domingo, 20 de abril de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 20:11-18 - 22.04.2025

 Liturgia Diária


DIA 22 – TERÇA-FEIRA 

OITAVA DA PÁSCOA


(branco, glória, seq. facultativa, pref. da Páscoa I [“neste dia”] – ofício próprio)


O Senhor deu-lhes a água da sabedoria, tornou-se a sua força, e não vacilam; vai exaltá-los para sempre, aleluia! (Eclo 15,3s)


Maria Madalena, no silêncio do jardim, contempla o Inefável: a Vida que vence o tempo e dissolve as amarras da morte. Em sua experiência, a singularidade do ser se encontra com o Absoluto — e o testemunho nasce da liberdade interior que reconhece a transcendência do outro. A ressurreição não impõe; convida. É manifestação da dignidade inalienável da consciência desperta, que escolhe, sem coação, participar do mistério da plenitude. O batismo, então, não é rito apenas, mas expressão da autonomia espiritual que se lança ao eterno por vontade própria. Em Cristo ressuscitado, a vida se revela como escolha luminosa.



Lectio Sancti Evangelii secundum Ioannem 20,11-18

  1. Maria autem stabat ad monumentum foris plorans. Dum ergo fleret, inclinavit se et prospexit in monumentum.
    Maria, porém, permanecia junto ao sepulcro, do lado de fora, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se e olhou para dentro do sepulcro.

  2. Et vidit duos angelos in albis sedentes, unum ad caput et unum ad pedes, ubi positum fuerat corpus Iesu.
    E viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.

  3. Dicunt ei illi: “Mulier, quid ploras?”. Dicit eis: “Tulerunt Dominum meum, et nescio ubi posuerunt eum”.
    Eles lhe perguntaram: “Mulher, por que choras?”. Ela respondeu: “Levaram o meu Senhor, e não sei onde o colocaram”.

  4. Haec cum dixisset, conversa est retrorsum et vidit Iesum stantem et non sciebat quia Iesus est.
    Dizendo isso, voltou-se para trás e viu Jesus de pé, mas não sabia que era Jesus.

  5. Dicit ei Iesus: “Mulier, quid ploras? Quem quaeris?”. Illa, existimans quia hortulanus esset, dicit ei: “Domine, si tu sustulisti eum, dicito mihi ubi posuisti eum, et ego eum tollam”.
    Disse-lhe Jesus: “Mulher, por que choras? A quem procuras?”. Pensando que fosse o jardineiro, ela disse: “Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei”.

  6. Dicit ei Iesus: “Maria!”. Conversa illa dicit ei Hebraice: “Rabboni!”, quod dicitur Magister.
    Disse-lhe Jesus: “Maria!”. Ela voltou-se e exclamou em hebraico: “Rabboni!”, que quer dizer Mestre.

  7. Dicit ei Iesus: “Noli me tenere, nondum enim ascendi ad Patrem; vade autem ad fratres meos et dic eis: Ascendo ad Patrem meum et Patrem vestrum et Deum meum et Deum vestrum”.
    Disse-lhe Jesus: “Não me detenhas, pois ainda não subi ao Pai. Vai, porém, aos meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus”.

  8. Venit Maria Magdalene annuntians discipulis: “Vidi Dominum!” et quia haec dixit ei.
    Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: “Vi o Senhor!” e contou o que Ele lhe tinha dito.

Reflexão:

A presença do Ressuscitado é descoberta na intimidade do nome pronunciado, onde a pessoa se reconhece única e irrepetível diante da Fonte. O chamado de Cristo desperta a consciência para sua própria dignidade e responsabilidade. Nada é imposto; tudo é convite. A liberdade encontra sua expressão mais pura no reconhecimento do amor que se oferece sem exigir retorno. O encontro pessoal transforma, sem violentar. Cada ser humano, tocado pela presença do Eterno, torna-se agente da própria ascensão. Ao ser chamado pelo nome, o indivíduo descobre que está apto a participar do divino — por escolha livre, por desejo de plenitude.


