segunda-feira, 21 de abril de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 24:13-35 - 23.04.2025

 Liturgia DiáriaDIA


 23 – QUARTA-FEIRA 

OITAVA DA PÁSCOA


(branco, glória, seq. facultativa, pref. da Páscoa I [“neste dia”] – ofício próprio)


Vinde, benditos do meu Pai: tomai posse do Reino preparado para vós desde a origem do mundo, aleluia (Mt 25,34).


O Senhor, em sua infinita sabedoria, se revela nas Escrituras e parte o Pão, como fez com os discípulos de Emaús, demonstrando a essência da liberdade em nossa jornada espiritual. Sua manifestação não é apenas histórica, mas uma ação contínua de salvação e de presença, que se desdobra em cada ato de escolha e de conhecimento. Na partilha do Pão, o mistério da existência se revela, trazendo a luz para nossa caminhada. Louvemos Sua ação solidária, que nos capacita a caminhar com autonomia, guiados pela verdade que transcende todas as limitações impostas pela matéria.



Lectio sancti Evangelii secundum Lucam

Lucæ 24,13–35

13 Et ecce duo ex illis ibant ipsa die in castellum, quod erat in spatio stadiorum sexaginta ab Jerusalem, nomine Emmaus.
E eis que, no mesmo dia, dois deles iam para um povoado chamado Emaús, distante sessenta estádios de Jerusalém.

14 Et ipsi loquebantur ad invicem de his omnibus quae acciderant.
Iam entre si falavam de tudo o que havia acontecido.

15 Et factum est, dum fabularentur, et secum quaererent: et ipse Jesus appropinquans ibat cum illis.
E aconteceu que, enquanto conversavam e refletiam, o próprio Jesus se aproximou e caminhava com eles.

16 Oculi autem illorum tenebantur, ne eum agnoscerent.
Mas os olhos deles estavam como que impedidos de reconhecê-lo.

17 Et ait ad eos: Qui sunt hi sermones, quos confertis ad invicem ambulantes, et estis tristes?
E Ele lhes perguntou: Que palavras são essas que trocais entre vós enquanto caminhais tristes?

18 Et respondens unus, cui nomen Cleophas, dixit ei: Tu solus peregrinus es in Jerusalem, et non cognovisti quae facta sunt in illa his diebus?
Um deles, chamado Cléofas, respondeu: És tu o único forasteiro em Jerusalém que não soube do que ali se passou nestes dias?

19 Quibus ille dixit: Quae? Et dixerunt: De Jesu Nazareno, qui fuit vir propheta, potens in opere et sermone coram Deo et omni populo.
E Ele lhes perguntou: Que foi? Responderam: O que se refere a Jesus de Nazaré, que foi um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo.

20 Et quomodo eum tradiderunt summi sacerdotes et principes nostri in damnationem mortis, et crucifixerunt eum.
E como os sumos sacerdotes e os nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram.

21 Nos autem sperabamus quia ipse esset redempturus Israel: et nunc super haec omnia, tertia dies est hodie quod haec facta sunt.
Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de redimir Israel; e já é o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram.

22 Sed et mulieres quaedam ex nostris terruerunt nos, quae ante lucem fuerunt ad monumentum.
Algumas mulheres dentre nós nos deixaram atônitos: foram ao túmulo antes do amanhecer.

23 Et, non invento corpore ejus, venerunt dicentes se etiam visionem angelorum vidisse, qui dicunt eum vivere.
E, não encontrando o corpo d’Ele, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que Ele está vivo.

24 Et abierunt quidam ex nostris ad monumentum: et ita invenerunt sicut mulieres dixerunt, ipsum vero non invenerunt.
Alguns dos nossos foram ao túmulo e acharam tudo como as mulheres disseram, mas a Ele não viram.

25 Et ipse dixit ad eos: O stulti, et tardi corde ad credendum in omnibus quae locuti sunt Prophetae!
Então Jesus lhes disse: Ó insensatos e lentos de coração para crer em tudo o que os profetas disseram!

