Liturgia Diária
26 – SÁBADO
SANTOS JOAQUIM E ANA
PAIS DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA
(branco, pref. comum, ou dos santos – ofício da memória)
Festejemos São Joaquim e Sant’Ana, pais da Virgem Maria, pois Deus lhes concedeu a bênção de todas as nações.
No entrelaçar das gerações, Joaquim e Ana representam o mistério da transmissão invisível da dignidade e da liberdade. Eles são raízes silenciosas que sustentam o fruto eterno — Maria, vaso da Promessa. Na honra aos anciãos, revela-se um princípio sutil: o valor inalienável da pessoa não reside em sua utilidade, mas em sua existência. Celebrar os avós é contemplar a fonte do ser, onde o tempo se curva diante da sabedoria. Eles guardam a memória viva da humanidade, e ao reconhecê-los, reafirmamos que toda vida, em sua singularidade, é portadora de luz e merece respeito, escuta e liberdade interior.
Evangelium secundum Matthaeum 13,16-17
Feria Quinta – XVII Hebdomada per Annum
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Beati autem oculi vestri quia vident, et aures vestræ quia audiunt.
Felizes, porém, os vossos olhos porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem.
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Amen quippe dico vobis quia multi prophetæ et iusti cupierunt videre quæ videtis, et non viderunt, et audire quæ auditis, et non audierunt.
Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, e ouvir o que ouvis, e não ouviram.
Reflexão:
A visão e a escuta que libertam não são meras funções sensoriais, mas dons de consciência desperta. Quem vê a verdade presente nas pequenas realidades toca o eterno em ato. Cada pessoa é um centro de percepção única e insubstituível, convocada a participar do sentido que move o mundo para diante. Não há privilégio que se sobreponha à dignidade de quem reconhece, com liberdade interior, o valor do instante revelado. A história não se realiza fora de nós, mas por meio da nossa presença desperta. Assim, viver é cooperar com a luz que deseja se tornar visível no humano.
Versículo mais importante:
O versículo mais importante de Evangelium secundum Matthaeum 13,16-17 é o versículo 16, pois ele proclama a bem-aventurança do reconhecimento espiritual — uma visão interior que distingue o presente como manifestação da graça.
Mt 13,16
Beati autem oculi vestri quia vident, et aures vestrae quia audiunt.
Felizes, porém, os vossos olhos porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem.(Mt 13:16)
Este versículo destaca a dignidade de quem acolhe a verdade com liberdade interior, percebendo na realidade concreta a presença do eterno.
HOMILIA
A Aurora da Consciência no Humano
Beati autem oculi vestri quia vident, et aures vestrae quia audiunt.
(Mt 13,16)
Há um momento em que os olhos deixam de ser apenas órgãos e se tornam portais. Um instante em que o ouvir ultrapassa o som e toca o verbo vivo que vibra por trás do mundo visível. O Cristo pronuncia uma bem-aventurança que não está voltada ao mérito, mas à abertura — não ao privilégio, mas à disposição interior. Felizes os olhos que veem. Porque há olhos que olham e não percebem. Há ouvidos que escutam e não recebem. A verdadeira visão é comunhão com o sentido oculto das coisas, e a verdadeira escuta é resposta à Voz que se insinua no íntimo da criação.
Nesse evangelho, Jesus revela o limiar onde começa a verdadeira evolução da alma. Ele aponta para o florescer da consciência, esse sagrado despertar que não se impõe de fora, mas se acende de dentro. Não é o mundo que muda, mas é o ser humano que se ergue à altura daquilo que sempre esteve presente. A luz já estava no mundo, mas nem todos a viam; o Verbo já soava, mas nem todos o ouviam.
Ver e ouvir, aqui, são expressões do ser livre que se reconhece como participante do mistério. O espírito humano, ao se abrir à revelação, não abandona sua singularidade: ele a descobre como reflexo da Origem. Cada olhar que vê com verdade é uma centelha do Fogo que tudo sustenta. Cada escuta atenta é uma aliança com o sopro que anima o cosmos. Nesse encontro com o que sempre foi — mas que agora é reconhecido — o humano se engrandece sem se exaltar, pois descobre que sua dignidade consiste em participar da Luz, e não em possuí-la.
