Liturgia Diária
20 – QUARTA-FEIRA
SÃO BERNARDO
ABADE E DOUTOR DA IGREJA
(branco, pref. comum, ou dos doutores – ofício da memória)
O Senhor revestiu Bernardo com sabedoria luminosa, fazendo dele fonte que jorrava conhecimento e liberdade de espírito. Sua voz não se dobrava às sombras do poder, mas buscava iluminar consciências, unindo fé e razão na defesa da dignidade humana. Mestre de reis e povos, mostrou que a verdadeira autoridade nasce do serviço, e que a espiritualidade autêntica é libertadora. Chamado de cantor de Maria, revelou que o amor à Mãe divina abre caminhos de compaixão e coragem. Sigamos seu exemplo: cultivar interioridade fecunda, agir com justiça e sustentar o mundo com a força do espírito.
Evangelium secundum Matthaeum – 20, 1–16
Similitudo operariorum in vinea (A Parábola dos trabalhadores na vinha)
-
Simile est regnum cælorum homini patri familias, qui exiit primo mane conducere operarios in vineam suam.
O Reino dos céus é semelhante a um proprietário de casa que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. -
Conventione autem facta cum operariis ex denario diurno, misit eos in vineam suam.
E, tendo feito acordo com os trabalhadores por um denário diário, enviou-os para a sua vinha. -
Et egressus circa horam tertiam, vidit alios stantes in foro otiosos,
E, saindo por volta da terceira hora, viu outros parados no mercado, ociosos; -
et dixit illis: Ite et vos in vineam meam, et quod justum fuerit dabo vobis.
e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha, e eu vos darei o que for justo.’ -
Illi autem abierunt. Iterum autem exiit circa sextam et nonam horam: et fecit similiter.
Eles foram embora. E novamente saiu por volta da sexta e da nona hora, fazendo o mesmo. -
Circa undecimam vero exiit, et invenit alios stantes, et dicit illis: Quid hic statis tota die otiosi?
Mas ao chegar à undécima hora, saiu e encontrou outros de pé, e disse-lhes: ‘Por que estais aqui ociosos o dia todo?’ -
Dicunt ei: Quia nemo nos conduxit. Dicit illis: Ite et vos in vineam meam.
Eles lhe responderam: ‘Porque ninguém nos contratou.’ Ele lhes disse: ‘Ide também vós para a minha vinha.’ -
Cum sero autem factum esset, dicit dominus vineæ procuratori suo: Voca operarios, et redde illis mercedem incipiens a novissimis usque ad primos.
E, quando chegou a tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até os primeiros.’ -
Cum venissent ergo qui circa undecimam horam venerant, acceperunt singuli denarios.
E, quando chegaram os que foram contratados por volta da undécima hora, cada um recebeu um denário. -
At enim cum venerunt et illi qui primi venerant, putabant quod plus acciperent: et acceperunt similiter singuli denarium.
Quando aqueles que foram os primeiros vieram, pensaram que receberiam mais; e, no entanto, receberam também cada um um denário. -
Videntes ergo acceperunt murmurare patremfamilias,
Então, vendo isso, começaram a murmurar contra o proprietário da vinha, -
dicentes: Hi qui ultimi venerunt unam horam laboraverunt, et similem mercedem recepimus, quam nos portantes onera die totum.
dizendo: ‘Estes que foram contratados por última hora trabalharam apenas uma hora, e lhes deste a mesma recompensa que a nós, que suportamos o peso do dia todo.’ -
At ille respondens uno inter illos dixit: Amice, non iniuste illi tibi: numquid non denarium tecum pactus sum?
Mas ele respondeu a um deles: ‘Amigo, não te faço injustiça – não combinamos um denário contigo?’ -
Accipe quod tuum est, et abii: volo autem huic, qui ultimus est, dare sicut tibi.
Toma o que é teu, e vai; quis querer dar a este, que é o último, como a ti.’ -
Numquid non licet mihi hoc facere quod volo? aut oculus tuus malus est, quia ego bonus sum?
‘Ou acaso não posso fazer o que quero com o que é meu? Ou será que teu olho é maligno, porque sou bom?’ -
Sic erunt novissimi primi, et primi novissimi. Multi enim sunt vocati, pauci vero electi.
Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos. Muitos são chamados, mas poucos escolhidos.
Reflexão
A narrativa mostra a importância de reconhecer valor intrínseco na contribuição, independente do tempo ou posição. Encoraja a criação de estruturas justas em que cada indivíduo tem liberdade para trabalhar e também direito ao fruto de sua colaboração. A equidade revela-se como motor de união e respeito mútuo, promovendo dignidade para todos. O encontro entre entrega pessoal e reconhecimento coletivo reforça a ideia de que autonomia e solidariedade caminham juntas. Encoraja-nos a construir comunidades livres, onde iniciativas sejam respeitadas e recompensadas com base em mérito e generosidade. A verdadeira prosperidade nasce de acordos claros e respeito à liberdade individual.
