomam o lugar do Sagrado. Elas são instrumentos, não fins; meios, não senhores. O perigo não está na posse, mas na dependência. Quando o coração se apega ao que perece, perde sua claridade; quando reconhece que tudo o que possui é dom e passagem, ele se eleva. O verdadeiro domínio consiste em não ser dominado.
4. O coração indiviso como templo do Eterno
Deus não habita em almas divididas. O coração unificado torna-se morada do Espírito, espelho da ordem divina. Servir a um único Senhor é restaurar a harmonia original, aquela em que o homem é senhor de si porque se submete à Verdade. Esta submissão não é servil, mas libertadora, pois nela o ser encontra sua própria dignidade. O amor ao Divino dissolve a cobiça e pacifica os contrários.
5. A fidelidade que transforma o mundo
A fidelidade no pouco é o gesto silencioso que sustenta a grandeza invisível. A cada escolha reta, o universo se reorganiza dentro do homem, e a justiça se faz presente na forma de serenidade e clareza. Servir a Deus é tornar-se cooperador da ordem universal, canal da luz que dá sentido ao existir. Assim, o servo fiel deixa de ser servo e torna-se livre — porque, ao escolher o Um, encontra-se inteiro em tudo.
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