Versículo mais importante:

Dicit ei Iesus: “Maria!”. Conversa illa dicit ei Hebraice: “Rabboni!”, quod dicitur Magister.
Disse-lhe Jesus: “Maria!”. Ela voltou-se e exclamou em hebraico: “Rabboni!”, que quer dizer Mestre. ( Jo 20:16)

Essa frase é central porque marca o momento exato do reconhecimento de Cristo ressuscitado. Ao pronunciar seu nome, Jesus desperta em Maria a plena consciência da presença divina — é o instante em que o amor pessoal revela a verdade eterna, e a individualidade encontra seu lugar no mistério da Vida.


HOMILIA

"Chamado pelo Nome, Acordado à Luz"

Maria permanece junto ao sepulcro, envolta em pranto. Sua dor não é apenas pela ausência de um corpo; é o eco de toda a humanidade em busca de sentido, em busca do Amor que parecia ter sido vencido pela morte. Mas o silêncio do túmulo não é o fim. É solo fértil, onde a Vida se prepara para eclodir em forma nova.

E então, uma só palavra: “Maria”. O nome pronunciado por Cristo é mais do que vocativo — é o despertar do ser em sua mais alta liberdade. Ao ser chamada, ela se reconhece. Na intimidade do nome, a pessoa humana descobre que é vista por inteiro, conhecida em sua profundidade mais secreta, desejada como única. Esse chamado é semente de consciência.

O Cristo ressuscitado não se impõe. Ele se revela. Ele não toma, mas oferece. Sua presença é convite à ascensão interior, à transformação da existência comum em ato pleno de liberdade e entrega. Maria tenta segurá-lo, mas Ele a convida a um movimento mais elevado: não o reter, mas anunciá-lo. Não preservar o momento, mas participar do fluxo da Vida que sobe e se expande.

Essa ascensão não é evasão do mundo, mas comunhão com o que nele é mais verdadeiro. O Ressuscitado envia Maria — mulher, antes marginalizada, agora mensageira — como portadora de uma nova ordem: uma fraternidade baseada na liberdade interior e na dignidade partilhada. “Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.” O Eu e o Tu são agora envolvidos numa mesma origem, numa mesma Fonte.

O túmulo vazio não é uma ausência, mas uma abertura. A pedra removida revela um espaço onde a morte já não reina. Ali nasce um novo princípio: a vida não é possuída, mas escolhida; não é dominada, mas compartilhada. E todo aquele que ouve o próprio nome pronunciado pela Voz eterna é chamado não apenas a crer, mas a ser. A ser plenamente, luminosa e livremente.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase de João 20:16, “Disse-lhe Jesus: ‘Maria!’. Ela voltou-se e exclamou em hebraico: ‘Rabboni!’, que quer dizer Mestre.”, é um dos momentos mais profundos e reveladores do Evangelho, não apenas em termos de seu conteúdo narrativo, mas também em seu significado teológico e espiritual. Este versículo encapsula a revelação da identidade de Cristo ressuscitado e a resposta pessoal de Maria Madalena, com implicações que vão além do contexto imediato e se estendem ao cerne da relação entre Deus e o ser humano.

1. O Chamado Pessoal: “Maria!”

A palavra "Maria!" é mais do que uma simples pronúncia de nome. No contexto bíblico, quando um nome é chamado, ele carrega uma carga profunda de intimidade e revelação. O nome é um sinal da identidade única e irrepetível de uma pessoa diante de Deus. Quando Jesus chama Maria pelo nome, Ele não está apenas identificando-a como indivíduo; Ele está fazendo com que ela tome consciência de sua presença única e pessoal.