26 Nonne haec oportuit pati Christum, et ita intrare in gloriam suam?
Não era necessário que o Cristo sofresse essas coisas para entrar em sua glória?

27 Et incipiens a Moyse, et omnibus Prophetis, interpretabatur illis in omnibus Scripturis quae de ipso erant.
E, começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que a Ele dizia respeito.

28 Et appropinquaverunt castello quo ibant: et ipse se finxit longius ire.
Ao se aproximarem do povoado para onde iam, Ele fez menção de seguir adiante.

29 Et coëgerunt illum, dicentes: Mane nobiscum, quoniam advesperascit, et inclinata est jam dies. Et intravit cum illis.
Mas eles insistiram: Fica conosco, pois já é tarde e o dia declina. E Ele entrou para ficar com eles.

30 Et factum est: dum recumberet cum eis, accepit panem, et benedixit, et fregit, et porrigebat illis.
E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes deu.

31 Et aperti sunt oculi eorum, et cognoverunt eum: et ipse evanuit ex oculis eorum.
Então seus olhos se abriram e o reconheceram; mas Ele desapareceu da vista deles.

32 Et dixerunt ad invicem: Nonne cor nostrum ardens erat in nobis dum loqueretur in via, et aperiret nobis Scripturas?
E disseram um ao outro: Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?

33 Et surgentes eadem hora regressi sunt in Jerusalem: et invenerunt congregatos undecim, et eos qui cum illis erant,
Naquela mesma hora levantaram-se e voltaram a Jerusalém. Acharam reunidos os Onze e os que estavam com eles.

34 Dicentes: Quod surrexit Dominus vere, et apparuit Simoni.
E diziam: É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!

35 Et ipsi narrabant quae gesta erant in via, et quomodo cognoverunt eum in fractione panis.
E eles contavam o que lhes acontecera no caminho, e como o tinham reconhecido ao partir o pão.

Reflexão:

Na travessia de Emaús, revela-se o sentido da caminhada: não somos conduzidos pela imposição, mas pela descoberta contínua da presença que respeita a liberdade de cada consciência. O Cristo se aproxima sem forçar-se, esclarece sem dominar, parte o pão sem possuir — deixando, no íntimo, um fogo que acende a responsabilidade da escolha. Sua presença se revela no encontro e no diálogo, elevando-nos à consciência de que somos partícipes ativos da realidade sagrada. Caminhar com Ele é reconhecer que a verdade se dá na comunhão, e a transformação, no convite interior à plenitude do ser.


Versículo mais importante:

O versículo mais emblemático e central de Lucæ 24,13–35 é o versículo 31, pois marca o momento de revelação e reconhecimento do Cristo Ressuscitado. Ele condensa a mística do encontro, a abertura espiritual e o mistério da presença divina no gesto simples e profundo da partilha do pão.

Lucæ 24,31

Et aperti sunt oculi eorum, et cognoverunt eum: et ipse evanuit ex oculis eorum.
Então seus olhos se abriram e o reconheceram; mas Ele desapareceu da vista deles. (Lucas 24:31)

Esse versículo contém três movimentos fundamentais:

  1. Abertura dos olhos – símbolo da iluminação interior, da consciência desperta.

  2. Reconhecimento de Cristo – a verdade revelada na intimidade do gesto e da presença.

  3. Desaparecimento visível – a transição da fé sensível para a fé interior, agora pessoal e livre.

Nele, a experiência espiritual se completa: ver, reconhecer, e continuar o caminho com o coração transformado.


HOMILIA

No Ardor do Caminho, o Sentido Revelado

Amados, contemplamos hoje a narrativa sagrada da caminhada para Emaús — não como um episódio distante no tempo, mas como um espelho íntimo da jornada de todo ser em busca de plenitude. Dois corações desorientados, mergulhados na perda e na dúvida, caminham por uma estrada que parece comum, mas que esconde um fulgor eterno: a presença do Ressuscitado.