Versículo mais importante:
16. Sic erunt novissimi primi, et primi novissimi. Multi enim sunt vocati, pauci vero electi.
Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos. Pois muitos são chamados, mas poucos escolhidos.(Mt 20:16)
O versículo mostra que, diante de Deus, os critérios humanos de tempo, mérito ou posição não valem. A ordem se inverte porque o Amor é livre e distribui graça sem medida. Muitos são chamados, mas apenas os que respondem de coração se tornam verdadeiramente escolhidos. Não há privilégio, mas adesão livre à Vida maior. A justiça divina não oprime, mas liberta, transformando disputa em comunhão e revelando que cada ser possui dignidade única.
HOMILIA
A Liberdade da Vinha e o Chamado do Espírito
Amados irmãos, a parábola dos trabalhadores na vinha revela mais que uma lição de justiça: abre-nos o coração para a liberdade da graça que conduz toda a criação. O Senhor chama em diversas horas, pois o tempo humano não limita o tempo divino. Cada chamado é semente de evolução interior, convocando-nos a deixar a ociosidade das praças da vida e entrar no labor fecundo do espírito.
Não é a duração do esforço que mede o valor, mas a abertura da alma que responde. A recompensa não se mede por cálculos, mas pela comunhão com o Amor que tudo sustenta. Muitos trabalham desde cedo, outros apenas no último instante; todos, porém, recebem a mesma dádiva, pois a dignidade não se negocia, mas nasce do ser em sua origem sagrada.
O murmúrio dos primeiros trabalhadores espelha a mentalidade que ainda confunde justiça com posse. Mas a justiça divina não é distribuição limitada de bens, é plenitude que se entrega sem diminuir. O Senhor é livre em sua bondade, e a liberdade que Ele manifesta é convite a reconhecermos no outro não um competidor, mas um companheiro na mesma vinha.
Assim compreendemos que ser chamado não basta; é preciso deixar-se transformar pelo chamado. Muitos ouvem a voz, poucos se tornam terra fértil. O último pode tornar-se primeiro porque acolheu com inteireza aquilo que o primeiro, distraído pela comparação, deixou escapar.
O Reino nos ensina que a verdadeira grandeza não está em preceder os outros, mas em ser fiel ao dom recebido. A vinha é o campo do Espírito, onde cada gesto de abertura nos coloca na ordem da eternidade.
Que aprendamos, pois, a trabalhar não pelo salário, mas pela liberdade de participar da obra divina. E que, ao respondermos ao chamado, descubramos que a recompensa já nos habita: é a comunhão com o Amor que faz de todos um só corpo, um só cântico, uma só vinha.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Mistério da Inversão
"Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos." (Mt 20,16)
Esse versículo revela a inversão da lógica humana. Para os homens, hierarquia é medida de poder; para Deus, a grandeza é comunhão. Aquele que parecia último no tempo ou na condição torna-se primeiro, pois abriu-se de modo pleno à ação da graça. Aqui, não é o esforço visível que prevalece, mas a receptividade interior ao chamado divino.
O Chamado Universal
"Pois muitos são chamados, mas poucos escolhidos."
O chamado é universal: todos são convidados a entrar na vinha. A escolha não é exclusão arbitrária, mas fruto da resposta livre do coração humano. Deus chama incessantemente, mas somente quem acolhe com inteireza esse convite se torna escolhido. O critério não é anterioridade, mas adesão; não é privilégio, mas entrega.
A Liberdade da Graça
A justiça divina não se rege por cálculos humanos, mas pela liberdade do Amor. O dono da vinha paga a todos com generosidade, não porque mede méritos, mas porque derrama abundância. Esse gesto revela que a liberdade de Deus não se prende à lógica de trocas, mas manifesta-se como superabundância que liberta o homem de comparações e ressentimentos.
Evolução Interior
O último que chega à vinha pode ser o primeiro a compreender o coração do Senhor. Isso mostra que a evolução interior não depende do tempo cronológico, mas da abertura imediata da consciência ao Absoluto. O amadurecimento do ser não se mede em duração, mas em intensidade da adesão ao Espírito.
A Dignidade do Ser
Nesse versículo, a dignidade da pessoa é elevada a princípio sagrado. Não importa quando ela foi chamada, pois em cada alma repousa um valor único e irrepetível. A recompensa — simbolizada pelo denário — é sinal de que o Senhor reconhece em cada vida sua essência eterna, que não pode ser diminuída por comparações.
Caminho para a Comunhão
A parábola desvela que a história humana não é disputa, mas caminho para a comunhão. O último e o primeiro encontram-se no mesmo abraço do Amor, que faz de todos irmãos no mesmo campo. A eleição, portanto, não é competição, mas realização do destino comum: participar da obra divina em liberdade, plenitude e fraternidade.
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