Na tradição bíblica, o chamado pelo nome é frequentemente usado por Deus para estabelecer um relacionamento profundo com a pessoa chamada. Pensemos, por exemplo, no chamado de Samuel no Antigo Testamento (1 Samuel 3:10), onde Deus o chama pelo nome, e isso desencadeia a revelação de uma nova missão. Da mesma forma, no Evangelho de João, Jesus ressuscitado chama Maria de maneira pessoal e direta, o que implica que o Ressuscitado não é uma abstração distante, mas um Deus que entra na vida pessoal de cada ser humano, conhecendo-o profundamente. A ressurreição, portanto, não é apenas um evento cósmico ou coletivo, mas um ato de revelação pessoal e redentora.

2. A Resposta de Maria: "Rabboni!"

Maria Madalena, ao ouvir seu nome, volta-se e reconhece Jesus. Sua reação é de exaltação: "Rabboni!" — um termo hebraico que traduzido significa "Mestre" ou "Meu Mestre". A escolha do termo Rabboni é significativa. Enquanto "Rabbí" (em hebraico) significa mestre ou doutor da lei, Rabboni é uma forma mais íntima e reverente de se referir a um mestre. Esse termo denota uma relação mais próxima, uma autoridade que é ao mesmo tempo respeitada e profundamente pessoal. Maria, ao dizer "Rabboni", não está simplesmente identificando Jesus como o mestre de seu ensinamento anterior, mas está afirmando uma relação transformada e mais profunda, estabelecida pela experiência do Ressuscitado.

Jesus, portanto, não é apenas um mestre no sentido tradicional, mas o Mestre que traz consigo uma nova realidade: a da vida eterna, vitoriosa sobre a morte. Maria Madalena, ao reconhecer Jesus, está afirmando não só a sua autoridade, mas também a sua identidade divina, como Aquele que, tendo vencido a morte, se revela como o Autor da Vida.

3. A Resposta de Jesus:

A reação de Jesus à exaltação de Maria é igualmente rica em significado teológico. Jesus diz: "Não me segures, porque ainda não subi ao Pai" (João 20:17). Essa declaração não significa que Maria deva ser rejeitada ou que o amor e a devoção dela sejam mal interpretados. Pelo contrário, é um convite para um movimento mais profundo da alma. A frase sugere que o relacionamento com Cristo agora não se dá mais de maneira física e limitada, como no tempo de sua encarnação, mas em uma dimensão nova e mais elevada, de uma união espiritual e mística.

Ao mesmo tempo, a declaração de Jesus de que "ainda não subi ao Pai" é uma referência à sua ascensão, que será o meio pelo qual Ele retorna ao Pai e envia o Espírito Santo, permitindo aos discípulos uma comunhão mais profunda e universal com Deus. A ressurreição de Cristo, portanto, não é o fim de sua presença, mas o início de uma nova forma de presença — uma presença espiritual e universal, que alcança todos os que, como Maria, reconhecem seu nome e respondem a Ele com fé.

4. Implicações Teológicas Profundas:

Teologicamente, este momento é a culminação da revelação de Cristo como o Salvador pessoal e universal. Ele é Aquele que nos chama pelo nome, que nos conhece de maneira pessoal e única. A ressurreição não é apenas um ato de superação da morte física, mas a inauguração de uma nova realidade existencial. A realidade de Cristo ressuscitado nos chama à transformação, à intimidade com Ele, e à resposta livre e pessoal.

A resposta de Maria — "Rabboni!" — é um convite para que todos nós possamos fazer a mesma experiência: reconhecê-lo não como um ser distante ou abstrato, mas como o Mestre pessoal que nos chama à vida verdadeira e eterna. O nome que Jesus pronuncia sobre nós — nosso nome — é a chave para a nossa verdadeira identidade, a qual nos liga à Sua missão redentora.

Em conclusão, a frase de João 20:16 nos revela que o encontro com Cristo ressuscitado é sempre pessoal, transformador e revelador. Não apenas uma doutrina a ser seguida, mas uma realidade viva, que nos chama a uma participação direta e pessoal na obra redentora, movendo-nos de uma compreensão intelectual para uma vivência espiritual íntima e profunda.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

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Primeira Leitura

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