A revelação não acontece em meio ao estrondo ou à imposição. Não há anjos em glória, nem vozes do alto. Há silêncio, caminho, e escuta. A Palavra é oferecida, não imposta. A luz brota do diálogo, do gesto simples da partilha, da liberdade de convidar o outro a permanecer. O Cristo caminha ao lado como companheiro e não como dominador — e isso é o sinal mais sublime da verdade que respeita.

Ao partir o pão, seus olhos se abrem. Mas Ele desaparece. Por quê? Porque a presença que se revelou não é mais externa: é interior. O fogo que arde no peito é a certeza de que o Divino se manifesta no coração livre e desperto, na consciência que acolhe a verdade sem ser forçada, na alma que deseja compreender por si.

Cada passo daqueles discípulos é um passo do espírito que busca compreender o cosmos como um sacramento em expansão. O universo não é ruína, mas gestação. E nesse processo, cada ser é chamado a participar da construção do sentido. Não como peças em um jogo cego, mas como consciências que escolhem, amam, e transcendem.

Que saibamos reconhecer o Cristo nas encruzilhadas silenciosas, nos encontros inesperados, na Palavra que ilumina por dentro, e no pão que se parte não por poder, mas por amor. Pois o verdadeiro Reino se faz onde a liberdade encontra o eterno e o transforma em caminho.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase "Então seus olhos se abriram e o reconheceram; mas Ele desapareceu da vista deles" (Luc. 24,31) encerra, com profundidade teológica e espiritual, um dos momentos mais místicos do Evangelho: a transição entre a presença sensível de Cristo e a sua presença espiritual, inaugurando a maturidade da fé.

1. “Então seus olhos se abriram”

Este "abrir dos olhos" não é apenas físico, mas espiritual. Refere-se à capacidade do coração de ver o invisível, de discernir o eterno sob o véu do tempo. É o mesmo verbo utilizado na Septuaginta para descrever os olhos de Adão e Eva que se abriram após o pecado (cf. Gn 3,7), mas aqui com um movimento inverso: não para o afastamento de Deus, mas para o reencontro com Ele. Os discípulos, agora iluminados pela escuta da Palavra e pelo gesto eucarístico, entram num estado de epifania interior — compreendem que aquele que caminhava com eles era o próprio Logos encarnado e ressuscitado.

2. “e o reconheceram”

Este reconhecimento é mais do que identificação visual. O termo grego empregado, epégnōsan (ἐπέγνωσαν), implica uma intimidade reveladora, como quem redescobre a realidade de algo que já era profundamente conhecido, mas estava velado. Eles o reconhecem no gesto de partir o pão, gesto que transcende o cotidiano e toca o eterno. É na partilha, na comunhão, que a verdade se revela — pois o Cristo é, por excelência, aquele que se dá.

3. “mas Ele desapareceu da vista deles”

Este desaparecer não é ausência, mas transmutação da presença. Cristo não os abandona; Ele os conduz ao estágio da fé pura, onde a relação com Deus já não depende da sensibilidade dos sentidos, mas da comunhão do espírito. O desaparecimento é, na verdade, um convite à liberdade: agora eles devem caminhar não mais como discípulos que veem com os olhos da carne, mas como testemunhas que crêem com os olhos da alma. A presença de Cristo se desloca da visibilidade externa para a interioridade sacramental, para a vida da Igreja, para o coração que arde.

Síntese

Este versículo é um ícone da pedagogia divina: primeiro Ele caminha conosco, silencioso; depois nos instrui com a Palavra; a seguir se revela no gesto eucarístico; por fim, retira-se da visibilidade, deixando-nos a chama da presença viva no interior. É o itinerário da fé adulta — aquela que reconhece Deus não no espetáculo, mas na simplicidade do pão partilhado e da verdade compreendida em liberdade.

Assim, o Ressuscitado ensina que o reconhecimento de sua glória não se dá no ver, mas no ser transformado pela presença. E que sua ausência visível é, na verdade, o início da verdadeira presença: aquela que habita em nós.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

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Santo do dia

Oração Diária

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