Aqueles que vieram antes desejaram ver e ouvir o que agora se revela. Isso nos fala da continuidade do anseio que atravessa os séculos: o desejo de sentido, a sede de verdade, o impulso da alma para além do visível. Hoje, esta possibilidade nos alcança. Não por um cálculo histórico, mas por uma maturação interior. Ver e ouvir, neste Evangelho, são sinais de um nascimento mais profundo — o nascimento da consciência espiritual.
E quando tal consciência desponta, toda realidade se transfigura: o instante deixa de ser banal, a existência já não é acidental, e o outro já não é ameaça, mas espelho. O mundo, então, já não é um palco, mas um altar.
E viver se torna, enfim, uma resposta silenciosa ao Eterno que sussurra:
Felizes os olhos que veem.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação teológica e metafísica profunda do versículo Mateus 13,16 — “Felizes, porém, os vossos olhos porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem”, estruturada com subtítulos para facilitar o aprofundamento do sentido espiritual, mantendo a linguagem elevada e contemplativa.
1. O Verbo Revelado e a Consciência Desperta
A palavra de Cristo é sempre viva, e neste versículo, Ele não enuncia uma informação, mas revela um estado do ser: felizes são aqueles que veem e ouvem. Não se trata de uma função sensorial apenas, mas de uma condição ontológica: ver é compreender e ouvir é acolher. Os olhos e ouvidos referem-se à consciência desperta, à interioridade que se abriu à Presença que transborda no real. Ver e ouvir, aqui, indicam um novo nascimento no Espírito — o ser humano que, tendo passado da dispersão para o centro, começa a perceber o mundo com os olhos do coração.
2. Bem-aventurança como Reconhecimento Espiritual
Jesus pronuncia uma bem-aventurança, mas distinta das outras: esta não se refere a uma ação futura ou a uma recompensa prometida, mas a um estado atual de plenitude. O verbo está no presente: felizes são. O reconhecimento da verdade — a abertura para a realidade espiritual que sustenta todas as coisas — já é, por si, bem-aventurança. A felicidade, então, não é algo que nos será dado, mas algo que brota quando nossa percepção se harmoniza com a verdade profunda do ser.
3. A Visão Interior: a Luz que Ilumina a Realidade
A visão espiritual de que Jesus fala é o despertar para o invisível que permeia o visível. É uma iluminação interior, onde o mundo já não é mais apenas um conjunto de coisas, mas um sacramento contínuo. Quem vê, reconhece no instante a eternidade, e nas criaturas, um reflexo da Fonte. Tal visão não é fabricada pelo intelecto, mas concedida pela Graça à alma que se esvaziou de si para receber o Todo. É a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo homem (Jo 1,9) — e que agora encontra olhos preparados.
4. A Escuta Autêntica: Aliança com o Verbo Vivo
Ouvir é mais do que captar sons — é deixar-se atravessar pela Palavra. A escuta verdadeira é uma forma de comunhão. Ela acontece quando o ego silencia e o ser se torna morada. Quando Jesus diz que os ouvidos são felizes porque ouvem, Ele revela que há um tipo de escuta que é oração — aquela que recebe o Verbo e o deixa frutificar. Ouvir o Verbo é permitir que a Criação nos fale, que a Presença nos molde, que a Verdade nos toque sem defesa.
5. O Caminho do Interior para o Universal
Aqueles que veem e ouvem entram num caminho onde a realidade deixa de ser fragmentada. Tudo passa a convergir, silenciosamente, para um Centro. A alma desperta não se isola, mas se eleva com o mundo — ela compreende que a liberdade é a capacidade de consentir com o sentido profundo do ser. A dignidade da pessoa, nesse horizonte, reside em ser um ponto consciente do Universo, onde o divino pode se revelar. O humano torna-se, assim, partícipe da obra do Eterno.
6. Conclusão: A Felicidade como Participação na Verdade
Esta bem-aventurança é, portanto, o reconhecimento da presença do Reino já atuante na interioridade daquele que vê e ouve. Ver é contemplar o sentido. Ouvir é responder ao chamado. O que outrora foi buscado por profetas e justos — a revelação íntima da presença divina — agora se revela ao coração que se abre. A felicidade não é uma recompensa externa, mas a vibração da alma que se alinha com a Verdade.
E no silêncio desses olhos e ouvidos bem-aventurados, a Criação ressoa como um cântico eterno:
"Felizes os que veem. Felizes os que ouvem."
Pois já caminham na luz do que sempre foi.
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