Liturgia Diária
12 – TERÇA-FEIRA
19ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Lembrai-vos, Senhor, da vossa aliança e nunca esqueçais a vida dos vossos pobres. Levantai-vos, Senhor, e julgai vossa causa, e não fecheis o ouvido ao clamor dos que vos procuram (Sl 73,20.19.22s).
O servo da Verdade atua enquanto lhe é dado o tempo e a força, consciente de que sua missão não é posse, mas encargo. Quando sua jornada finda, outro é chamado. A cada um é prometida a presença fiel: “O Senhor estará contigo e não te deixará nem te abandonará”. A grandeza não está em dominar, mas em servir; não em impor, mas em guiar. Como o pastor que vela pelo rebanho, cuida-se do bem comum, não para satisfazer vaidades, mas para cultivar liberdade, justiça e responsabilidade, onde cada alma floresça segundo o dom que lhe foi confiado.
Evangelium secundum Matthæum 18, 15–20, conforme a Vulgata
Titulus liturgicus: De correptione fraterna et potestate congregati
15 Si autem peccaverit in te frater tuus, vade, et corripe eum inter te, et ipsum solum: si te audierit, lucratus eris fratrem tuum.
Se teu irmão pecar contra ti, vai, repreende-o estando só contigo; se te escutar, ganhaste teu irmão.
16 Si autem te non audierit, adhibe tecum adhuc unum, vel duos, ut in ore duorum, vel trium testium stet omne verbum.
Se não te escutar, leva contigo ainda uma ou duas pessoas, para que pelo depoimento de duas ou três testemunhas toda palavra se confirme.
17 Quod si non audierit eos: dic ecclesiae. Si autem ecclesiam non audierit, sit tibi sicut ethnicus et publicanus.
Se também não os escutar, dize-o à comunidade. E, se nem à comunidade der atenção, considera-o como gentio e publicano.
18 Amen dico vobis, quæcumque alligaveritis super terram, erunt ligata et in cælo: et quæcumque solveritis super terram, erunt soluta et in cælo.
Em verdade vos digo: tudo o que ligardes na terra será ligado no céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu.
19 Iterum dico vobis, quia si duo ex vobis consenserint super terram, de omni re quamcumque petierint, fiet illis a Patre meo, qui in cælis est.
Outra vez vos digo: se dois dentre vós consentirem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, será feito para eles por meu Pai, que está nos céus.
20 Ubi enim sunt duo vel tres congregati in nomine meo, ibi sum in medio eorum.
Pois onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles.
Reflexão:
A delicada arquitetura das relações restaurativas modela-se no cuidado mútuo e na responsabilidade compartilhada. A confiança não se impõe, cresce a partir da escuta e do compromisso coletivo de corrigir com equidade. Quando as conexões são construídas em consenso, reforça-se o tecido cívico tecendo liberdade com expectativas claras. Esse agir articulado, que evita imposições autoritárias, fortalece a coesão mediante transparência. Reunir-se em nome de princípios comuns inclui ressoar os valores de dignidade e autonomia individual. Assim, promove-se uma comunidade viva, onde a autoridade decorre da responsabilidade consciente e da solidariedade ativa.
Versículo mais importante:
Do trecho de Evangelium secundum Matthæum 18, 15–20, um dos versículos mais centrais é o v. 20, pois resume a essência da presença divina ligada à comunhão entre pessoas:
20 Ubi enim sunt duo vel tres congregati in nomine meo, ibi sum in medio eorum.
Pois onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles.(Mt 18:20)
HOMILIA
Quando Dois ou Três Caminham Juntos
O Senhor nos revela que a verdadeira comunhão não se funda apenas na proximidade física, mas na consonância dos corações voltados para a luz. O caminho de reconciliação indicado por Ele não é mera norma disciplinar; é um itinerário de transformação interior. Ao chamar-nos a corrigir o irmão em discrição, convida-nos a respeitar sua dignidade, reconhecendo que cada alma é um universo em crescimento, e que o erro não apaga a essência luminosa que a habita.
A presença divina manifesta-se onde a liberdade é preservada e o diálogo sincero abre espaço para o encontro. Quando duas ou mais consciências se unem em verdade, cria-se um campo onde o humano e o divino se entrelaçam, e as decisões tomadas nesse espaço ressoam no céu. Essa ligação invisível é tecida pela confiança mútua e pelo reconhecimento do valor singular de cada pessoa.
Assim, a promessa “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” torna-se não apenas consolo, mas responsabilidade: sermos portadores dessa presença no mundo. Cada gesto de reconciliação, cada ato de escuta verdadeira, cada escolha pela integridade é um passo na ascensão interior que nos aproxima da plena comunhão com a Fonte. Nesse horizonte, a correção fraterna deixa de ser imposição e se torna um serviço ao despertar espiritual do outro, até que todos, juntos, possamos caminhar na luz que nos reúne.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação teológica e profundamente metafísica de Mateus 18:20, estruturada com subtítulos para clareza e fluidez.
1. O Centro Invisível da Comunhão
“Pois onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome…” não é uma promessa limitada pela quantidade, mas uma revelação da qualidade do encontro. O “meu nome” representa mais do que uma invocação verbal; é o símbolo vivo da consciência unificada na Verdade que Ele encarna. Estar reunido em Seu nome é alinhar pensamentos, intenções e corações ao eixo divino que sustenta todo ser. Nesse centro invisível, o eu isolado se abre ao nós transfigurado.
2. A Presença que Transcende Espaço e Tempo
“…ali estou eu no meio deles.” Não se trata de presença simbólica ou meramente afetiva, mas de uma manifestação real, ainda que suprassensível. É a irrupção do Cristo eterno no campo da relação humana, independentemente de fronteiras geográficas ou temporais. Onde a intenção é pura e voltada à luz, o espaço torna-se altar, e o instante, eternidade.
3. A Dinâmica da Consciência Coletiva
O versículo revela que a união consciente gera um campo espiritual intensificado. Dois ou três não são apenas indivíduos somados, mas polos que, em harmonia, formam um organismo vivo onde a graça pode fluir com maior plenitude. Essa união não anula a individualidade; antes, eleva-a, pois cada consciência, ao manter-se íntegra, contribui para a harmonia do todo.
4. Liberdade e Responsabilidade no Encontro
A presença divina não se impõe por coerção. É atraída pela liberdade que escolhe abrir-se à Verdade. O encontro “em meu nome” exige que cada participante se aproxime sem máscaras, sustentando a própria dignidade e reconhecendo a dignidade do outro. Esse tipo de comunhão exige maturidade interior, pois não busca poder sobre o próximo, mas unidade com ele.
5. O Entrelaçamento do Humano e do Divino
Quando dois ou três se reúnem com essa disposição interior, o humano e o divino não se separam, mas se entrelaçam como teia viva. Cristo, no meio, é o ponto de convergência e irradiação, onde as diferenças se tornam complementaridades e o amor se converte em princípio ordenador.
6. O Chamado à Comunhão Criadora
O versículo não é apenas constatação, mas convite: criar espaços, físicos ou interiores, onde o encontro seja fermento de transformação. Essa reunião é ato criador, pois onde Ele está, a vida se reorganiza, a consciência se expande e o mundo se aproxima do seu sentido último.
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